À hora a que escrevo este texto o Papa Francisco estará a chegar a Roma depois de cinco dias intensos em terras Lusas. Durante a sua estada por cá foi, como era expectável, o grande dinamizador da JMJ, deixando a Todos, os que o quiseram ouvir, a sua mensagem de inclusão e de Amor. Nos tempos atuais não temos muitas vezes disponibilidade para o essencial, para escutar, para amar, para cuidar de quem mais precisa e para ser amado. São tempos difíceis, muito exigentes profissionalmente, com muita intolerância, muitos apelos ao materialismo e com evolução científica e tecnológica constante, tudo isto a um ritmo frenético.
Neste contexto é comum ouvirmos os nossos políticos, nacionais e europeus, a falarem em transição digital como se essa fosse a grande prioridade da nossa sociedade e mesmo a panaceia que vai resolver grande parte dos problemas do mundo e da humanidade. A digitalização do mundo é por certo inevitável, mas temos que ser nós a definir o ritmo dessa evolução.
Decorre atualmente o programa ”década digital” com metas e objetivos concretos para 2030 e que orientará a transformação digital da Europa. Em 15 dezembro de 2022 as autoridades europeias assinaram a declaração europeia sobre os direitos e princípios digitais que enuncia o compromisso da UE para com uma transformação segura, protegida, sustentável e centrada nas pessoas.
Na evolução da humanidade sempre existiram excluídos, pessoas às quais não são dadas as mesmas oportunidades nem sequer as mesmas ferramentas para aprender, evoluir, crescer e viver.
Todos nós somos defrontados com regularidade com assistentes virtuais, atendimentos automáticos e outras formas de desumanização da sociedade.
Se tivermos um acidente e não conseguirmos dar a localização correta em que estamos, o/a operador(a) da assistência em viagem vai pedir para ligarmos a localização do smartphone, ficando incrédulo(a) se dissermos que não temos tal aparelho. Vários organismos públicos e privados colocam em prática consultas médicas virtuais com vídeo chamada para diminuir os tempos de espera ou dar mais “conforto” aos doentes. Um chinês desenvolveu durante a pandemia uma boca virtual para que as suas vídeo chamadas com a sua namorada fossem mais realistas. Este dispositivo está à venda por 40€ e segundo os seus utilizadores o principal defeito é que não tem língua. Diria eu, que nunca experimentei tal utensílio, então o odor, o sabor, o tato, o calor, a caricia, …tanta coisa que faltará.
Recentemente, na Vila da Guia, uma instituição bancária fechou mais um balcão, não por falta de negócio ou de movimento, mas simplesmente porque os clientes podem usar ferramentas digitais para as suas operações.
Os exemplos desta obsessão desenfreada pela imposição do digital são inúmeros e multiplicam-se diariamente.
Na versão prévia do plano de ação, que o município de Pombal está a desenvolver, o objetivo estratégico n°1 é: – Pombal mais competitivo e digital.
A forma como se excluem grandes camadas da população de participar na vida em sociedade, sendo ostracizadas ao abandono e ao isolamento é criminoso. Quando se fala em discriminação, normalmente só nos lembramos da raça e etnia, religião, género, peso, orientação sexual, condições económicas e idade. Esta segregação de que vos escrevo e que se instala diariamente na nossa sociedade inclui elementos de todos os grupos acima referidos e só aumentará as desigualdades entre cidadãos.
Aos políticos, europeus, nacionais e locais pede-se noção da realidade com definição lógica e racional das prioridades. Fica o alerta!
Telmo Lopes
Presidente da concelhia de Pombal do CDS-PP