Mas que avaliação é esta!!!

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Exames Nacionais:
Alunos, Escolas, Ministério
e Sociedades Científicas

Os exames são, sem dúvida, a melhor bitola para avaliar e, sequentemente, graduar os alunos para entrarem na Universidade. Quanto a este aspeto, aliás, penso mesmo que as notas de frequência deveriam ter uma preponderância muito menor, colocando, objetivamente, alunos de idêntico nível em idêntica graduação. A diferença entre notas internas (as atribuídas pela escola) e externas (as obtidas nos exames nacionais) é enorme nuns casos e diminuta noutros. Há escolas em que existem diferenças de 4 e 5 pontos (em 20 !!), entre as notas atribuídas aos alunos e as que estes alcançam nos exames, enquanto há outras em que os alunos conseguem obter nos exames nacionais resultados idênticos ou superiores aos da frequência (quando sobre esta pesam, outros itens, como oralidade, componente experimental, empenho, comportamento, pontualidade, etc.), ou muito próximas – em ambos os casos existe uma forte dose de irracionalidade na forma como os alunos são classificados, enviesando irremediável e injustamente a classificação final com que todos, os das escolas “generosas” e os das escolas “avarentas”, são graduados para se candidatarem ao ensino superior.
Mas os exames nacionais não servem apenas para ordenar os alunos na entrada na Universidade, são também obrigatórios para a conclusão do ensino secundário, mesmo para quem não pretenda prosseguir estudos superiores.
Para estes alunos, os exames nacionais podem representar um obstáculo quase absurdo, por condicionar a conclusão do ensino secundário. Exames como o deste ano, do 12.º ano, de Matemática, em que se prevê uma hecatombe nacional, ou o do ano passado, de Biologia-Geologia, de 11.º ano, em que a média nacional, face ao ano anterior, caiu mais de um valor, para os 8,4, resultado próximo da tradicional média negativa de Física-Química A (em 2013, de 8,1 pontos), são exemplos de que estas provas não podem estar a avaliar adequadamente o que os programas impõem aos alunos.
Os exames nacionais deveriam medir os conhecimentos que o Ministério exige aos estudantes, plasmados nos programas nacionais, e não constituírem um obstáculo intransponível para os alunos medianos ou, pior, permitir que, nuns anos, estes alunos reprovem a uma disciplina e, noutros, alunos de idêntico nível tenham sucesso. Mas que avaliação é esta!!!
Santana Castilho, nome que chegou a soar para Ministro da Educação, ao invés de Nuno Crato, numa recente crónica de opinião publicada no jornal Público (http://www.publico.pt/sociedade/noticia/a-mediocridade-tecnica-e-politica-1661195) refere que “Um exame bem feito deve permitir que os alunos de positiva modesta ao longo do ciclo de estudos o superem. Isso não impede que contenha questões suficientemente discriminatórias, que forcem a distribuição do universo dos examinandos ao longo de todo o espaço da escala classificativa, de modo a separar os de 10 dos de 15 ou 20. Mas se os de 10 ou 11, regulares ao longo dos três anos da frequência do secundário, forem massacrados com negativas baixas, como muitos prognosticam, então terá razão a APM [Associação de professores de Matemática], que classificou a prova como “completamente desadequada” e “altamente injusta”. Tanto mais que se aproxima dos 90.000 o número de alunos que apenas querem concluir o secundário, sem pretenderem entrar no ensino superior.”
Para além disto, o professor e cronista comenta não só o mediático erro nos critérios de correção do exame de Português, mas ainda uma questão do exame de História, do 11.º ano.
O facto de uma questão de um exame provocar num aluno, que já se encontra numa situação de tensão, perda de tempo e insegurança é indesculpável e nada avalia.
No meio de tudo isto, temos o silêncio das Sociedade Portuguesas científicas, que parece estranho, mas não é. Não é porque o Ministério da Educação e o recentemente criado IAVE I.P. (a partir de uma operação de cosmética do GAVE), de uma forma muito inteligente, envolveram as Sociedades Portuguesas das diversas áreas científicas na revisão dos exames, comprometendo-as com qualquer crítica às provas. Aliás, esta colaboração está expressa nos próprios estatutos, por exemplo, da Sociedade Portuguesa de Física.
E isto é, por dois motivos, incompreensível: Como é que as Sociedades Portuguesas se colocam nesta situação? De quem esperar uma revisão dos exames nacionais?
Aqui, como noutras circunstâncias, não se trata de um erro do convidador ao endereçar o convite, trata-se de um erro dos convidados em não o declinar.

António Pires