Grande Guerra

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História do Soldadinho

Joaquim das Neves Júnior

O Capitão Menezes Ferreira, no seu livro João Ninguém-Soldado da Grande Guerra, editado em 1921, afirma que escreve o livro para glorificar os heroicos soldadinhos de Portugal.
Joaquim das Neves Júnior nasceu em Albergaria dos Doze a 26 de Maio de 1892 e aqui faleceu a 13 de Novembro de 1977, com 85 anos de idade.
Foi casado com Rosária de Jesus, de quem teve seis filhos.
A esposa Rosária nasceu a 20 de Setembro de 1902 e faleceu a 10 de Novembro de 1987.
Em jeito de homenagem, a Família escreveu na lápide da sua sepultura, no cemitério de Albergaria dos Doze: Foi Combatente da Guerra de 1914 a 1918.
O nosso soldadinho assentou praça em 16 de Agosto de 1912, sendo considerado pronto da instrução de recruta em 30 de Maio de 1913.
Foi integrado na 1ª Companhia do Regimento de Artilharia de Montanha.
Foi licenciado a 6 de Outubro de 1913.
Foi mobilizado para a guerra a 28 de Agosto de 1914.
A 11 de Setembro de 1914 embarca, em Lisboa, para Angola e desembarca a 1 de Outubro no Porto de Mossamedes (é assim que está escrito na Caderneta Militar).
Embarcou, em Angola, de regresso à Metrópole em 16 de Novembro de 1915, desembarcando no Porto de Lisboa a 4 de Dezembro de 1915.
A 28 de Abril de 1916 foi, de novo, mobilizado para a guerra, tendo embarcado para Moçambique em 8 de Julho de 1916 e desembarcado a 6 de Setembro.
Embarcou em Moçambique, de regresso à Metrópole, a 31 de Março de 1918.
Desembarcou no Porto de Lisboa em 16 de Maio de 1916.
Foi licenciado a 20 de Junho de 1919, tendo passado à reserva a 31 de Dezembro de 1933.
Foram-lhe atribuídas as seguintes condecorações: Medalha Comemorativa das Operações do Sul de Angola, Medalha Comemorativa das Operações em Moçambique e a Medalha da Vitória.
O nosso soldadinho escreveu um Diário de Guerra que, infelizmente, não chegou aos nossos dias.
O seu filho Augusto chegou a lê-lo e relatou alguns episódios que nele estavam escritos.
É histórico que a táctica utilizada pelas tropas alemãs em África passava muito pela guerrilha e não pela guerra aberta.
Também é histórico que houve um único soldado português que foi fuzilado na Grande Guerra, mas em França.
No Diário de Guerra do nosso soldadinho Joaquim das Neves estava escrito o seguinte episódio:
“Os alemães atacaram o posto onde estávamos e fizeram prisioneiros alguns soldados portugueses.
Tivemos que retirar para uma posição mais à retaguarda.
Os alemães, com a sua matreirice, pretendiam atacar-nos, de surpresa e pela retaguarda.
Para montarem a sua táctica, nomearam um oficial para, a cavalo e bem armado, ir fazer o reconhecimento.
Nessa diligência obrigaram dois dos prisioneiros portugueses a acompanhar o oficial, a pé.
Estes, conscientes da missão a que estavam obrigados, iam, pelo caminho, a magicar como é que deveriam fazer para não trair os seus camaradas de armas.
Numa das paragens para descanso, os soldados lançaram-se ao oficial alemão e com ele lutaram até o desarmar.
Um dos soldados, da região de Tomar, dizia para o outro: Segura as pernas do oficial!
Enquanto isto, espetou a baioneta no peito do oficial que só dizia: José não mata. José não mata!
Chegados ao posto onde estavam os camaradas, contaram o ocorrido e como conseguiram que a sua posição não fosse do conhecimento dos alemães”.
São os horrores da guerra.
Ou matas, ou morres!
Noutra passagem, podia ler-se:
“Num ataque dos alemães ao nosso posto estávamos a ser bombardeados com tiros certeiros, o que não era normal.
Analisada a situação verificámos que no cimo de uma árvore estava um soldado alemão a dar indicações de tiro.
Um dos atiradores de elite apontou a sua arma e abateu-o.
Caiu que nem um tordo, dizíamos aliviados”.
Muitos outros episódios lá estavam escritos, mas…
Maldita guerra!