Estrada alternativa para a pedreira de Vila Cã divide opiniões

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Das oito possibilidades estudadas, o Município apresentou aquele que o estudo definiu como a opção mais viável, mas não reuniu consenso

Há cerca de 40 anos, desde que a pedreira da Sicóbrita começou a laborar, os moradores de alguns lugares da freguesia de Vila Cã e de Abiul são confrontados com o tráfego constante de veículos pesados. Segundo dados do Município de Pombal, em média passarão na estrada de acesso à pedreira cerca de um camião a cada minuto. Os moradores queixam-se do ruído, do pó constante e do perigo na circulação naquela via, mas apesar das muitas queixas e de promessas de resolução do problema, o mesmo mantém-se. Recentemente, o Município de Pombal, a Sicóbrita e a Finerge (empresa que explora o parque eólico na Sicó, que também utiliza a mesma via) encetaram conversações para chegar a um entendimento. A ideia é construir uma via alternativa, cujo traçado não atravesse aglomerados populacionais, a fim de desviar os veículos pesados das habitações. Os técnicos do município terão estudado oito traçados, apontando um deles como a solução mais viável. E foi isso que apresentou numa reunião com populares de alguns dos lugares das freguesias de Vila Cã e Abiul, de forma a dar o primeiro passo para resolver a questão. Contudo, não houve fumo branco.
Este é um tema muito sensível e isso percebeu-se na noite da reunião, realizada no dia 20, no salão da Associação Sicoense. Os ânimos exaltaram-se por diversas vezes, não só entre os populares e os representantes da câmara e da pedreira, mas também entre os próprios populares. Coube à vice-presidente do Município de Pombal, Isabel Marto, explicar o processo, nomeadamente da nova estrada ter uma largura mínima de 10 metros e a inclinação não poder ser superior a 10%. A autarca explicou que foram estudadas oito alternativas, incluindo um traçado que levaria os pesados para o outro lado da serra em direcção a Pousadas Vedras; e um outro, que já havia sido discutido há uns anos, que passaria mais perto da Aldeia do Vale. Essas alternativas terão sido colocadas de lado devido à inclinação e aos terrenos serem deslizantes e, por isso, perigosos. Foi então apontada uma alternativa, que passaria nas traseiras de todas as habitações e entraria no IC8, na zona de Brinços. O anúncio provocou logo algum burburinho no salão, com alguns populares do Chão do Ulmeiro a mostrarem-se contra.


A palavra foi então dada a quem quisesse intervir. Houve quem dissesse categoricamente que “no meu quintal não vai passar, porque eu não deixo” ou “tenho pena de não estarmos aqui para fechar a pedreira”. A presidente da Junta de Freguesia de Abiul, Sandra Barros, colocou-se ao lado da população que representa. “Se os abiulenses não concordarem, eu também não concordo”, vincou, mostrando ainda algum desconforto com a forma como o processo se está a iniciar. “Temos de escutar as pessoas e não vir para aqui já com uma ideia”, referiu. Também Rogério Santos, presidente da Junta de Freguesia de Vila Cã, se dirigiu aos presentes. “Fazer o que as pessoas pretendem é impossível”, disse, acrescentando que “queremos uma solução que não colida com os interesses do pessoal da serra, que tem sido fortemente prejudicado com a passagem dos camiões”.
As intervenções prosseguiram, por entre insinuações de interesses escondidos ou apontando a soluções que foram excluídas por os técnicos apontarem não serem exequíveis. Hugo Neves, representante do Grupo Protecção Sicó, lembrou que há mais do que uma pedreira na Sicó e que há mais populações a sofrer com o tráfego de pesados. Defendeu que o ideal seria uma estrada que servisse as duas pedreiras. Já o antigo presidente da Junta de Abiul, António Carrasqueira, apontou uma alternativa que não foi estudada no presente, mas que chegou a ser equacionada há uns anos. Uma hipótese que mereceu a concordância de vários dos presentes e que será agora incluída nas alternativas em estudo.
Da reunião ficaram algumas certezas. Esta terá sido uma primeira tentativa de se chegar a um acordo que agrade a uma ampla maioria, mas ainda haverá muito trabalho a fazer. Os anticorpos gerados por quatro décadas de sofrimento e pela ausência de respostas por parte da câmara não se conseguem eliminar facilmente. A intransigência de alguns populares pode arrastar a solução por mais alguns meses ou anos e ficaram patentes as divergências entre os populares. Ficou também a certeza de que a junta de Abiul não recebe qualquer verba por parte da pedreira, recebendo sim da Finerge, exploradora do parque eólico, tal como a junta de Vila Cã. Esta última receberá uma renda por parte da Sicóbrita, empresa que à margem da reunião informou que, desde que a actual administração é responsável pela pedreira, “pagámos à Junta de Freguesia de Vila Cã, cerca de 700.000,00€, mais o material de pedreira que foi necessário, para estradas, caminhos e veredas da freguesia”. A novela terá certamente novos capítulos…

 

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A pedreira da Sicóbrita entrou em funcionamento há 40 anos

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Na estrada de acesso à pedreira, passa cerca de um camião por minuto

 

*Notícia publicada na edição impressa de 04 de Julho