O processo demorou mais de nove meses e duas cirurgias de 10 horas para que a equipa liderada pelo médico João Freitas, natural do Louriçal, evitasse a amputação da perna de Hirundino Correia. O resultado da intervenção, inédita no mundo, foi um sucesso e o doente já teve alta.
“Tratava-se de uma caso complexo de infecção periprotésica em prótese total da anca de revisão, com perda de osso associada, grande limitação funcional e dor, num homem de 66 anos, após 12 anos de sofrimento com fístulas activas”, explica o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), em comunicado enviado à agência Lusa, no passado dia 31 de Julho.
Segundo esta unidade hospitalar, “situações deste tipo, normalmente, têm de ser tratadas com recurso a amputação de todo o membro ou, em alternativa, manter uma atitude de vigilância e incómodo para o doente”. A alternativa proposta decorreu da experiência acumulada no “tratamento de casos de cancro ósseo ou das neoplasias músculo-esqueléticas, com recurso à excisão dos tecidos afetados (retirada de todos os tecidos com doença maligna) e substituição por uma endoprótese (prótese interna), cirurgia conhecida a nível científico pela denominação de horrendoplastia”.
A intervenção, altamente complexa, implicou a excisão completa de metade da pélvis e da totalidade do fémur e a sua posterior reconstrução com uma “megaprótese de hemipelvis e fémur total, concebida e produzida especificamente para o caso clínico em questão”, explica a mesma nota do CHUC.
Nas declarações prestadas ao canal televisivo SIC, João Freitas, o médico ortopedista e traumatologista, natural do Louriçal e que chefiou a equipa cirúrgica, destaca o recurso a técnicas utilizadas “em termos de cirurgia tumoral”, adaptadas a “uma situação de infecção, em torno de uma prótese com vários anos, com perda de osso, em que a solução, à luz da medicina actual, era amputar para resolver”. João Freitas esclarece, ainda, que as novas próteses são cobertas a prata, material mais resistente às infecções. Apesar de considerada extremamente agressiva para o paciente, o clínico sublinha que a técnica utilizada foi a única forma encontrada para salvar o membro.
A cirurgia foi realizada em Outubro de 2018, no Serviço de Ortopedia do CHUC, que é Centro de Referência naquele tipo de cirurgia oncológica. Após um tratamento médico e cirúrgico que implicou um internamento de nove meses e duas semanas, “com duas grandes cirurgias (cada uma com uma duração média de 10 horas)”, o doente teve alta hospitalar no dia 31 de Julho, “saindo a andar de forma autónoma, com auxílio de canadianas e de uma ortótese especial que o ajudará a recuperar no seu ambiente familiar”. De acordo com a mesma unidade hospitalar, este caso é “o mais extremo, num conjunto de 17 doentes com situações clínicas idênticas, com idades compreendidas entre os 22 anos e os 79 anos, cuja indicação de tratamento definitivo seria a amputação”.
As novas próteses são cobertas a prata, material mais resistente às infecções
O médico João Freitas nasceu no Louriçal, vila onde regressa com a frequência que a vida profissional lhe permite e onde também dá consultas. Não são de agora as notícias que evidenciam o mérito do trabalho que tem realizado nesta área da medicina, mas para o pai, residente no centro da vila, onde possui um espaço comercial, é sempre com natural orgulho que ouve falar do filho em patamares de excelência. “Tem sido um impacto muito grande”, refere, apontando o elevado número de telefonemas recebidos desde que a notícia veio a público. Para José Freitas, a área da saúde faz parte do dia-a-dia da família. Além de um neto que já está no terceiro ano de Medicina, tem também um filho enfermeiro, a quem dirige igualmente palavras de orgulho pela forma como tem abraçado a profissão e onde se tem destacado pela competência e profissionalismo.