Tanto Paris, como Londres anunciaram no passado mês de julho que pretendem que a venda de automóveis a gasóleo e a gasolina termine em 2040, admitindo um prazo adicional de 10 anos para que os detentores desses automóveis (à data) possam desfazer-se deles e adquirir um carro elétrico, híbrido ou movido com recurso a uma outra fonte energética, mais amiga do planeta.
Para que este desafio da mobilidade mais barata, segura e amiga do ambiente seja amplamente alcançado, é vital continuar a inovar em baterias recarregáveis de uso doméstico, de alto rendimento, compactas, duráveis e com grande capacidade para armazenar, (de forma rápida), eletricidade proveniente não apenas da rede, mas de energia solar e eólica, por exemplo.
Se há empresa que tem estado na vanguarda da apresentação ao mercado de verdadeiras soluções energéticas e de mobilidade mais amigas do ambiente é a Tesla. No caso dos automóveis, a Tesla tem sido apelidada de a apple dos carros, pela mudança de paradigma que pretende trazer ao conceito de mobilidade, pois tal como o iphone não é apenas mais um smartphone, um veículo Tesla também não pretende ser apenas mais um automóvel. A Tesla fez recentemente a entrega, nos EUA, das primeiras 30 unidades do seu model 3, o seu quarto veículo 100% elétrico, com uma autonomia (anunciada pela marca), acima dos 350km com um único carregamento, design atraente, performances ao nível dos atuais veículos com motor de combustão e, sobretudo, a um preço que se espera acessível à maioria dos cidadãos (preço base de 35.000 dólares nos EUA)! Lá mais para o final de 2018, quando as primeiras unidades forem comercializadas em território nacional, veremos se será mesmo assim!
O automóvel Tesla vem preparado para operar em auto-condução e terá garantidas atualizações (à distância) do software que o integra e a adesão a uma plataforma de car sharing, permitindo ao detentor do veículo, em qualquer momento, obter um ganho efetivo adicional quando não o estiver a utilizar. Estas e outras inovações prometem mudar a forma como encaramos o automóvel, a sua obsolescência, o sentimento material da posse, o custo da sua utilização (independente da oscilação do preço do petróleo) ou a segurança rodoviária.
Este é apenas um pequeno exemplo de como as novas tecnologias que estão a fundir os mundos físico, digital e até biológico (com destaque para a inteligência artificial e a internet das coisas), estão a mudar drasticamente o nosso mundo.
Mas nem tudo se afigura assim tão fantástico… A consultora de tecnologia Gartner estima que até 2025 um em cada três empregos terá sido substituído por robôs ou inteligência artificial. Esta perspetiva cria uma enorme pressão sobre a sociedade, quer em termos de emprego, quer, por exemplo, em termo da sustentabilidade da segurança social. Sem referir atenuantes como sejam o envelhecimento da população, que irá naturalmente retirar mão de obra do mercado, de forma progressiva nos próximos anos, ou possíveis travões à robotização, como sejam um eventual imposto social sobre a automação inteligente, é importante perceber, no meio desta “colonização” tecnológica, onde podemos (continuar a) marcar a diferença?
É certo que os algoritmos estão a tornar-se cada vez melhores no reconhecimento de padrões, quando estes são fornecidos com grandes conjuntos de dados (vg big data), permitindo melhorias incríveis em previsões e diagnósticos, revelam-se muito pouco eficazes perante circunstâncias incomuns que não se encaixam no padrão usual, ou simplesmente quando os dados são escassos, têm algum “ruído” ou são completamente novos (sem qualquer histórico). Para lidar com esses casos e quando a interpretabilidade se afigura fundamental para suportar a tomada de decisões, é mesmo necessária uma pessoa (qualificada, claro), mas munida da experiência, intuição e consciência social, ferramentas que a inteligência artificial ainda não conseguiu ainda não conseguiu criar.
Os supercomputadores, que têm de estar sempre ligados a uma boa e ininterrupta fonte de energia (nunca esquecer!), podem realizar cálculos muito complexos, mas estão longe de nos conseguir substituir na verdadeira compreensão dos outros, ou os super robôs, que já desenvolvem hoje inúmeras tarefas domésticas rotineiras, mas não conseguem competir connosco a rodar uma válvula, subir escadas, abrir uma porta ou simplesmente a olhar alguém nos olhos e sorrir genuinamente!!!
Pois é… Como diria a minha avó Preciosa: “O sorriso custa muito menos que a eletricidade e dá muito mais luz”.
Miguel Matias | Economista
miguel.matias@ymail.com