Foi com grande tristeza que assisti no final do ano lectivo 2005/06 ao encerramento da Escola Primária da minha terra (Aldeia dos Redondos), um momento que foi sendo adiado e protelado até não mais ser possível. Na altura nem meia dúzia de crianças, de todas as classes (ou de todos os anos como se diz agora) frequentavam a escola.
Mesmo assim a aldeia (como tantas outras pelo país fora), ficou mais pobre: mesmo poucas, as 6 crianças animavam as ruas da Aldeia dos Redondos, de manhã, ao almoço e á tarde, quando também os avós, deixavam as suas lides ou o simples recolhimento caseiro, para as irem buscar, encaminhar pela berma da estrada, até casa, onde as esperava o lanche, as brincadeiras e os TPC.
Lembro-me quando a sala era pequena para acolher mais de 30 crianças, das 4 classes e muitos repetentes, e a professora era só uma. Foi lá que eu e muitos outros, de várias gerações, incluindo os meus filhos, nos fizemos gente.
Sem abdicar da tristeza com que assisti ao encerramento da Escola Primária da Aldeia dos Redondos, reconheço pragmaticamente a sua inevitabilidade, pelo baixo número de alunos – que iria ainda diminuir no futuro imediato – pelas condições físicas e pedagógicas, pela racionalidade da toma de decisões, etc.
Mas o edifício e o pátio, lá estão! Há mais de 60 anos, com a arquitetura típica das escolas dos anos 50 do século passado.
Há cerca de 2 semanas o Edifício da Escola Primária da Aldeia dos Redondos, entrou em obras, renascendo para uma nova vida.
Não voltará a ser uma Escola Primária, mas manterá a dignidade e a nobreza da sua existência, como sede de uma Associação Local, que desenvolve actividades de dinamização da comunidade, na cultura, no recreio e na sinalização social.
A tristeza de outrora é assim mitigada, pela nova vida que é dada ao edifício. Na realidade, o encerramento das várias escolas Primárias no Concelho (mais de 80) congrega em si mesmo uma oportunidade: a de albergarem projectos que criem dinâmica local, que sejam altamente abrangentes, inclusivos e aglutinadores de comunidades, conhecimento e costumes.
As antigas Escolas Primárias, são muito mais do que um mero edifício: Elas representam a memória de muitas gerações, o ponto de partida dos nossos percursos profissionais e académicos (elas foram para muitos o único percurso académico), as primeiras responsabilidades e autonomia, as brincadeiras ou as diabruras próprias da idade e até os inocentes e pueris namoricos.
Defendo pois, agora e sempre, que as antigas Escolas Primárias, devem permanecer na posse das Camaras Municipais e não vendidas como aconteceu nalguns concelhos vizinhos. Porque a memória não se vende.
Pombal, felizmente conserva a antigas Escolas Primárias em seu poder, cedendo-as por protocolo de utilização, a colectividades do concelho. Faz bem!
Como agora acontece com a Escola Primária da Aldeia dos Redondos, também noutras escolas a Camara Municipal investe na sua recuperação e conservação. Faz bem!
Mas é igualmente necessário, que as comunidades se mobilizem e organizem de modo a dar vida a estes espaços, que não podem sobreviver por si só enquanto meros edifícios, mas através das pessoas, projectos e ideias, de modo a torná-los – como noutras ocasiões tenho defendido – como verdadeiras Casas do Conhecimento, no respeito pela sua história, pelos professores que lá passaram, pelo seu papel nas comunidades e no crescimento de tantas gerações das nossas aldeias.
Por isso acho que as antigas Escoas Primárias, podem continuar a ser Escolas de Vida.
Jorge Cordeiro
jorgeagcordeiro@gmail.com