As vozes da terra

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O Dia Mundial da Rádio é celebrado desde 2012 no dia 13 de Fevereiro. A data foi declarada pela UNESCO no ano anterior e as razões para a sua escolha prendem-se com o dia 13 de Fevereiro de 1946, em que a United Nations Radio emitiu pela primeira vez um programa em simultâneo para seis países. Passado à parte, ainda não há como imaginar um planeta sem rádio. No carro, no trabalho ou em casa, através de um aparelho à antiga ou de outro gadget mais moderno, a verdade é que actualmente até pela televisão podemos sentir-nos acompanhados por quem está do lado de lá do microfone. Quem não se riu logo pela manhã ao ouvir um programa humorístico a caminho do escritório? E que pais não se deliciam ao ouvir os filhos acompanhar o cantor naquela música, no regresso a casa? Quantas conversas não começaram pela frase “Ouvi hoje na rádio uma notícia”… O Pombal Jornal não quis deixar passar a oportunidade de assinalar a data, pelo que desafiámos três vozes marcantes de rádios locais bem conhecidas da região a falar um pouco da sua experiência.

Rádio Clube de Pombal

José Manuel Carraca integra o departamento de informação da Rádio Clube de Pombal (RCP) e declara que “apesar de não ter sido indigitado para isso, penso que os responsáveis pela 97FM me consideram como líder dessa área. Talvez por ser o mais velho na idade e actualmente, o mais antigo na estação”. Está naquela rádio desde a sua fundação, mas “a tempo inteiro, desde há cerca de dez anos”. Do início da história da emissora, recorda “a forma como foi criado o RCP, então com a categoria de ‘pirata’, num estúdio improvisado, com uma porta a servir de mesa, em casa dos pais do Miguel Valentim e do irmão Rui”. O jornalista relembra ainda as “entrevistas, todas as noites, a presidentes de Câmaras Municipais do norte do distrito de Leiria, a presidentes das Juntas de Freguesia do concelho de Pombal e a muita gente ligada ao desporto, como dirigentes, árbitros, treinadores ou atletas”. Na sua opinião, “foram apostas muito válidas, que credibilizaram esta estação”. A rádio de antigamente primava pela “ausência de alta tecnologia”, o que “permitia que se cometessem alguns lapsos. Trabalhava-se com discos de vinil e cassetes e por vezes, o disco estava riscado, o microfone não era desligado a tempo… enfim, coisas que, neste momento, raramente acontecem, dada a excelente colaboração do computador”. Segundo José Manuel Carraca, “agora é mais fácil, embora se deva realçar o que era feito antigamente, de forma muito amadora, é certo, mas que criou, em todos os que passaram pelo RCP nessa altura, uma experiência enorme”. No que à actualidade diz respeito, “perante a situação de verdadeira crise que o país atravessa e que toca a todos nós, rádios como a 97FM têm que ir fazendo pela vida, sempre na esperança de que melhores dias surgirão”, afirma, avançando que “a actual situação faz com que não seja possível investir em jovens que, ensinados, moldados (e, neste pormenor, a 97 fm ensinou e moldou muitos e bons), poderiam ter futuro numa estação de rádio. Mas e que lhes dá a estação em troca? Agora, já não há o amor à camisola”. Quanto a si, diz que “trabalhar nesta rádio é importante porque não estou parado, sei que tenho responsabilidades e é aliciante, embora seja um jornalista de jornal”. No entanto, feita a adaptação ao formato, “aqui estou, fazendo o melhor que posso e sei, de forma responsável, convicto de que sou mais um a contribuir para que a informação que se vai fazendo, no concelho de Pombal, continue a ser respeitada”.

Nomes que marcaram a história da Rádio Clube de Pombal – Miguel Valentim, Rui Valentim, Paulo Godinho, Paula Alexandra (já falecida), Marta Reis, Teresa Cardoso, Joaquim Eusébio, Tozé Aguiar, Carlos Almeida, Ramiro Gameiro, Fernando Sotta, são alguns dos nomes apontados por José Manuel Carraca, “entre muitos outros que deram uma ajuda preciosa para o engrandecimento da estação”.

Programas marcantes da história da Rádio Clube – A Melga no Quarto; Do Minho ao Algarve; Pombal em Festa; Tudo em Pijama; Miscelânea Musical; Uma Hora de Fados; Carapaus do Arunca; Clube Desportivo.

