Subitamente, dois gatitos apareceram lá em baixo, ao fundo do jardim! Estranhou-se esse facto, porque na casa não existiam animais desde há algum tempo. Depois compreendemos a razão: o visitante deixou a porta de entrada aberta e os gatitos aproveitaram para entrar. Não o acompanharam na saída, preferindo esconder-se num canteiro, onde sobressaíam muitas plantas e também rosas, cuja beleza e perfume, eram por demais evidentes.
Sabendo que as Netinhas gostavam de animais, a ideia de as convidar para verem os gatitos, surgiu de imediato. Claro que acederam com alegria e a sua presença junto ao canteiro não demorou muitos minutos. E os gatitos lá continuavam, escondendo-se no meio das plantas. O objetivo era mostrá-los às Netinhas e não ficar com eles, apesar de parecerem vadios, ou talvez tivessem paradeiro na urbanização, apesar de ser a primeira vez que os via por ali.
Assim, queríamos convidá-los a sair, da mesma forma como tinham entrado, ou seja pela porta principal. Delicadamente, o Avô e as Netitas tentaram convencê-los de que era isso o que se desejava e seria melhor para eles. Não quiseram perceber, pelo que se recorreu a vários meios, pacíficos, para lhes sugerir que caminhassem na direção da porta de saída. Não houve violência, pelo que, mesmo que estivesse presente algum elemento da Sociedade Protectora dos Animais, não teria havido problemas.
Com algum esforço, lá conseguimos que os gatitos abandonassem o jardim e saíssem para a rua. Mas, o Avô já tinha sofrido as consequências: como parece não haver rosas sem espinhos, os braços arranhados e os dedos sangrando, foram o resultado desta ação heroica. É evidente que estas cenas divertiram as Netinhas, que não quiseram agarrar os gatitos, porque, como eram vadios, não teriam condições higiénicas nem sanitárias para poderem ser tratados dessa maneira. A compensação para o Avô, foi o modo carinhoso e o cuidado extremo com que a Netinha de cinco anos tratou das suas feridas ligeiras, espalhando uma pomadita que ela foi buscar, com ligeireza, arrastando um banquito para chegar à prateleira.
A meio da tarde havia necessidade de regressar a casa, para fazer uma viagem até à minha aldeia natal – Viuveiro, na freguesia de Vila Cã – para acompanhar uma obra muito especial: a reconstrução da casa onde nasci. Curiosamente, um dos gatitos estava na grade do jardim do vizinho mas, talvez não gostando de ser fotografado, fugiu para debaixo do meu carro. A viagem foi feita com toda a normalidade e, quando chegámos, ouvimos um barulho especial na parte de baixo do carro. Parecia o miar de um gato, mas não havia a certeza.
Passado algum tempo, resolvidos os problemas que constituíam a razão de ser da viagem, confirmámos que o tal gatito estava, calmamente, sentado debaixo do carro. Ou seja, fez a viagem, não sabemos como, na parte de baixo do carro. Denotava normalidade, não lhe tendo sucedido nada de mal durante a viagem. Decidimos tentar apanhá-lo, o que não se revelou fácil, porque fugia escondendo-se debaixo do carro. Minutos depois, subiu para uma das rodas da frente e aí foi mais fácil apanhá-lo, embora com muito cuidado, porque oferecia resistência e a sua tendência para morder e arranhar era evidente.
Logo a seguir, foi guardado numa caixa, para pedir aos primos (vizinhos e amigos) para cuidarem dele até a casa ficar pronta, onde será então promovido a habitante permanente, com a missão de caçar os ratos que por ali aparecerem e servir para que a pequenada brinque com ele, aplicando e treinando a tendência e o gosto natural que têm para brincar com os gatos. (Notas importantes: esta é mesmo uma história real, que aconteceu no dia 5 deste mês de setembro; e o gatito, ou melhor a gatita -conforme se veio a confirmar depois- já tem nome, inventado pela Netita mais velha: Star, por influência de uma conhecida série cinematográfica, de ficção científica; é evidente que, caso a gatita não seja vadia, será devolvida a quem provar pertencer-lhe).
manuel.duarte.domingues@gmail.com