Decorrem em Pombal desde o dia 7 de Março as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril num programa vasto e intenso, que decorrerá até dia 1 de Maio e que tem os méritos de: levar iniciativas às diversas freguesias do concelho, de tentar envolver as várias gerações e de permitir a participação de algumas das instituições locais nomeadamente das orquestras filarmónicas. Deste programa, quiçá demasiado preenchido, fazem parte variados eventos como concertos, debates, exposições, espetáculos culturais diversos, atividades desportivas, iniciativas nas escolas além das cerimónias oficiais a realizar no dia 25 deste mês.
Dos eventos já efetuados, destaco as conferências realizadas no dia 23 de Março com Miguel Poiares Maduro e no dia 4 de Abril com Henrique Monteiro. Em ambas as sessões, os conhecimentos transmitidos pelos oradores foram muito enriquecedores, baseados na sua experiência de vida e na sua grande capacidade intelectual e cultural.
A censura, tema da segunda conferência, foi utilizada durante o Estado Novo com o principal objetivo de manter uma determinada imagem do País, baseada em dogmas políticos, sociais e morais. Com o eclodir da guerra colonial na década de 60, o controlo das diversas atividades culturais e da comunicação social, apertou-se, tentando-se esconder da metrópole os acontecimentos que iam sucedendo no Ultramar.
Com o 25 de Abril e após um período revolucionário no qual, em alguns casos, censurados e perseguidores trocaram papéis, Portugal alcançou a liberdade de expressão, que nos deve permitir com respeito e responsabilidade, emitir a nossa opinião sobre qualquer tema que nos interesse. Durante anos as democracias depositaram no jornalismo a responsabilidade da informação, acreditando que a notícia seria sempre baseada na verdade, pelo menos naquela que os jornalistas conseguem apurar.
Atualmente com a “evolução” digital, que tem tanto de fantástica como de inquietante, a tarefa de informar com veracidade torna-se quase impossível. Vivemos numa sociedade onde quase tudo é efémero, que existe fome de sensacionalismo e de “factos” novos, onde não existe tempo para a análise detalhada efetuada por verdadeiros especialistas ou estudiosos.
Paralelamente, temos uma geração que cresce e aprende envolvida numa realidade virtual, com muito pouca informação conceptual ou ideológica que lhes permita elaborar um raciocínio crítico sobre a realidade que a rodeia.
São milhares os cidadãos do nosso mundo e do nosso país que a única informação que absorvem é aquela que lhes chega através das redes sociais e não falamos das plataformas digitais de jornais, rádios ou de canais de televisão, mas sim, maioritariamente, de páginas com origens duvidosas, difundidas sem qualquer sentido crítico por influencers sem escrúpulos ou por intermédio de perfis falsos.
A forma como políticos nacionais e europeus ignoram esta realidade sem tomar quaisquer medidas que possam filtrar a informação que circula pelo globo, deixa-me angustiado.
É certo que sem liberdade de expressão não existe democracia mas sem verdade e sem uma população informada, culta e com sentido crítico temos uma democracia incompleta e doente. 50 anos depois do 25 de Abril, o perigo para a nossa democracia e não só, não está na extrema direita mas sim na falta de verdade, que estranhamente costuma ser uma característica de regimes autocráticos.
Telmo Lopes
Presidente da concelhia de Pombal do CDS-PP