Os prezados leitores que têm a paciência de ler as minhas crónicas, já concluíram que a minha postura política se carateriza pela moderação. Ainda recentemente, no último PombalJornal publicado antes das eleições legislativas, escrevi: “Um emagrecimento dos extremos (à direita e à esquerda) e uma votação equilibrada ao centro, obrigará os dois maiores partidos (PSD e PS) a governar para bem do País e do seu futuro”. E referia o exemplo dos países mais desenvolvidos da Europa, em que se destaca a Alemanha, onde os dois maiores partidos, com posições e importância semelhantes aos atrás referidos, formaram uma coligação que tem governado aquele país.
Estou convicto de que a solução governativa engendrada por Costa em 2015 não foi benéfica para os interesses do País. A realidade irá demonstrá-lo nos próximos anos. A coligação à esquerda obrigou o PS, partido até aqui moderado, a fazer cedências que hipotecaram o futuro do País. A mais grave foi a redução do tempo de trabalho da função pública e do setor empresarial do Estado para 35 horas, o que prejudicou todos os serviços, mas especialmente, no setor da saúde os hospitais públicos, que trabalham em contínuo 24 horas (3 turnos de 8 horas). Ou seja, além do aumento de custos (trabalha-se menos e ganha-se mais), é preciso mais gente, ao contrário do que então se afirmou. E, não menos importante, o aumento da despesa corrente, em detrimento dos investimentos, vivendo o presente, mas não preparando o futuro.
As consequências já estão à vista, com os problemas existentes no setor da saúde, com urgências e blocos operatórios fechados ou centralizados nas férias, adiamento de consultas e de muitos atos médicos. Mas, curiosamente, as listas de espera dos hospitais públicos que antes da “geringonça” eram largamente publicitados, deixou de se falar nelas, dado o controlo dos órgãos de comunicação que é exercido pelo poder vigente. Só que a realidade não se controla, mas constata-se, vai-se sabendo e, a prazo, é como “tapar o sol com uma peneira”.
Em 7 de outubro, o País acordou espantado, porque foi eleito para a Assembleia da República, um deputado de um partido da extrema direita. Curiosamente, na legislatura anterior, a extrema esquerda tinha 36 deputados e ninguém se escandalizou. Nesta altura, o prezado leitor, de forma atenta e descontraída, dirá que não é a mesma coisa. Que a extrema esquerda é melhor que a extrema direita. Mas, a realidade histórica vivida no século XX não o comprova.
Poderia tentar fazer um resumo dos programas dos partidos extremistas, quer à direita quer à esquerda, mas isso seria fastidioso. Os partidos da extrema-direita (ex. CHEGA) fazem a apologia das ditaduras de direita que conduziram ao nazismo. Do mesmo modo, os partidos da extrema-esquerda (ex: PCP e BE), têm como objetivo a instalação de ditaduras de esquerda que conduziram ao comunismo.
Mas, prefiro transcrever a opinião da União Europeia (UE), emitida no passado mês de setembro, mas divulgada apenas em outubro, curiosamente já depois das eleições: “ A UE colocou comunismo e nazismo em pé de igualdade, depois de o Parlamento Europeu (535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções) ter aprovado, em setembro, uma resolução que condena os dois regimes ditatoriais”, dado que ambos os regimes cometeram “genocídios e deportações e foram a causa da perda de vidas humanas e liberdades, em escala até agora nunca vista na História da Humanidade”. Um jornalista polaco concluiu que o poder destrutivo de Estaline (autor da frase “a morte de uma pessoa é uma tragédia, um milhão de mortes é estatística”) era muito superior ao de Hitler, porque a destruição levada a cabo por Hitler não durou mais de 6 anos, enquanto que o terror de Estaline começou na década de 1920 e prolongou-se até 1953”. Segundo um grupo de historiadores dirigidos pelo francês Stéphane Courtois (autores de “O Livro Negro do Comunismo”), o comunismo é responsável por 100 milhões de mortes e o nazismo por 40 milhões, “tornando o comunismo a ideologia mais assassina da história humana”.
Caro Leitor: se tivesse que emigrar e lhe dessem a escolher o país para viver e trabalhar, qual seria a sua escolha? França ou Alemanha? Rússia ou China? EUA ou Canadá? Venezuela ou Coreia do Norte? Suécia ou Dinamarca? Na resposta está implícita a utilização de critérios objetivos, dentre os quais destaco: liberdades, nível de vida, tolerância, realização pessoal e profissional, segurança, felicidade…
PS: Esta crónica foi enviada para o jornal em 16/11/2019, mas por razões de oportunidade dos temas, só agora decidi a sua publicação. E, curiosamente, pode servir de resposta à prosa do meu amigo A.Araújo, publicada na página 24 do jornal de 5/12/2019. Acrescento ainda o seguinte: quais os países onde é maior o aparecimento de grandes fortunas privadas? China e Rússia, países comunistas. Quem são os donos de muitos clubes de futebol europeus, onde são injetados muitos milhões de euros? Especialmente russos. Então o socialismo / comunismo, virou mesmo capitalismo? E o que sucedeu, nesses países, ao proletariado, à tão instrumentalizada classe operária? Na China têm 10 dias de férias por ano! Notícia recente: cartel de bancos que acertava condições comerciais com base em troca de informações, viu aplicada pela Autoridade da Concorrência uma coima de 225 milhões €. À CGD, que liderava o grupo, foi aplicada a maior coima (82 milhões €). A.A. diz que há “os protegidos e os protetores” (?). E a nós quem nos protege?!
Manuel Duarte Domingues
manuel.duarte.domingues@gmail.com
*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 23 de Janeiro