O JornalPombal comemora 11 anos de existência e a primeira coisa que lhe é devida, para além dos parabéns, é um agradecimento. Faço-o na minha qualidade de jornalista, de cidadão e de filho nascido neste concelho. Editar um jornal, como este, é hoje um ato de coragem que deve ser reconhecido e elogiado. Sou um assinante recente do JornalPombal e só lamento não o ser há muito mais tempo. Todos nós tempo a obrigação de contribuir para a sobrevivência da imprensa regional, garantindo o seu importantíssimo contributo para uma cidadania ativa e para a liberdade que lhe está associada.
É mesmo de sobrevivência que se trata. O jornalismo e a imprensa vivem uma crise profunda, estrutural e tão grave que coloca em causa a existência de um dos mais importantes pilares da democracia, tal como os conhecemos historicamente. A crise do jornalismo e a crise da imprensa não são a mesma coisa, mas estão intimamente ligados. Não existe jornalismo sem bons e sólidos jornais, não existem jornais sem bom jornalismo e bons jornalistas. Neste caso, é a crise dos jornais que mais nos deve preocupar como cidadãos. A crise do jornalismo pode ficar para outro artigo.
Os portugueses foram recentemente alertados para os problemas que afetam o grupo Global Media, proprietário de alguns dos mais antigos e prestigiados títulos da imprensa portuguesa. Infelizmente, é apenas mais uma crise, das várias que têm atingido os grupos de média em Portugal. Entre 2009 e 2024 fecharam cerca de 1 200 publicações. As que resistem continuam a ver as suas vendas diminuir, as receitas de publicidade a baixar e a concorrência do digital, incluindo as redes sociais, a aumentar. As vendas em banca dos principais jornais são hoje uma pálida imagem do que eram há pouco mais de uma década, por exemplo.
Esta razia afeta igualmente a imprensa regional. Em 2010 havia 728 publicações de âmbito regional e local registadas na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Em janeiro de 2024 esse número baixou para 480, ou seja, 248 ficaram pelo caminho. Um trabalho recente do jornal “Expresso” revelava que há 61 concelhos sem rádio ou jornal local. Segundo a Universidade da Beira Interior “não há jornais impressos a fazer a cobertura noticiosa frequente em 182 concelhos do país”. Estamos, pois, perante uma crise generalizada, global e indistinta. As preocupações sobre o futuro da imprensa e do jornalismo levaram, inclusive, o Presidente da República a propor um “pacto de regime” para salvar o setor.
Esta proposta caiu em saco roto, desde logo porque o país foi de novo a votos. Há, no entanto, um consenso generalizado na sociedade portuguesa de que alguma coisa terá de ser feita. Nos últimos anos, a imprensa, e em especial, a imprensa regional tem estado total e estranhamente ausente das políticas públicas. Acontece que a informação livre e a liberdade de imprensa são bens públicos, como tal reconhecidos na Constituição da República. O Estado não pode alhear-se de um problema que coloca em causa a qualidade da nossa democracia.
Neste plano, é unanimemente reconhecida a importância da imprensa regional na salvaguarda de uma informação de proximidade, no contacto direto com os problemas locais, na ligação a públicos mais distantes dos grandes centros ou a cidadãos muitas vezes abandonados. Este papel tem sido sublinhado tanto em textos oficiais, como o Estatuto da Imprensa Regional, como nas declarações de titulares de órgãos oficiais, como é o caso, por exemplo, de presidentes da já referida ERC.
O abandono político da imprensa regional é criminoso. Muita coisa já podia ter sido feita. Na frente fiscal. No apoio à distribuição. Nos incentivos à leitura e nos apoios à compra/assinatura de jornais. Nos estímulos às empresas, associações empresariais, públicas e cívicas para um maior envolvimento no apoio à imprensa. Este tema tem de estar na agenda do novo governo. A imprensa regional merece. O PombalJornal merece.
Luís Marques
*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 11 de Abril