Vivemos uma época extremamente desafiante a vários níveis.
Comecemos pelo contexto. Estes últimos tempos de confinamento têm um impacto significativo na nossa saúde mental e geram comportamentos que, apesar de não raras vezes serem feitos em jeito de desabafo, criam barreiras e deixam marcas.
Vários estudos atestam isso, como por exemplo, a investigação realizada pela Universidade de Oxford e publicada em The Lancet Psychatry Journal que nos revela que a “população infetada com covid-19 tem um risco acrescido de desenvolver doença ou perturbação mental nas semanas que se seguem à recuperação” ou o estudo promovido ainda numa fase inicial desta pandemia pelo Instituto de Psicologia Clínica e Forense que concluiu que «quase metade dos portugueses (49,2%) sentiu um impacto psicológico “moderado a severo” e o que mais sentiram foi sobretudo depressão, ansiedade e stress.»
Ora, esta nova realidade deve merecer a nossa maior preocupação porque se o confinamento contribui (e bem) para a redução do número de contágios e essa tem que continuar a ser a prioridade porque o nosso SNS está à beira da ruptura, urge começarmos a pensar num conjunto de respostas para ajudarmos as pessoas a superar – com o menor número de mazelas – esta fase tão exigente nas nossas vidas.
Este contexto pode ajudar a explicar alguns posicionamentos que vamos assistindo na “praça pública”, nomeadamente, por intermédio das redes sociais que vão sendo cada vez mais frequentadas neste período de confinamento… mas não explica tudo!
Nesta conjuntura extremamente exigente, realizaram-se as eleições presidenciais cuja análise sociológica dos resultados dava pano para mangas.
Uma coisa é certa, contra os radicalismos de esquerda ou de direita, ganhou, de forma clara e inequívoca, o candidato com mais bom senso e moderação, evitando entrar em guerras estéreis e não alimentando extremismos ideológicos que a história já nos mostrou nunca darem um bom resultado.
E isto pode ser um bom exemplo para muito boa gente que, no exercício de funções de responsabilidade faz gáudio de puxar dos seus galões para tomar decisões implacáveis, ser defensor de uma só verdade, alimentar conflitos e ter uma atitude autoritária, assumindo uma liderança unipessoal que gera dependência mas não mobiliza uma comunidade.
Ora, já vimos que os tempos agora são outros e que estas atitudes, fruto dos ensinamentos da história, já não caem bem à maioria da população.
Contudo, existe ainda uma franja do nosso eleitorado que, muitas vezes cedendo ao facilitismo/populismo e alinhando em algumas posturas demagógicas (que, normalmente, surgem com maior afinco em períodos pré-eleitorais), se deixa encantar pelo canto de sereia e se deixa seduzir por quem já mostrou estar mais empenhado em dividir do que a unir.
Ao longo da minha vida sempre mantive uma atitude que tento que seja de moderação e bom senso, na certeza que devemos respeitar os contributos de todos, independentemente da sua proveniência.
Contudo, não posso nem devo pactuar com nenhum tipo de radicalismo ideológico que contribua para dividir ainda mais a nossa sociedade e que coloque em causa os princípios e os valores em que assenta o nosso Estado de Direito Democrático.
A liberdade deve ser exercida com responsabilidade! Temos que defender a democracia com unhas e dentes, percebendo que esta deve adequar-se aos novos tempos e ser exercida de uma forma cada vez mais inclusiva, próxima e envolvendo de forma genuína os cidadãos nos nossos desígnios colectivos, aproximando efectivamente eleitos de eleitores!
Está na hora dos guardiões da democracia, em termos nacionais e locais, recorrerem às armas que têm à mão para servir melhor as pessoas: a proximidade e a humildade, utilizando-as no exercício dos seus mandatos que devem estar cada vez mais alicerçados em valores humanos e cerrando fileiras em torno da concretização de um ideal de Abril que ainda está por cumprir: o da prosperidade económica e da coesão social!
Um forte abraço amigo,
Pedro Pimpão
pedropimpao@gmail.com
*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 11 de Fevereiro