Rádio Cardal

Quando se fala de rádio em Pombal, o seu nome surge naturalmente. Gonçalo Santos é radialista na CardalFM desde 1996 mas antes emprestou a sua voz à Rádio Clube de Pombal, onde esteve desde 1991. Conhecedor da história da Rádio Cardal, recorda o “excelente trabalho que era feito com meios escassos e quase rudimentares”, no final da década de 80 e no início dos anos 90. “Em termos de conteúdos, a CardalFM foi pioneira nos anos 90, entre as rádios locais, em formatos que ainda agora são fortes apostas de emissoras nacionais, tais como crónicas humorísticas, forte aposta na música dos anos 80, alternativa e uma playlist com os mais recentes hit’s do panorama musical nacional e internacional”. Além disso, refere a “forte aposta num programa de desporto, como nenhuma rádio da região de Leiria alguma vez conseguiu igualar, como é reconhecido por todos”. Olhando para trás, Gonçalo Santos afirma que “nos últimos 30 anos as diferenças são essencialmente técnicas e na maneira como os comunicadores interagem com o ouvinte”. Na sua opinião, “a diferença está claramente nos profissionais, colaboradores e comentadores escolhidos”, uma vez que uma boa ideia executada sem “profissionalismo e talento” não obtém sucesso. “Essa deve ser a aposta para diferenciar projectos: aposta nos melhores, mais profissionais, trabalhadores e talentosos, tendo sempre em conta que as rádios locais têm um raio de acção muito mais limitado, estão inseridas em meios geralmente mais pequenos e com orçamentos mais baixos”. Para contornar esta situação, Gonçalo Santos defende que “a aposta clara das rádios locais, agora e sempre, tem de passar por estar ainda mais perto das pessoas. Elas existem para dar voz àqueles que não a têm num outro meio de comunicação social nacional, meios que de resto, e quanto a mim, estão a afastar-se cada vez mais do povo”. É por este motivo que sublinha a importância do papel destas emissoras para “que em cada região as pessoas estejam atentas ao que as rodeia, informá-las, ajudá-las a divulgar as suas iniciativas. Se não o fizerem de todo, não têm razão de existir”. Em jeito de conclusão, refere que “a conjuntura não pode servir de desculpa, como está a servir, para que o Estado permita através da Lei que as rádios locais sejam vendidas aos grandes Grupos nacionais que acabam por destruir aquele que é nalguns casos, o único meio que algumas pessoas têm de ligação à sua terra”.

Curiosidades – Destaque para o segundo lugar que a Cardal FM, com os Jornalistas Luis Costa e Mário Freire, conseguiu alcançar no Concurso do Governo Civil com uma reportagem sobre prevenção Rodoviária. | O Governo Civil e Município de Pombal fizeram um agradecimento público pelo trabalho de reportagem feito em directo por todos os profissionais da Rádio Cardal aquando dos incêndios de 2005 e cheias de 2006, “um trabalho de serviço público que sempre fizemos e que continuaremos a fazer, porque essa é uma das principais razões da nossa existência”.

Nomes marcantes da história da Rádio Cardal – Fernando Graça, Luís Costa, Isilda Adelaide, Jorge Cordeiro, Sérgio Ventura, Filipe Sá e Mário Freire (actualmente jornalista da Cardal). Gonçalo Santos refere também “os mais recentes e actuais colaboradores da Cardal FM com os projectos mais variados e a quem a rádio estará obviamente sempre grata, Vitor Varela, Paulo Ramos, Cid Ramos, Carlos Matias, Gilberto Carrasqueira, Janine Gonçalves, Markez 236 e muitos outros que estiveram connosco num passado recente e que voltarão a estar em breve com novos projectos na nova grelha que está a ser preparada”.

Programas marcantes da história da Rádio Cardal – Programas de Informação Regional, dirigidos por Luís Costa e Mário Freire; Os Dois Devem Estar Loucos, com João Melo Alvim e Edgar Domingues; Já tocou, com Luís Catarro e Karina Guergous; Com Sal e Pimenta, com Carla Mariza, Inês Falcão, Catarina Trocado, Karina Guergous e Rita Leitão; Espaço dedicado a música de dança com Dj’s residentes: DJ NS, DJ Pedro G, DJ Angel e DJ Smash Zouk.

O Padre Armando Duarte assume o cargo de presidente da direcção da Rádio Vida Nova, em Santiago da Guarda, concelho de Ansião, desde a sua fundação. Há 26 anos que aquela emissora local foi fundada por “vários representantes de paróquias e outras entidades do arciprestado de Ansião, sacerdotes e leigos”, recorda o presidente, frisando o “empenho especial” da paróquia de Santiago da Guarda. Desde então, muita coisa mudou e as diferenças são notórias: “Os recursos, a tecnologia e a abrangência” são as mais marcantes, a par da “passagem do vinil à digitalização”. Na opinião do sacerdote, apesar das dificuldades que a actual conjuntura apresenta, “a rádio continua a ser companhia, a proporcionar encontro, a estabelecer relações, e a desenvolver a comunicação entre as pessoas”. Para ultrapassar esses obstáculos, o director acredita que a atitude correcta seria apostar na “criação de protocolos de cooperação” e na “afirmação como verdadeiro serviço público regional, insubstituível”, bem como na “relação de proximidade, apoio às colectividades e entidades regionais”. Do seu ponto de vista, “este é um serviço que mais ninguém fará, e como tal deveria ser reconhecido”.

[box] Curiosidades – A Rádio Vida Nova deu um contributo fundamental para o associativismo radiofónico, sendo co-fundadora da ARIC – Associação das Rádios de Inspiração Cristã, com papel activo na sua direcção; Indirectamente, permitiu a criação da VOX – Associação Mundial das Rádios de Inspiração Cristã de expressão Portuguesa, e continua a dar-lhe actualmente um apoio essencial.

Programas mais marcantes da história da Vida Nova – Você pode ser feliz; Por Mares Nunca dantes Navegados; Igreja de Coimbra a caminho. O passatempo na emissão de Pulsar da Sicó (entre as 9 e as 10) e os discos pedidos são os que têm maior feedback actualmente.