A ciência tem evoluído muito, seja ao nível do diagnóstico precoce, bem como no tratamento das doenças oncológicas, e ainda bem, porque os números de novos casos de doença têm aumentado no nosso país e na Europa.
Nesse sentido, a alimentação e o estilo de vida (a atividade física, o stress, o sono e parte espiritual) são elementos essenciais a ter em conta, e por si só, a alimentação e a nutrição são aliadas cruciais no sucesso do seu tratamento. Ou seja, um corpo bem alimentado, com a energia, os nutrientes e reservas necessárias, é fundamental para manter as células saudáveis, a funcionar eficazmente, e a robustez exigida para ultrapassar com menor dificuldade os tratamentos.
Por outro lado, sabe-se que a alimentação ajuda na gestão dos sintomas associados aos tratamentos, e em particular, a dieta mediterrânea pode aumentar as hipóteses de sobrevivência, por conter alimentos ricos em nutrientes e fitoquímicos (1,2,3,4,5,6).
A dieta mediterrânea é das dietas mais estudadas a nível mundial, tanto no contexto da promoção da saúde, como no contexto do tratamento da doença oncológica. Além disso, é apontada como um padrão alimentar extramente saudável, apesar das necessidades nutricionais específicas de cada pessoa, que devem estar presentes e estas necessidades dependem também da gravidade da doença. Um estudo realizado em 230 mulheres com diagnóstico de cancro da mama e de cancro ginecológico, concluiu que a dieta mediterrânea cumpre os requisitos para ser um aliado num melhor prognóstico após o diagnóstico da doença(1).
A importância do estado nutricional na doença oncológica
A ciência diz-nos que quando existe um diagnóstico de doença oncológica, as necessidades nutricionais e energéticas aumentam, por isso, mesmo antes do diagnóstico desta doença, o nosso corpo já se encontra em carência de energia e nutrientes. Por esta razão, um dos primeiros sintomas associados ao diagnóstico é uma perda de peso involuntária e inexplicável.
O que justifica isto acontecer relaciona-se um aumento do gasto de energia em repouso, ou seja, a energia necessária para manter os órgãos as funcionar (coração, pulmões, cérebro, intestino, etc.) acaba por ser maior. Neste contexto, como referido anteriormente, os déficits nutricionais e energéticos existem, por isso, quando há um déficit ou um excesso de nutrientes e outras substâncias alimentares, podemos desenvolver um mau estado nutricional (malnutrição), que fragiliza o corpo e pode comprometer uma série de funções essenciais à vida (7). Isto é particularmente importante quando estamos na “luta” de ultrapassar um cancro e as variadas etapas de tratamento, porque os tratamentos são agressivos, têm efeitos secundários (ex: cansaço, perda de apetite, náuseas, vómitos, obstipação, perda de massa muscular, entre outros.) e impacto no estado nutricional.
A perda de massa muscular durante os tratamentos, tem inúmeras consequências ao nível do sucesso dos tratamentos, dos efeitos secundários, da qualidade de vida e mesmo da sobrevivência (8,9,10). Por isso, é muito importante ir avaliando a massa muscular, para além do peso corporal.
Sabe-se também que a desvalorização dos vários “alertas” relativos ao estado nutricional pode ser alarmante, dado que a malnutrição tem impacto decisivo no prognóstico, podendo prejudicar o sucesso dos tratamentos (8). E assim que detetar uma perda de peso ou de apetite ou, mesmo que seja pouco significativa, deve procurar a ajuda de uma profissional da nutrição para ter apoio nutricional, porque será mais fácil prevenir ou tratar numa fase inicial a malnutrição do que quando já existe uma perda de peso considerável (11). Nesse sentido, os dados atuais mostram que a malnutrição é frequente nos doentes oncológicos, afetando 20 a 70% das pessoas que sofrem desta doença (8).
As consequências associadas à malnutrição com maior impacto na recuperação e na sobrevivência à doença oncológica são (8): aumento do risco de mortalidade; stress psicológico; redução do peso e da massa muscular; aumento da toxicidade dos tratamentos e, por isso, mais efeitos secundários; redução da qualidade de vida, associada à perda da capacidade física, aumento dos efeitos adversos do tratamento, dor, depressão e fadiga; diminuição da competência do sistema imunitário e aumento do número de infeções, por fragilização do organismo.
Conclusão, o apoio nutricional é muito importante ao longo do todo processo de tratamento, principalmente numa fase inicial, e neste contexto, o exercício físico adequado, também desempenha um papel decisivo para preservar o músculo, dado os ótimos benefícios clínicos.
Bibliografia consultada:
1-Karavasiloglou, N., Pestoni, G., Faeh, D., e Rohrmann, S. Post-Diagnostic Diet Quality and Mortality in Females with Self-Reported History of Breast or Gynecological Cancers: Results from Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III). Nutrients 11, 2558 (2019).
2-Rinninella,E. et all. The Facts about Food after Cancer Diagnosis: A Systematic Review of Prospective Cohort Studies. Nutrients 12,2345 (2020).
3- Ratjen, l. et al. Postdiagnostic Mediterranean and Healthy Nordic Dietary Patterns Are Inversely Associated With All-Cause Mortality in Long Term Colorectal Cancer Survivors. J. Nutr. 147, 636-644 (2017).
4-Beasley, J.M. et al. Post-diagnosis dietary factos and survival after invasive breast cancer. Breast Cancer Res. Treat.128, 228-236 (2011).
5-Van Blarigan, E.L. et al. Fat intake after prostate cancer diagnosis and mortality in the Pysicians Health Study. Cancer Causes Control CCC26, 1117-1126 (2015).
6- Van Blarigan, E.L. et al. Marine-3 Polyunsaturated Fatty Acid and Fish Intake after Colon Cancer Diagnosis and Survival: CALGB 89803 (Alliance). Cancer Epidemiol. Biomark.Prev. Publ.Am.Assoc. Cancer Res. Cosponsored Am. Soc. Prev. Oncol.27, 438-445 (2018).
7-National Research Council (US) Committee on Diet and health. Dietary Intake and Nutritional Status: Trends and Assessment. Diet and Health: Implications for Reducing Chronic Disease Risk (National Academies Press (US), 1989)
8-Arends, J. et al. ESPEN expert group recommendations for action against cancer-related malnutrition. Clin. Nutr.Edinb.Scott.36, 1187-1196 (2017).
9- Ligibel, J.A. et al. American Society of Clinical Oncology Position Statement on Obesity and Cancer. J. Clin. Oncol. 32, 3568-3574 (2014).
10- Stanisavljevic, N.S., e Marisavljevic, D.Z. Weight and body composition changes during R-CHOP chemotherapy in patients with non-Hodgkin´s lymphoma and their impact on dose intensity and toxicity. J.BUON Off. J.Balk. Union Oncol. 15, 290-296 (2010).
11-Laviano, A., Lazarro, L.D., e Koverech, A. Nutrition support and clinical outcome in advanced cancer patients. Proc.Nutr. Soc.77, 388-393 (2018).
Elaborado por:
António Cordeiro
Nutricionista
CP:0728N