A noite é de partilha, comunhão e união. As famílias cristãs reúnem-se para celebrar o nascimento do menino Jesus. Muitos estão de folga ou de férias. Mas há quem esteja de vigia a zelar pelo bem-estar comum.
Já não é a primeira vez que Helena Silva, funcionária e voluntária há cerca de 22 anos no quartel dos bombeiros em Pombal, trabalha na noite de Natal. “Faço turnos há muitos anos, calha-nos sempre esta noite. Em vez de passar o Natal com a família em casa, passo com esta, que é a dos bombeiros”, revela a chefe de piquete do turno das 21h às 7h, da madrugada de 24.
Para si acaba por ser uma noite igual a tantas outras. “Não valorizo muito o Natal. Acho que se canaliza muito as energias para uma data, que deveriam ser distribuídas ao longo de todas as noites do ano. O mais importante é estar junto aos colegas”, diz a voluntária de 45 anos. “Não o valorizo tanto quanto as outras pessoas. Não atribuo um simbolismo típico à data”, revela Nelson Carvalho, que já faz dos bombeiros profissão há dez anos e confessa não atribuir um significado particular ao Natal.
Opinião contrária tem, no entanto, o 2º comandante Paulo Albano, que atribui um significado maior à consoada. “Na altura em que fazia piquetes, o mais difícil era deixar os filhos pequenos. Quando vivia perto do quartel passava por casa. Mas não era a mesma coisa”, confessa.
E quanto às expectativas desta noite? “Tendo em conta as noites de Natal que já fiz, será uma noite calma, com toda a gente que estiver de serviço, nos bombeiros, com a particularidade de esta ser já uma segunda família, que prima pelo valor humano e proporciona conforto”, conta Nelson Carvalho, de 33 anos. É na altura em que se tenta colmatar a falta da família biológica que os bombeiros se refugiam no convívio com os colegas, no jantar, que este ano é bacalhau, nas filhoses e no bolo-rei. Tiago Neves, de 25 anos, vai trabalhar pela primeira vez com o colega, enquanto profissional. Tem “expectativas boas” e acredita que “ao entendermo-nos todos o resultado é o bem comum”.
Apesar de, em anos anteriores, não terem ocorrido acidentes de maior importância na noite de Natal, por vezes lá há “uma doença súbita”, que atinge pessoas idosas, ou um “incêndio provocado por uma lareira”, porque nestas alturas as pessoas “exageram um pouco com a lareira”, explica Paulo Albano, que nesta consoada não vai estar ao serviço.
Dos que estão de vigia, a colega Helena Silva espera que a noite decorra na normalidade, com pouco trabalho, pois significa “que as pessoas estão tranquilas em suas casas”. Tiago Neves e Nelson Carvalho partilham o mesmo desejo: “que não haja muito serviço e que passemos a noite com os colegas que estão a trabalhar”.
Ana Isabel Mendes