Este é, seguramente, um objetivo perseguido pelo Homem, desde os primórdios da Humanidade. Os progressos verificados ao longo dos séculos, são o resultado do trabalho, da capacidade, do génio e da criatividade do Homem, enquanto ser inteligente, racional, insatisfeito e ambicioso. À medida que os países se foram formando, o seu desenvolvimento e progresso, resultou do modo como foram governados, das opções dos seus líderes, do correto aproveitamento dos seus recursos e potencialidades. Os progressos conseguidos contribuíram sempre para a construção de um mundo melhor. Mesmo depois das duas Grandes Guerras do século XX, à destruição seguiu-se a reconstrução que trouxe desenvolvimento, progresso, novas descobertas, que permitiram melhorias na qualidade de vida e de riqueza.
A análise da realidade histórica permite-nos concluir que o sistema político e o modo como os países são governados é determinante para o seu desenvolvimento. A globalização que carateriza a economia atual, confere uma importância acrescida ao modo como as nações são governadas. Sem barreiras alfandegárias, em mercados abertos, as condições económicas relacionadas com legislação laboral, tributação, educação, especialização, saúde, justiça e outras, são decisivas para criar níveis de vida e de riqueza que distinguem os países, possibilitando um mundo melhor para os seus habitantes.
Este é, também e especialmente, o título de um livro publicado em 1989 pelo filósofo austríaco radicado no Reino Unido Karl Popper (1902-1994). As sua ideias são perfeitamente atuais, pelo que valerá a pena referi-las aqui e agora. Sobre a vida e os novos problemas existentes na sua época, refere as “tentativas ativas de solução, avaliações e valores, ensaio e erro”. Sobre a justiça e a corrupção, opina que “possivelmente, adotámos inconscientemente, a maravilhosa sentença de Sócrates (filósofo grego): É preferível suportar a injustiça, do que praticá-la”.
No prefácio do livro, refere, convictamente, sobre o “êxito da busca de um mundo melhor ao longo dos 86 anos da minha vida, num período que cobre duas guerras mundiais absurdas e ditaduras criminosas. Apesar de tudo, e muito embora tenhamos falhado em tanta coisa, nós, os cidadãos das democracias ocidentais, vivemos numa ordem social mais justa e melhor (porque mais favorável às reformas) do que qualquer outra, de que tenhamos conhecimento histórico. Outros aperfeiçoamentos urgem. (No entanto, as alterações que aumentem o poder do Estado acarretam, muitas vezes, infelizmente, o oposto daquilo que procurávamos).
A sua filosofia de vida e de conhecimento está bem explícita na nota introdutória: “Penso que só há um caminho para a ciência ou para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe – a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas, mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem-estar poderão trabalhar, com um sentido, até ao fim dos vossos dias”.
Em 1979, confessa-se um otimista, “num mundo em que a moda dominante entre a intelectualidade é ser-se pessimista”. E, “mau grado a propaganda por vezes bastante persuasiva dos pessimistas da cultura, continua a haver muita gente com alegria de viver”. E ainda “Os críticos da cultura não querem ver nada de bom na nossa era e na nossa sociedade, são cegos e fazem os outros cegos. Creio ser pernicioso que a intelectualidade mais representativa e respeitada reafirme reiteradamente que vivemos todos no inferno. Esta atitude gera nas pessoas não só descontentamento – o que não seria assim tão grave – mas também a infelicidade. Elas são despojadas da alegria de viver”. Sobre a vida e a morte, numa conferência em 1978, afirma que “Todos os homens são filósofos na medida em que assumem uma ou outra atitude ou posição perante a vida e a morte. Alguns consideram a vida sem valor, porque tem um fim. Esquecem que o argumento contrário pode ser igualmente invocado. Se não houvesse um fim, a vida não teria qualquer valor. Esquecem que é, em parte, o risco permanente de perder a vida que nos ajuda a compreender o seu valor”.
Na célebre conferência de Lisboa, em outubro de 1987, a convite do Presidente Mário Soares, fez algumas afirmações curiosas que valerá a pena referir, tendo em conta o confronto esquerda/direita que se verifica atualmente no nosso País. Tendo sido atraído pelo comunismo na sua juventude referiu que estudou “o Marxismo em profundidade e em termos críticos, acabando por reconhecer não apenas alguns dos seus erros, mas também a sua atitude de arrogância intelectual. Descobri que, 2.500 anos antes de mim, Sócrates tinha dito: “Sei que nada sei – e mal isso sei: só sei, portanto, que não sei. Mas quero saber e quero aprender”. E, mais à frente, afirmou que “infelizmente, a tradição socrática quase despareceu. A maior parte dos filósofos pensam que sabem”.
A teoria política que então defendeu é simples: “De Platão a Karl Marx e de Karl Marx para cá, o problema foi sempre o de saber quem deve governar – quem deve governar o Estado. A resposta de Platão a esta pergunta era simples e ingénua: devem governar os Melhores”. E, “a existência de muitos partidos traz grandes dificuldades à formação de Governos e põe obstáculos à duração de Governos coesos”. Por isso, defende “o sistema bi-partidário que existe na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos”. Mas, sempre em Democracia, porque, como disse um dia, a brincar, Winston Churchill “a Democracia é a pior forma de governo – com excepção de todas as outras formas conhecidas”. Sem esquecer Voltaire e o seu “apelo à nossa honestidade e humildade intelectual”. Será um exercício muito interessante e útil aplicar estas ideias à nossa realidade política atual.
Manuel Duarte Domingues
manuel.duarte.domingues@gmail.com