Pedro Brilhante
O PS vai a votos para escolher o seu candidato a Primeiro Ministro. Podia até ser essa a grande farsa – visto que votamos/elegemos os deputados ao parlamento e não o PM – mas existem outros pormenores que me fazem desacreditar das intenções desta tentativa de “abertura à sociedade”.
Comecemos pelo facto de nada disto ter sido planeado: Costa assumiu uma posição de ruptura, Seguro inseguro da sua liderança nega o congresso para eleger novo líder e “inventa” umas directas para escolher o cargo que (historicamente) sempre esteve destinado ao líder do partido. Pode parecer uma inovação, mas no fundo é um paradoxo. É que se Costa vencer fará algum sentido Seguro manter-se como líder do Partido? Fará sentido existir um candidato a PM e um Secretário-Geral que para além de distintos se defrontaram entre si, ficando o primeiro sem qualquer poder efectivo e continuando o segundo (mesmo saindo derrotado) como líder e porta-voz do partido? Quem define as políticas do partido, o líder (e a sua comissão politica) ou o seu candidato a PM? Quem faz oposição ao Governo? Qual dos 2 está legitimado a falar e a assumir compromissos em nome do PS?
Tudo isto nos conduz para a questão de fundo: é que só serão verdadeiras, estas directas, se tudo se mantiver na mesma e Seguro sair vencedor. Caso Costa vença, o que ganha verdadeiramente é a possibilidade de fazer o que tentou de início: tem de haver lugar a um congresso extraordinário para que se marque uma nova escolha de líder. Mas mesmo aí (e note-se o ridículo disto tudo) Seguro pode voltar à carga e candidatar-se novamente a líder contra Costa e pode mesmo haver outro qualquer candidato que vencendo ainda venha “baralhar” mais todo este processo.
Se analisarmos tudo isto de forma séria, constatamos facilmente que não passa de uma brincadeira. Uma triste brincadeira. Numa altura em que Portugal atravessa uma das mais difíceis fazes da sua História (infligida por este mesmo PS e pela irresponsabilidade da sua governação) e caso Costa vença, vão andar “a brincar aos Líderes” até perto de Fevereiro. Atitude reveladora e marcante da já habitual postura socialista. Quando o país mais precisa de consensos o PS mergulha-se em divergências e renuncia ao seu papel de equilíbrio na resolução dos verdadeiros problemas dos portugueses – “têm, evidentemente, mais que fazer”.