CARTAS POMBALINAS | Natalidade, envelhecimento e o ideal de felicidade

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O último fim-de-semana foi muito rico em atividades organizadas no âmbito do dia mundial da criança, cujo espírito positivo e entusiasmo não deixa ninguém indiferente. Falar de crianças é falar de futuro, daí que, face à nossa realidade demográfica, seja muito importante que nos possamos debruçar sobre o que devemos fazer para garantir ou salvaguardar o futuro da nossa comunidade.
Nesse espírito de reflexão, esta semana, a nossa Misericórdia organiza um interessante congresso sobre os desafios do envelhecimento da população, numa partilha multidisciplinar de perspetivas que considero muito importante porque a nossa sociedade está a envelhecer acentuadamente e é preciso abordar qual o caminho a seguir.
Neste campo, os dados dizem-nos que Pombal tem quase 13 mil idosos com mais de 65 anos (1/4 da população do concelho), incluindo 1852 idosos com mais de 85 anos (dados de 2017). No entanto, a questão não é tanto o número de pessoas idosas, mas sim a dependência de idosos, ou seja, o nº de idosos por cada 100 pessoas ativas.
Em Pombal há 38 idosos por cada 100 pessoas ativas. Em Portugal é 33. Na Europa, o índice de dependência de idosos ((65+(15-64)) deverá passar de 27,8 em 2013 para 32,1% em 2020, atingindo 46,1% em 2040.
Estes dados também devem ser relacionados com o facto de sermos um dos países europeus com maior esperança de vida. Contudo, é dos países europeus com menor esperança de vida saudável. Ou seja, as pessoas vivem mais anos, mas menos anos saudáveis.
Em Portugal, um homem tem uma esperança de vida saudável 7,9 anos após os 65 anos e uma mulher 6,7 anos (dados de 2017). Na Suécia, que tem uma esperança de vida à nascença semelhante à nossa, têm uma esperança de vida saudável após os 65 anos de 15,9 anos, quase o dobro!
Esta situação deve-se a comportamentos e estilos de vida durante toda a vida, por isso é que devemos também apostar em iniciativas que promovam um envelhecimento ativo e saudável da nossa população, numa estratégia integrada que deve começar quando a pessoa nasce e acompanhá-la durante todo o seu percurso de vida.
Este elevado índice de dependência de idosos mostra-nos que se a segurança social está mal agora, ficará ainda em piores lençóis no médio prazo, por isso é que precisamos urgentemente de crianças. Pombal tem 6330 crianças com menos de 15 anos – quase metade do número de idosos – e apenas 1745 crianças com menos de 5 anos (estimativas do INE, 2017). Em média, nascem em Pombal cerca de 357 crianças por ano (entre 2011 e 2018), registando-se um crescimento ligeiro desde 2016, ano em que se registaram apenas 331 nascimentos.
Ainda na semana passada tive a oportunidade de assistir a uma iniciativa interessante promovida pelo Rotary Clube de Pombal que se debruçou precisamente sobre estas matérias da parentalidade, derrubando mitos e apontando caminhos que ajudem os jovens casais nesta importante fase das suas vidas.
Para além disso, é desde tenra idade que temos que começar a atuar, promovendo a partilha de conhecimentos e saberes em iniciativas que aliem a irreverência dos mais novos à sabedoria dos nossos idosos.
Em cada percurso de vida, para além dos cuidados com a saúde física e mental, urge também valorizar o campo ético e os valores. Ora, quando olhamos para as nossas crianças a única coisa que queremos é que sejam felizes e que essa felicidade se estenda a toda a sua vida, daí que temos que acompanhar Aristóteles que, no seu livro “Ética a Nicómaco” referia que “ser feliz é o projeto fundamental da vida humana!”.
Nestes termos, unamos esforços e contribuamos de forma determinada e entusiasta para um ideal de felicidade que será, numa primeira linha, individual e que naturalmente contagiará de forma positiva toda a sociedade, porque “a melhor forma de sermos felizes é contribuir para a felicidade dos outros”.

Pombal, 6 de junho de 2019

*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 6 de Junho

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Pedro Pimpão é natural de Pombal, tem 36 anos, é casado e tem dois filhos. É advogado de profissão e actualmente desempenha as funções de deputado à Assembleia da República, tendo sido eleito pelo círculo eleitoral de Leiria. É Presidente da Assembleia de Freguesia de Pombal, membro da Assembleia Municipal de Pombal e membro da Assembleia Intermunicipal da Região de Leiria. É licenciado em Direito pela Universidade Coimbra, contando com Pós-Graduações em Direito Administrativo, Gestão Autárquica, Direito dos Contratos Públicos e Direito Municipal Comparado Lusófono. É Mestrando em Ciência Política pelo ISCSP – Universidade de Lisboa.