Há uma casa que se renova há 60 anos

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Os Móveis Ilídio da Mota foram homenageados na cerimónia de abertura do Bodo das Castanhas. Ao negócio iniciado pelo empresário e pela mulher, Júlia, foi dada continuidade pelos cinco filhos do casal, três deles a tempo inteiro nas lojas

A história dos Móveis Ilídio da Mota escreve-se há 60 anos, impulsionada, à época, pelo homem que lhe deu o nome. Juntamente com a mulher, Júlia, o empresário desenhou os alicerces de um negócio de génese familiar, com raízes em Vermoil, assente numa cultura onde os padrões de qualidade foram e continuam a ser o fio condutor da política da casa.
A esta pedra basilar, a empresa acrescenta-lhe uma capacidade extra de empreendedorismo e inovação, espelhada na longevidade que a 28 de Outubro justificou a celebração de mais uma página ao seu historial.
Em 1974, a construção de um edifício de seis andares, numa terra onde a propriedade horizontal ainda era uma miragem, é a marca diferenciadora dessa visão. “Não havia, nessa época, estruturas com esta área de exposição como nós temos”, recorda Ilídio da Mota, o mais velho dos três rapazes e que herdou do pai o primeiro nome (à prole juntam-se também duas raparigas). “O objectivo do nosso pai era ter muito produto disponível para as pessoas poderem escolher, sempre com profissionalismo nas entregas e na assistência”, recorda.

Para além das “dimensões generosas”, o edifício-sede foi também equipado com elevador, algo que, à época, só existia no Hospital Distrital de Pombal.
Antes desta obra, e ainda na década de 60, numa altura em que comprava os móveis inacabados às fábricas para depois os vender ao público, já o empresário fazia questão de “escolher produtos de qualidade” e dar-lhes um “acabamento original”, recorda o filho, numa conversa que decorreu no piso de entrada da loja principal, acompanhada de Gabriel da Mota.
Mas como é que uma empresa com 60 anos se consegue manter jovem? “Já no tempo do meu pai [falecido em 1998] havia a preocupação de dar autonomia aos colaboradores para decidirem e inovarem”, salienta Ilídio da Mota, que diz que essa política era extensível a si e aos irmãos. “Esta entrada de gente nova na empresa proporciona também esse refresh”, nota Ilídio, que trabalha na empresa desde 1991. A ele juntaram-se, posteriormente, os dois irmãos, primeiro André e depois Gabriel. Em conjunto, asseguram os destinos da empresa, num trajecto profissional que seguiu um rumo natural. Contam, no entanto, com o contributo das irmãs, Isabel e Lília, embora dedicadas a outras actividades, assim como da própria mãe, que faz questão de passar regularmente na empresa e deixar sugestões.
“É preciso dar oportunidade aos mais novos de mostrarem o que valem”, salienta Ilídio, para evidenciar que é esta postura que tem permitido à acompanhar as mudanças que se vão sentindo no mercado e continuar a ser, volvidas estas décadas, uma referência para diferentes gerações. A empresa de mobiliário e decoração, com duas lojas em Vermoil e uma em Pombal (dedicada à área do descanso), é hoje um manancial de memórias, revisitadas frequentemente por quem ali entra. “Ainda temos os móveis que aqui comprámos há 50 anos e agora trazemos os nossos filhos”, ouve-se, muitas vezes, dos clientes mais antigos, que regressam agora, mas acompanhados dos filhos, que escolhem a mesma loja para mobilar a casa.

Cinco filhos e 14 netos
Em 1998, quando a vida de Ilídio do Mota – pai – foi interrompida, a família ficou mais pobre, mas também a comunidade. Júlia Mota e os cinco filhos não deixaram esmorecer o sonho do empresário e Ilídio da Mota (filho) acredita que o pai estaria hoje orgulhoso desta sucessão (aos filhos juntam-se agora 14 netos) e do rumo que lhe foi dado.
Ao longo de seis décadas, o negócio da família seguiu a par e passo com as tendências do mercado e o mundo digital revelou-se, muito em particular na pandemia, uma ferramenta crucial na concretização de negócios. A pouco e pouco, a distância física deixou de ser um obstáculo.
Antes disso, e ainda longe da era das ferramentas digitais, Ilídio da Mota e o irmão, Gabriel, dizem que foram os emigrantes os grandes veículos de divulgação da casa, fora das fronteiras da região. Desde 1992, altura em que abriu o mercado livre, “iniciámos logo as entregas fora do país”. Começaram no Luxemburgo, mas rapidamente o negócio se expandiu para França (hoje em dia o principal mercado de actuação fora de Portugal) e Suíça. “Fazem questão de levar daqui produtos de qualidade”, denominador comum a todos os artigos comercializados, independentemente da gama escolhida, salienta Ilídio da Mota.
Dentro das fronteiras nacionais, os Móveis Ilídio da Mota dispensam apresentações, sobretudo na região Centro, mas a marca tem também uma vasta carteira de clientes nas grandes cidades. As ferramentas digitais (redes sociais e site) têm sido um canal fundamental para comunicar com os clientes, mesmo os mais próximos, de tal modo que na maior parte dos casos a primeira visita é feita através do site. Graças à ferramenta de chat adicionada na altura da pandemia, os interessados estabelecem, logo ali, o primeiro contacto. Mas mesmo à distância, Ilídio, André e Gabriel não abdicam do atendimento personalizado nestes contactos que culminam, quase sempre, numa visita ao local. A relação de confiança estabelecida entre cliente e vendedor é de tal ordem, sustentada na credibilidade da casa, que há mesmo quem concretize o negócio todo através destes canais.
Em linha com a aposta na inovação está também o novo logótipo. A última renovação foi feita por ocasião dos 50 anos da casa e uma década depois depois a imagem volta a sofrer mudanças. “Simplificámo-lo”, sintetiza Ilídio da Mota.
Sobre as tendências na decoração e mobiliário, Gabriel da Mota diz que há “cada vez mais liberdade” nas escolhas. Os materiais naturais são, no entanto, uma forte tendência, em consonância com a sustentabilidade. “São produtos mais duradouros, porque são menos trabalhados, tornando-se menos nocivos para a natureza”, explica.
Aos espaços sociais (cozinha e sala-de-estar) é dada também especial atenção, com a opção por “produtos mais robustos” e também “flexíveis”, como é o caso das mesas, com modelos que se adaptam ao número de pessoas.