DINA SEBASTIÃO: “A relação poder-contrapoder é um pilar da democracia municipal subaproveitado”

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O grande vencedor destas eleições autárquicas 2021 em Pombal foi o movimento Oeste Independentes, pela eleição de um deputado para a Assembleia Municipal (AM). A eleição de Luís Couto dos Santos, pelo Oeste Independentes, relembrou-nos que a relação poder-contrapoder é um pilar da democracia municipal subaproveitado. Contra o que o cabeça de lista do PSD à Assembleia Municipal insinuou no debate na 97fm, mesmo sem se ter um projeto de governação autárquica, pode ter-se bem definidas prioridades e uma ideia estratégia para o município que legitima e democraticamente se queira exercer num órgão escrutinador e fiscalizador do poder executivo. A eleição de um representante do OI revelou também um eleitorado do Oeste dinâmico, que parece escapar à homogeneidade sociopolítica do eleitorado pombalense.
A lista candidata do PS à Assembleia Municipal conseguiu recuperar dois deputados relativamente às eleições anteriores. Apesar de não ter recuperado os 8 lugares que já teve em 2013 e 2009, o resultado pode não valer por estas eleições, mas pelas próximas. Com implícita intenção de renovação dentro do partido, a forma e dinamismo estratégico observado durante a campanha, que se destacou da candidatura à Câmara Municipal, diz-nos que aguardemos expectantes que esse dinamismo prossiga numa oposição e fiscalização ativa na Assembleia Municipal. Lamenta-se que o BE tenha perdido representação, acima de tudo pelo excelente desempenho da candidata Lina Coelho.
De resto, na Câmara, Pedro Pimpão confirmou a constância sociopolítica do concelho, apesar de só ter capitalizado cerca de 2000 votos dos cerca de 6000 do NMPH. Parece que os restantes se terão diluído pelo Chega e Iniciativa Liberal, e pelos indecisos, expressos nos brancos, que foram a terceira votação e que indiciam que para muitos dos eleitores que poderiam oscilar ao centro, Odete Alves pelo PS não se apresentava como alternativa a Pimpão. Na votação para as freguesias, o PSD mantém o largo domínio, pelo que foi visível nos vários debates realizados, não tanto por mérito próprio, mas por falta de alternativa, retirando algumas boas exceções. Destaca-se a manutenção de Gonçalo Ramos, agora como independente, na União de Freguesias da Guia, Ilha e Mata Mourisca, e do PS na Redinha, a lembrar que o povo pune quem vem com sede de regressar ao poder, a contornar a limitação de mandatos. O PSD poderia ter aprendido com a lição do NMPH.

Dina Sebastião
Professora/Investigadora – Estudos Europeus (Ciência Política)

*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 30 de Setembro