Família deixou para trás uma vida estável na Colômbia, em nome da segurança e da qualidade de vida dos filhos. Sem que nada o fizesse prever, acabaram por ficar a residir em Pombal, onde foram bem acolhidos. De Setembro a Maio deste ano, frequentaram as aulas de Português para estrangeiros, na Escola Secundária, e dizem ter sido um passo importante no processo de integração.
Daniela Bohorquez e Jonathan Esteban chegaram a Portugal em Abril de 2023. Com eles vinham os dois filhos – uma rapariga agora com 14 anos e um menino com seis -, mas também muitos sonhos. Para trás tinham deixado a Colômbia, onde nasceram há cerca de 30 anos, movidos pela vontade de oferecer mais “qualidade de vida” aos filhos, mas sobretudo um ambiente mais seguro.
Antes de escolherem Portugal como a nova casa, chegaram a ponderar outros destinos, mas a convicção de que aqui encontrariam bom acolhimento, aliado à possibilidade de trabalhar legalmente, dissiparam as dúvidas iniciais.
Na bagagem traziam apenas o essencial. Na Colômbia deixaram um apartamento já pago, carro e empregos estáveis. “Vivíamos bem”, conta Daniela, que trabalhava na área da administração de empresas, enquanto o marido era técnico de electrónica.
A única ligação a Portugal era um casal amigo que aqui vivia com a filha. A partir da Colômbia, e com a ajuda desse casal, arrendaram um apartamento em Leiria. No dia em que deveriam dar entrada na casa, foram informados pelo senhorio que o arrendamento ficava sem efeito, apesar de já terem pago um mês de caução. “Devolveu-nos o dinheiro e ficámos na rua”, relatam.
Sem sítio para dormir, alojaram-se num hotel da cidade onde permaneceram apenas quatro noites, atendendo às limitações financeiras. Para piorar o cenário, era semana da Páscoa e “estava tudo fechado”, recorda Daniela.
O casal investe então os esforços seguintes na compra de um carro para “procurar casa”. Ainda em Leiria, fecham negócio com um cidadão brasileiro, que se disponibiliza para lhes arranjar um apartamento em Pombal. É para aqui que vêm de imediato, mas deparam-se com uma casa sem condições. “ Era isso ou voltar para a Colômbia”. Mais uma vez não desarmaram. Passaram a viver num T2 onde a única mobília eram dois colchões. Depois de limparem e pintarem tudo, submeteram-se ainda ao frio que se fazia sentir na altura, habituados que estavam às temperaturas quentes da Colômbia. “Precisávamos acomodar os filhos”, desabafa Daniela. “Os primeiros dias foram muito difíceis. Chorei muito”, descreve com a emoção própria de quem traz à memória o amargo desse tempo.
Estavam há três dias em Pombal quando viram um anúncio de emprego na lavandaria self-service. A partir dali, a família desenhou uma nova história. Ainda que não falasse Português, Jonathan conseguiu emprego de imediato no contacto estabelecido. O espanhol permitia-lhe comunicar com alguma facilidade e era suficiente para o desempenho de tarefas na empresa que o contratou, a operar na área da impermeabilização.
Daniela, por sua vez, continuou mais algum tempo em casa, até os filhos estarem na escola. Agarrou a primeira oferta de emprego, um mês depois, numa empresa de limpezas, a que se seguiu o atendimento ao público num supermercado da cidade. “Foi uma grande oportunidade, porque tinha de lidar com os clientes”, refere Daniela.
Ainda assim, o casal não se acomodou e percebeu que era importante aprender Português para continuar o processo de integração e poder obter, mais tarde, a nacionalidade.
Corria o mês de Maio quando foram à Escola Secundária de Pombal para se inscreverem no curso de Português Língua de Acolhimento, ministrado através do Centro Qualifica. Com a formação daquele ano (2022/2023) já a terminar, inscreveram-se para iniciar em Setembro.
Foi também nessa altura que Jonathan soube de uma oferta de emprego na escola, para técnico de manutenção. Deixou a empresa de impermeabilização e mudou-se para a Secundária. “Foi o melhor que nos aconteceu”, dizem. Além disso, na comunidade escolar que era agora também local de trabalho, a família encontrou uma imensa dose de solidariedade, depois de perceberem as condições em que viviam. “Todos nos apoiaram muito. Doaram roupas, camas e ajudaram-nos a procurar outra casa”, conta o casal.
As aulas de português
De Setembro até Maio deste ano, Daniela e Jonathan frequentaram as aulas de Português para estrangeiros. Duas vezes por semana, em horário pós-laboral, o casal juntava-se à turma B1/B2 (nível mais avançado) para aperfeiçoar a língua. “Foi uma grande oportunidade para aprender a ler, escrever e falar”, dizem. “Ainda falamos ‘portunhol’, mas estamos muito melhor”, confidenciam, entre risos.
Sentados num dos bancos do corredor da Escola Secundária, numa pausa das aulas daquele dia, o casal fala ao Pombal Jornal sobre este último ano, sempre com as emoções à flor da pele, mas com o brilho nos olhos de quem conseguiu superar as dificuldades.
“Estamos felizes em Portugal”, onde já fizeram inúmeros amigos, mas reconhecem que o trabalho de Jonathan, na Secundária, lhes deu o impulso determinante. Daniela está agora a trabalhar numa fábrica do Parque Industrial Manuel da Mota.
Mas nem sempre as histórias de imigrantes colombianos têm estes finais felizes, muito por culpa de o país da América do Sul estar associado ao tráfico de droga e à insegurança. À conta disso, “fecham-se portas”.
“Podemos dizer que os portugueses são boas pessoas no geral. Vêem que nós não temos má intenção. Somos pessoas agradecidas”, frisa, em jeito de conclusão.
*Notícia publicada na edição impressa nº 280, de 20 de Junho