A Doutorada em História, Catarina Costa, que residiu em Pombal durante a sua juventude, vai apresentar no sábado, na Biblioteca Municipal, o seu livro “Moçambique: o sonho de uma nação”. A obra resulta de um trabalho distinguido pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e que levou a autora a passar quase cinco anos em Moçambique “na descoberta de locais e de testemunhos orais que permitiram o carácter vivo e acutilante deste livro”.
Na obra, o leitor descobre “o papel do Instituto Moçambicano, que ao longo de uma década de guerra entre Portugal e as forças da FRELIMO soube fomentar e manter uma onda de solidariedade alargada para com as vítimas do conflito, nas zonas que iam sendo paulatinamente libertadas do domínio colonial, permitindo, no limite, a sobrevivência da população.” “Mas o trabalho que o Instituto Moçambicano desenvolveu acabou por ajudar a FRELIMO na concretização de um sonho ainda mais abrangente: a construção de um estado social livre e moderno”, adianta.
Num tom acessível, de travo literário que não perde de vista a exigência científica, o livro “transporta-nos para esses dias de luta e de esperança, de avanços e recuos, nos bastidores da construção do edifício da independência”, lê-se na sinopse, acrescentando que “esta é a história de todos esses homens e mulheres, outrora crianças, lutadores, comprometidos de corpo e alma com algo que desde o início sabiam ser maior do que eles próprios: o sonho de uma nação.”
Catarina Costa residiu em Pombal entre os seus 12 e 19 anos, tendo-se envolvido numa “série de actividades políticas e radiofónicas”, ao integrar a Juventude Comunista Portuguesa (JCP) e o Rádio Clube de Pombal. Depois rumou a Braga, em cuja Universidade do Minho se licenciou em História, e a Lisboa onde tirou o Mestrado em História das Relações Internacionais, no ISCTE.
“Durante a minha vida tive oportunidade de voltar a Pombal para retemperar energias, projectar novos caminhos e foi daqui que parti para Moçambique, onde vivi durante cinco anos de forma levar a cabo o trabalho de campo que conduziria à minha tese e onde tive oportunidade de dar aulas em duas universidades locais”, refere.
A sua tese de Doutoramento em História, agora publicada em livro, visa dar a conhecer “uma organização praticamente desconhecida da historiografia contemporânea: o Instituto Moçambicano”, reposicionando-o como o “braço social” da FRELIMO, “cujo desempenho permitiu ao movimento de libertação moçambicano uma actuação eficaz na resposta às necessidades mais básicas da população que teve sob sua responsabilidade ao longo do período de toda a guerra de libertação do país”, conta.
Segundo a nova Doutora em História, o Instituto Moçambicano veio-se a revelar, ao longo de toda a sua investigação, “como uma das organizações mais importantes dentro da Frente de Libertação de Moçambique”, já que “através da sua obra no terreno, mas sobretudo de uma estratégia ampla e concertada de angariação de fundos de ajuda humanitária ao nível internacional, a que a sua condição de independência formal relativamente à Frente permitia aceder, facultava a esta os apoios necessários para colocar em andamento um projecto que mimetizou um verdadeiro Estado Social.”
“Abrangendo, sobretudo, as áreas da educação e da saúde, respondeu às necessidades de uma população que, em 1974, ascenderia, segundo uma estimativa interna da FRELIMO, a um milhão e duzentos mil beneficiários, repartindo-se entre refugiados moçambicanos na Tanzânia, e os habitantes das zonas que iam sendo paulatinamente libertadas no território de Moçambique, e que ficavam sob responsabilidade da FRELIMO”, afirma.
*Notícia publicada na edição impressa de 20 de Junho