1.Através do humor, sempre foi mais fácil e eficaz transmitir mensagens. Isso sucedeu em Portugal, depois de Abril de 1974, com uma dupla, que ficou famosa: o Senhor Feliz e o Senhor Contente. Os dois artistas com o seu chapéu de coco e bengala, faziam crítica social e política, dançando ao ritmo da música e cantando letras bem-humoradas. A transmissão, semanalmente, através da televisão, ainda a preto e branco, ampliava o efeito e tornava as mensagens mais sugestivas.
Em 1977 Nicolau Breyner e Herman José com bigode à Charlot, dançavam e cantavam assim: ”Como passa Sô Contente / como vai Senhor Feliz / diga à gente, diga à gente / como vai este país”. A democracia estava no seu início e, por isso, logo acrescentavam: “Ouço falar em censura / e até dizem qualquer dia / que temos para aí ditadura / ou caímos na anarquia”.
As dificuldades e a crise, estiveram sempre presentes: “Dizem que há austeridade / para que a gente se revele / como um povo com vontade / mas que só fica com a pele”. Brincava-se com o “País das Maravilhas”, falando nas antigas batalhas de ovos no Carnaval e na banca: “Hoje o preço dos ovos / e a banca na bancarrota / sai mais caro essa batalha / do que foi a de Aljubarrota”.
E já nessa época o País estava falido e se mentia nas campanhas eleitorais: “Este país está de tanga / este país é uma ilusão / o que está a dar é forrar a manga / e votar no mais aldrabão”. A caça ao voto e o acreditar em promessas, era cantado deste modo descontraído: “Deixe-os andar a gozar / deixe-os andar à vontade / eles querem é todos mamar / e pouco falar a verdade”.
2. O paralelismo com a situação atual é evidente. Aliás, como é sabido, já no século XIX, o que o nosso Eça de Queirós escrevia, se aplica perfeitamente à realidade atual, incluindo a comparação com a Grécia.
Parece, assim, que a realidade não muda, mas apenas os protagonistas, que atuam sempre da mesma maneira. Prometem para caçar votos e assim poderem cavalgar o poder, mas depois esquecem as promessas. A transmissão daqueles programas na atualidade, permitiria concluir que aquela crítica social e política se aplica perfeitamente à realidade atual. A crise, a austeridade, a banca na bancarrota, o país de tanga, as inverdades dos políticos e o seu aproveitamento da situação em benefício próprio.
Só que agora os milhões, desbaratados e em circulação, são incomensuravelmente mais elevados, como é o caso do BES, que se apresenta como um crime financeiro grave para este País, que já não é das maravilhas. E os milhões do político que teve graves responsabilidades governativas e que tinha um amigo que lhe entregava milhões sem controlo, sem juros e sem razões.
3. Para fugir ou esquecer a crise atual, talvez valha a pena falar naquele outro amigo, que não era muito abastado e que defendia uma tese curiosa, relativamente às condições necessárias para se ser feliz. Afirmava ele, aparentemente convicto e em tom bem-humorado que, para se ser verdadeiramente feliz era necessário, existirem, pelo menos, três condições.
A primeira era ser simpatizante do Benfica. Terá alguma razão, embora isso não traga sempre a felicidade e a alegria que se precisa. Mas, talvez seja o menos mau no universo da clubite nacional.
A segunda condição era gostar de vinho tinto e aqui teria também muita razão. Porque faz melhor à saúde que o branco (e os glóbulos vermelhos fazem lembrar o Benfica) e bebido com fé e em circunstâncias agradáveis acompanhando um bom petisco, dá prazer, traz alegria, dá felicidade.
Mas, a terceira condição ainda é mais especial. Dizia ele que, para se ser feliz, “é preciso ser razoavelmente maluco”. E aqui, o grau de subjetividade ainda é mais elevado. Mas, temos que reconhecer que, devidamente gerida, esta circunstância talvez dê jeito e traga vantagens.
Pois que todos os prezados leitores sejam muito felizes, com estas ou outras condições que entendam adequadas e necessárias.