Já não são novidade nas Festas do Bodo, mas este ano terão um cunho especial. Falo dos gigantones e cabeçudos que costumam animar a festa. As figuras que irá ver este ano a circular pelas ruas da cidade foram integralmente feitas em Pombal, criadas de raiz numa oficina que decorreu, ao longo dos últimos meses, na Casa Varela. Será, porventura, a primeira vez que tal acontece.
“Gigantones da Minha Alma” foi o nome do projecto que trouxe José Ramalho até Pombal. Actor profissional há quase três décadas e designer, escultor e construtor de marionetas, o também director artístico do Teatro Figura orientou um pequeno grupo de pessoas que se predispôs a fazer parte desta aventura de criar os gigantones e cabeçudos que animarão o Bodo mas também, assim se espera, outras festas populares do concelho. Na construção dos bonecos foi usada a técnica mais tradicional, com o recurso a materiais acessíveis, sobretudo papel e cola. “Eram estes os materiais a que as pessoas tinham acesso antigamente, sem grandes custos, fazendo aproveitamento de papéis e usando até uma cola à base de farinha e água”, explica José Ramalho. Mais tarde passou a usar-se a cola branca, como aconteceu também neste caso, pois permite uma intervenção mais adequada. O construtor de marionetas explica ainda que o processo usado foi o de gaiola, em que a estrutura física interior é feita a partir de tiras de cartão, sustentadas em barras de alumínio. Aplicou-se depois papel de jornal, com a curiosidade de ser todo cortado à mão para que quebre as fibras, o que não acontece se fosse cortado com tesouras ou facas. “Este é um processo demorado pois implica secagem, pelo que o processo já foi iniciado em Março”, remata José Ramalho. As figuras podiam ser feitas com outros materiais, mas “estas cumprem aquilo que é a tradição”.
Como acontece tradicionalmente, foi criada uma “família” com dois gigantones e dois cabeçudos. Os gigantones terão uma altura aproximada de 3,5 metros, sendo que quem os manipula carrega uma estrutura aos ombros. Já os cabeçudos, como o nome indica, têm uma cabeça gigante mas num corpo humano. Esta oficina de construção teve um sabor especial para Diogo Renato Ferreira. Não por ir vestir a pele de uma das figuras, pois é algo que faz desde os 12 anos (tem agora 35), mas porque foi a primeira vez que esteve no processo de criação. É um dos mentores da ideia de fazer as figuras em Pombal, evitando assim o aluguer destes bonecos e dando um cunho mais bairrista a este Bodo. Foi também ele que lançou os convites aos restantes elementos que irão vestir e animar as figuras. Começou como cabeçudo e, assim que ganhou robustez física, passou para gigantone. Está ansioso por usar um gigantone construído também por si, não escondendo o orgulho por isso. Sobre o processo, diz que “as pessoas não sabem o trabalho que dá fazer as figuras”. Ao seu lado, como cabeçudo, irá estar o amigo José Luís, que já participou no Bodo do ano passado.
Tanto Micael Mello como Francisco Ferreira vão estrear-se nestas andanças. Serão os cabeçudos de serviço. Micael é o mais jovem, com 16 anos, e diz que “vai ser um desafio interessante”. Francisco tem 22 anos, é irmão do Diogo Renato, pelo que cresceu a ver o irmão a manipular os cabeçudos e gigantones. Chegou agora a sua hora de se juntar à festa, vendo a missão como “uma oportunidade”. Ambos mostraram-se agradados com o projecto, passando a conhecer a forma como são feitas as figuras, e têm desde já uma certeza. Mesmo que não participem noutros Bodos, deixam cá a sua marca e a sua memória, nas figuras que animarão as festas populares.