As carraças são parasitas externos que necessitam de um hospedeiro para se reproduzirem e sobreviverem. No seu ciclo de vida passam por 4 fases: ovos, larvas, ninfas e adultos. Obtêm o seu alimento do sangue de vertebrados como o ser humano, cães, aves ou outros. Quando as carraças estão infetadas por bactérias como a Rickettsia conorii e picam o seu hospedeiro podem transmitir infeções como a Doença de Lyme ou a Febre Escaro-Nodular, o que vulgarmente é conhecido por “Febre da Carraça”, as quais podem ser graves.
Estes animais estão ativos todo o ano, mas principalmente desde o início da primavera até ao fim do outono. Com este pequeno texto pretendemos alertar para os sinais e sintomas da picada da carraça, como prevenir a mesma e como agir caso ela ocorra.
A picada da carraça e ingestão de sangue são indolores e passam facilmente despercebidas. No local da picada pode surgir uma infeção local ou uma reação alérgica. Nos 3 a 7 dias seguintes à picada a pessoa pode notar sintomas semelhantes aos de uma gripe como febre, perda de apetite, dor de cabeça, dores musculares e cansaço ou ainda lesões na pele.
A melhor ação contra as carraças é a prevenção de contacto. Quando faz atividades ao ar livre deve: utilizar roupas claras para conseguir visualizar e remover as carraças mais facilmente; reduzir a pele exposta usando mangas compridas, calças compridas com meias por cima das mesmas e calçado fechado; usar um repelente com Dietiltoluamina (DEET), evitando colocar nas mãos, olhos e boca; caminhar por trilhos definidos, evitando zonas arborizadas densas e erva alta. As carraças são pequenas e podem ser confundidas com sinais da pele, pelo que ao chegar a casa é fundamental que inspecione cuidadosamente o corpo para verificar se ficou com alguma carraça fixa. Procure bem em todas as áreas, incluindo zonas menos acessíveis visualmente como nas axilas, atrás das orelhas, espaços entre os dedos, no umbigo, atrás dos joelhos ou nas virilhas. Lembre-se de inspecionar também o seu animal de estimação, caso ele o tenha acompanhado nas atividades ao ar livre.
Caso verifique ter uma carraça, e se tiver oportunidade, deve dirigir-se ao seu Centro de Saúde para que um profissional de enfermagem a remova com a técnica adequada e a envie para ser estudada em laboratório. Caso tenha de ser a própria pessoa a retirar a carraça são estes os passos: utilize uma pinça de pontas finas ou uma ferramenta própria de remoção de carraças ou prenda a carraça entre o polegar e o indicador utilizando algodão, papel ou luvas, para evitar o contacto direto com a pele; segure a carraça o mais próximo possível da pele e não na parte mole da carraça; rode e puxe com firmeza para que a carraça se solte, uma vez que peças bucais que fiquem na pele podem causar infeção local; limpe a área da picada com água e desinfetante; coloque a carraça extraída viva num recipiente disponível e entregue-a no seu Centro de Saúde para que seja enviada para análise; lave muito bem as mãos após a remoção e manipulação da carraça.
Nos dias seguintes à picada esteja atento: se no local da picada desenvolver uma erupção circular vermelha ou se começar a sentir sintomas do tipo gripal, deve contactar o seu médico ou ligar para o SNS 24 – 808 24 24 24. Neste contacto, informe que realizou atividades ao livre e que foi picado por uma carraça.
Esperamos que com esta informação possa disfrutar do bom tempo ao ar livre e realizar os seus trabalhos habituais no campo de forma mais segura e saudável.
Autoras:
Cláudia Reis Silva (à direita), médica interna de Medicina Geral e Familiar na USF São Martinho de Pombal
Janete Guimarães (à esquerda), médica interna de Medicina Geral e Familiar na USF Marquês