No passado dia 15 de Junho falámos de Sicó e sentimos todos a #SICOTERAPIA quando o Professor Carlos Silva nos elencou as emoções que ainda hoje sente quando olha para a imponência da paisagem destes 430 km2.
A determinada altura, o meu pensamento saiu da Associação de Pousadas Vedras e instalou-se num processo de compra de 2 semanas de férias num território de património geomorfológico incomparável.
Fiquei absolutamente rendido ao Sicó que me estava a ser apresentado.
O maior canhão cársico de Portugal, as dolinas, o Poio Velho, as Buracas do Casmilo, a Cascata de Rio de Mouros, a Nascente do Anços e Ourão, 142 lugares de interesse Paleontológico, a Torre de Santiago da Guarda e a antiga cidade romana de Conímbriga, um dos sítios arqueológicos mais ricos de Portugal.
Entramos depois no subsolo em visitas com espeleólogos, saímos para ver orquídeas e toda uma flora autóctone endémica, vamos à Capela da Senhora da Estrela, de São Mateus e vislumbrar a paisagem asfixiante da Senhora do Círculo, para vos falar somente de parte das maravilhas aqui existentes.
O mundo, mudou disse o professor, já não estamos em 1950 quando conheci o território e Sicó assim como quem cá mora precisa de se adaptar. Crescer e vender a sua riqueza como um produto, ao exemplo do que outros fazem, como é o caso de Fátima.
Que viagem! Que paixão! Que dedicação de uma vida a um património tão desprezado.
Depois de retemperar as emoções, com um chazinho de ervas campestres, seguiu-se o Eng.° José Pais que trouxe a humanização. Para o Homem, mexer, é normalmente sinónimo de degradação.
Transformação florestal, alteração de paisagem, diminuição de Biodiversidade, cultura intensiva e extensiva de monoculturas, mosaicos florestais, aumento do perigo de incêndio, faixas de gestão de combustível, desordenamento, desinvestimento, fuga de população, abandono, emigração, sucata florestal, perda de rendimento; um ciclo vicioso difícil de inverter mas que não é impossível e que em Sicó é completamente exequível.
Chegou a vez da Ivânia Monteiro. Confesso que tinha muita curiosidade em a ouvir e fui logo conquistado na primeira frase. A Ivânia tem objetivos muito claros para o EXPLORE-SICÓ. A obra não é o projeto! É uma porta de entrada para algo muito maior.
Depois segurou-me ao discurso com o diagnóstico do passado e do que tem pela frente, mas como lhe dizia a mãe enfermeira “Diagnóstico não quer dizer destino” e o EXPLORE-SICÓ não está condenado e vai mesmo ser um centro de interpretação de toda a região.
Uma oradora cativante e agregadora, que se rodeou de bons técnicos, de gente capaz e motivada para a ajudar. Desejo-lhe o maior sucesso porque Sicó bem precisa que o obtenha.
Antes do almoço e já com o horário alargado, apresentou-se a representante do ICNF. Sou critico assumido deste instituto público e reconheço que lhe cabia a tarefa mais difícil de todas. A Dr.ª Anabela mostrou o que tinha. Legislação, objetivos, desafios e oportunidades de financiamento para uma das 17 ZEC´s (zonas especiais de conservação) que a delegação regional do ICNF tem como responsabilidade. Projetos que não passam disso mesmo e que desesperam quem espera deste Instituto que tutela a conservação da Natureza, mais alguma ação. No final as questões foram muitas e não fossem 14 horas e os barulhos dos estômagos, ainda agora lá estávamos nos “porquês”.
Depois do almoço veio a Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, associação sem fins lucrativos, com sede na Aldeia do Xisto de Aigra Nova, em Góis, tem como objeto a conservação e a valorização do património natural e cultural da Serra da Lousã. Como quase todas as associações, sobrevive! Gostei muito de ouvir a Cátia Lucas e de ver que há por este País muita gente voluntariosa que dá muito de si, para que o futuro ambiental, seja melhor do que aquele que as gerações passadas, por ignorância ou avareza, nos deixaram.
Chegámos às mesas redondas, sendo a primeira excecionalmente moderada pelo Sidónio Santos e que juntou à conversa o Gonçalo Costa da Vini-Sicó, Manuel Terceiro da Sicolmeia e o Filipe Coimbra, empresário que inverteu tendências e voltou para Portugal para se dedicar à agricultura regenerativa e à produção de cerveja artesanal. Todos reconhecem o potencial, a capacidade produtiva, a evolução positiva do cooperativismo/associativismo, mas todos reconhecem que o apoio público que precisam para prosperar, está muito longe de ser suficiente e principalmente eficaz na promoção dos produtos.
Há um profundo desprezo institucional dos produtos endógenos, sem apoios na distribuição, na gestão dos produtos classificados com D.O.P. (Denominação de Origem Protegida) e ao consumo local de produtos endógenos.
As criticas à Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó foram mais que muitas e é pena que, apesar do convite, não se tenham feito representar neste evento.
A segunda mesa redonda contou com a moderação de João Forte e teve como oradores Hugo Neves do GPS-Grupo Proteção Sicó e em substituição do Manuel Malva da Associação Milvoz esteve Jael Palhas, um conhecido ecólogo/botânico. O desenvolvimento económico e a conservação e preservação dos habitats, as ligações intrínsecas entre gestão de património natural e rentabilização financeira de recursos, as limitações financeiras à investigação e a falta de incentivos municipais ao mapeamento e registo de espécies características da região, são as dificuldades mais prementes.
O final da conversa centrou-se na propriedade, na gestão de baldios e na exploração de inertes, ficando no ar a ideia de algum favorecimento a interesses económicos privados. Um tema que daria com toda a certeza debate para mais umas horas mas que ficará para a agenda duma outra conferência.
A conferência Sicó-ideias para o futuro, juntou conhecimento, trouxe ideias e soluções para problemas crónicos, criou expectativas que apenas precisam de decisão política para serem realidade. A riqueza de Sicó é muito mais do que o calcário e ficou patente que quando todos se juntam é possível gerar consensos.
Para terminar, uma nota para a organização da concelhia do CDS-PP. Não fosse a caneca comemorativa, tinha passado completamente despercebida, tal como uma boa arbitragem num jogo do Euro 2024.