Médico admite ter elaborado relatórios sem observar doentes

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Francisco Ferrer, o médico que está a ser julgado no Tribunal de Coimbra no âmbito de um processo de burlas na obtenção de pensões fraudulentas, admitiu que facilitava na elaboração de relatórios médicos, mas alega não ter feito parte de uma organização criminosa.

Perante o tribunal, o clínico explicou que elaborava relatórios médicos, reconhecendo que os mesmos não estariam de acordo com as práticas médicas, pelo que terá facilitado para que as pessoas pudessem obter pensões e outros benefícios. Não só os mencionados no processo em causa, constituídos arguidos, mas também outros semelhantes.

Francisco Ferrer confirmou que, na maioria dos casos, elaborava os seus relatórios com base em outros, que segundo o Ministério Público eram falsificados por uma ex-bancária, também arguida, não pedindo exames ou fazendo perguntas sobre o estado das doenças de constavam naqueles documentos, que eram repetidamente os mesmos, apenas com alterações forjadas nos cabeçalhos.

Durante a sessão de julgamento, o médico nunca admitiu pertencer a uma organização criminosa que emitia documentos para a obtenção de pensões por invalidez, crime do qual é acusado juntamente com uma ex-bancária, uma ex-professora (que se diz amiga de longa data do médico) e o marido desta.

Apesar de reconhecer erros na forma como elaborava os relatórios, Ferrer afirmou que não terá colocado doenças de que os clientes não padeciam de forma deliberada, mas confirmou que “foram várias pessoas” ao seu consultório acompanhadas pela ex-professora. Uma explicação que levou um dos juízes do colectivo a afirmar: “o que o senhor fez, qualquer pessoa podia ter feito. De médico não tem nada”.

O médico, que está suspenso da sua actividade e que é sócio de uma clínica em Pombal, foi ouvido no âmbito de um julgamento com 30 arguidos, estando acusado de associação criminosa, 22 crimes de burla tributária na forma tentada, vários crimes de falsificação de documento e outros de burla tributária na forma consumada.

De entre os arguidos, está acusado oficial de justiça de Pombal, e o seu cunhado, por violação do segredo de justiça, que segundo a acusação terão avisado o médico das diligências policiais que iriam ser efectuadas, fazendo com que este tivesse tido oportunidade para destruir alegados meios de prova.

Orlando Cardoso (texto)

Notícia publicada na Edição nº74, de 04 de Fevereiro