Desde o passado mês de Janeiro que Odete Alves, de 44 anos, preside à Comissão Política Concelhia do Partido Socialista (PS) de Pombal. Militante há 16 anos, a advogada tem integrado as listas do partido às eleições Autárquicas desde 2001, tendo sido deputada municipal e líder da bancada socialista em dois mandatos. Foi também deputada da Assembleia de Freguesia de Pombal e candidata à Assembleia da República, pelo Círculo de Leiria, onde chegou a ocupar o lugar temporariamente em 2009. Nas últimas eleições, de Outubro do ano passado, integrou o segundo lugar na lista candidata à Câmara de Pombal, encabeçada por Jorge Claro.
Pombal Jornal (PJ) – Nas últimas eleições, o PS contabilizou o pior resultado de sempre nas Autárquicas em Pombal. O que a levou a candidatar-se à presidência da Concelhia?
Odete Alves (OA) – Os resultados das últimas Autárquicas, foram para mim uma evidência da necessidade de reorganizar a Concelhia de Pombal. É preciso reconquistar a confiança das pessoas, é preciso mostrar-lhes que somos uma alternativa credível e diferenciadora. Encaro os maus resultados como uma oportunidade de mudança de atitude. A par disto, encontrei um conjunto de pessoas que comungam das mesmas ideias e que possuem as ferramentas capazes de afirmar o PS a nível local. Esta circunstância foi determinante para a minha candidatura.
PJ – Como pretende afirmar o partido no concelho face ao contexto político actual?
OA – A nova Concelhia de Pombal, para além de muitos outros objectivos, fixou as seguintes prioridades: aproximar os militantes, os simpatizantes e a população em geral; criar uma máquina forte e organizada, capaz de combater os próximos desafios que tem pela frente; marcar a agenda política, não só através do apoio aos seus eleitos, mas também da apresentação pública de propostas capazes de construir um concelho melhor e mais desenvolvido, através de uma agenda de proximidade às freguesias, às instituições e às pessoas; dinamizar a JS, respeitando, a sua autonomia. Queremos construir um projecto político sério, moderno e inovador, que vá ao encontro das pessoas, e no qual os pombalenses se revejam.
PJ – O facto de o PS estar no Poder Central poderá contribuir para esse desafio, apesar de assim não ter acontecido nas Autárquicas?
OA – É evidente que iremos aproveitar a energia positiva do actual Governo, que conseguiu demonstrar aos portugueses que o Partido Socialista promete e cumpre, e que é possível governar para as pessoas sem as confiscar diariamente, mantendo o equilíbrio das contas públicas. A esperança foi restaurada. Mas, a Concelhia de Pombal não está “encostada” a esta “onda positiva”, o trabalho de afirmação do PS, em Pombal, depende de si próprio e daquilo que conseguir passar, por essa via, para os pombalenses.
PJ – Aquando da sua tomada de posse, defendeu uma renovação e modernização do partido. De que forma pretende desenvolver essa intenção?
OA – A nova Concelhia de Pombal definiu já uma nova estrutura organizacional, que apresentou recentemente ao seu plenário de militantes, verdadeiramente inovadora e que pensamos ser capaz de envolver os militantes, os simpatizantes e a população em geral. Esta estrutura divide-se em áreas de actuação, contendo um coordenador responsável por cada área, com alguma autonomia funcional. Estamos também conscientes que toda e qualquer acção política passa pela comunicação, é preciso dar a conhecer esta nova liderança, construir uma imagem e influenciar as pessoas, indo ao encontro das suas expectativas. Por isso, criámos também um gabinete de comunicação e imagem.
PJ – Afirmou recentemente que se criou em Pombal “uma ilusão de bem-estar e de uma qualidade de vida que verdadeiramente não existem”. Os pombalenses vivem na ilusão?
OA – Eu acredito que os pombalenses não vivem na ilusão, quem vive nessa ilusão é quem governa e quem gravita à sua volta. Nós defendemos que a qualidade de vida deve estar ao alcance de todos, e a verdade é que não é isso que acontece em Pombal. Basta olhar para o retrato social do concelho.
PJ – Disse, também, que se instalou o medo no concelho. De que medo fala?
OA – De um modo geral, os pombalenses percebem o sentido desta afirmação, mesmo aqueles que dizem que ele não existe. O medo de que se fala, é aquela sensação que acompanha muitos pombalenses, de não poderem afirmar livremente a sua discordância com o poder instalado ou simplesmente de se associarem a outras forças políticas, por temerem as consequências, para si e para os seus.
O medo de que se fala, é aquela sensação que acompanha muitos pombalenses, de não poderem afirmar livremente a sua discordância com o poder instalado
PJ – Como tem assistido a este início de mandato autárquico?
OA – Este executivo mantém a ausência de estratégia para Pombal, a médio ou a longo prazo. Não tem uma verdadeira estratégia de captação de investimento para Pombal, capaz de fixar empresas de alto valor acrescentado e criar emprego qualificado, o que leva ao afastamento dos jovens e dos menos jovens. Perde-se população e oportunidades de investimento. É também evidente a falta de estratégia na própria gestão das obras públicas a cargo deste município, que inicia obras e projectos que ficam suspensos, que compra património e não lhe dá um destino útil, que investe o dinheiro dos contribuintes, sem definir um rumo consolidado para esse mesmo investimento. A cobertura da rede de saneamento básico ainda está muito atrasada. O comércio local perdeu a energia de outros tempos. Não existe uma verdadeira política de revitalização do comércio local. Não existe um trabalho profundo e estratégico, que rentabilize recursos, promova o crescimento económico, satisfaça necessidades básicas e fundamentais para o bem-estar e segurança da população e que contribua para a fixação e crescimento populacional. Este executivo tem uma estratégia de comunicação e imagem virada para o consumo interno e não para o exterior. É preciso criar uma “marca” que reflicta a identidade de Pombal e o projecte no panorama nacional e internacional. É preciso apostar nos factores diferenciadores e únicos do concelho, que permitam um desenvolvimento sustentável e bem-sucedido.
Este executivo mantém a ausência de estratégia para Pombal, a médio ou a longo prazo
PJ – Considera que efectivamente “na política não há impossíveis?
OA – Em democracia não há impossíveis, e em política nada pode ser dado como garantido. Acredito que o trabalho sério, a honestidade, a competência e a dedicação, serão reconhecidos pelos pombalenses.