A Solidariedade

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Em 1912 foram constituidas, no País, seis Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, a saber, por ordem cronológica: Ourém, Dafundo, Pombal, Faial (nos Açores), Vila do Conde e Carnaxide. A 15 de Maio de 2011 assinaram um Protocolo de Geminação de onde, entre outros pontos, retiramos que: “Com o pretexto formal do centenário, que se comemora em 2012, mas com o sentimento firme do muito que as une, as associações decidem estabelecer este protocolo que expressa a vontade de todas as partes em colaborarem solidariamente para o bem estar dos seus bombeiros, para melhorar as condições associativas de cada uma e a capacidade intrínseca de resposta às suas missões humanitárias, bem como para actuarem de modo solidário nas acções e projectos que cada uma entenda por bem levar a cabo”. E mais à frente escreve-se no Protocolo que: “As associações colaborarão de acordo com as suas disponibilidades através, entre outros, dos seguintes meios: Apoio, companheirismo e acolhimento aos bombeiros de cada uma das associações, quando se encontrarem em território sob a responsabilidade de cada uma das outras associações”. No passado Domingo, dia 9 de Março, um acidente estupido, como são todos os acidentes, roubou a vida a um Bombeiro da Geminada do Faial e deixou outro em estado grave. Foi dando cumprimento ao clausulado no Protocolo de Geminação que, na Segunda-feira, dia 10, as cinco Geminadas do Continente decidiram, emotivamente, dar a sua mão àquele irmão fragilizado. Vejamos a cronologia.

Pelas 10 horas da manhã, nove nos Açores, do dia 10, o Presidente da Direcção da Geminada de Pombal telefonou ao Presidente da Direcção do Faial, Hélio Pamplona, a solidarizar-se com a sua dor e a disponibilizar-se para dar toda a ajuda necessária. Dada a fragilidade com que lhe pareceu ter o Corpo de Bombeiros, nas palavras do Presidente Hélio Pamplona, disponibilizou-se para contactar as restantes Geminadas no sentido de enviarmos, para o Faial, Bombeiros tecnicamente preparados e com experiência a fim de libertar os efectivos do Corpo de Bombeiros do Faial da sua missão de socorro. O Presidente Hélio Pamplona disse-lhe que teria que consultar o seu Comandante. Cerca das 12 horas, do dia 10, o Presidente da Geminada de Pombal falou com o Comandante Álvaro Melo que lhe foi dizendo que não se incomodassem que já tinha chamado os Bombeiros que estavam de folga e que iria resolver a prestação do socorro às populações com os próprios meios. O Presidente da Geminada de Pombal insistiu, alegando que o Protocolo de Geminação tem que funcionar para os momentos bons, mas também para os momentos maus. Pareceu ao Presidente da Geminada de Pombal que estava perante uma fragilidade e foi dizendo ao Comandante Álvaro Melo que iria contactar as restantes Geminadas para recolher as suas opiniões. Assim, contactou as outras cinco Geminadas, nas pessoas dos seus Presidentes. De Ourém Carlos Alvega, do Dafundo Armando Soares, de Vila do Conde Abel Maia e de Carnaxide Fernando Curto. Todos se disponibilizaram para ajudar, fraternalmente, aquela Geminada a ultrapassar aquele momento mau. Decidimos rapidamente, como fazemos nos períodos em que necessitamos de ajuda, pedindo às congéneres para nos apoiar. Sem hesitar, cada Corpo de Bombeiros disponibilizou um TAS para seguir para o Faial. O empenhamento foi total. Gerou-se um movimento de solidariedade entre os irmãos geminados de forma que às 15 horas do dia 10 já tínhamos as passagens marcadas para o Faial no voo das 8 horas da manhã do dia 11. Seguiram para o Faial, em missão humanitária, o Sub-Chefe Nuno Paulino de Ourém, o Bombeiro de 1ª Edgar Cassamo do Dafundo, a Bombeira de 1ª Helena Silva de Pombal e o Bombeiro de 1ª Francisco Ferreira de Vila do Conde. O funeral do Bombeiro realizou-se no dia 12. Todas as seis Associações se conhecem, assim como os efectivos dos seus Corpos de Bombeiros. As Geminadas do Continente tomaram esta decisão na certeza de que estavam a fazer o seu melhor para com o seu irmão fragilizado e só, nesta hora de luto e de dor. Foi a solidariedade fraternal a funcionar, no seu melhor. Muito gostaríamos nós de ver a solidariedade a funcionar assim entre os nossos governantes e os governados.
O País estaria melhor e mais solidário.

Rodrigo Marques