E entretanto mudou a hora. Para o horário de verão. Parece mentira, como o que se diz ser o 1 de abril que também já lá vai. E mudou no primeiro dia de inverno da primavera. Devolvemos ao tempo o tempo que ele nos deu nos últimos suspiros de outubro.
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Naquele dia era primavera no calendário e no céu. Numa curta passagem pela experiência de estar “do outro lado” numa sala de aulas, levei a metodologia de “balanço de competências” a um público que não está “formatado” para estas temáticas, mas sim para cuidados continuados e paliativos. Deram-me mais do que possam imaginar. E mostraram-me que o que levei imprimiu-lhes um significado acrescido na aprendizagem. Acredito que ensinar também é isto: levantar da cadeira, dialogar, partilhar e cultivar a predisposição para aprender. Sempre me vi mais a falar com eles do que para eles.
Vidrados na rotina, no tempo, nas horas que os dias têm (e nas que não têm) e em tirar gansos vivos de acanhadas garrafas de vidro sem as partir, quantas vezes nos esquecemos de sentar (numa esplanada, numa rede de baloiço, na areia com o mar a roçar os pés descalços e livres, numa pedra no cimo da serra de onde se avista a da Boa Viagem em dias destapados) e refletir: de onde vimos, onde estamos, para onde vamos. A isso, em Educação e Formação de Adultos, chamamos “balanço de competências” e com isso construímos uma narrativa autobiográfica. Ou uma história de vida. E isso contribui para a conscientização, para uma abordagem emancipatória e para uma (trans)formação experiencial.
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Num dos momentos em que me sento (e sinto), acompanho textos de opinião, notícias e por aí fora. Cá dentro, perto de nós, neste retângulo. E aqui, perto de nós, onde as histórias de vida são uma prática que constitui um desafio e uma possibilidade de tomar a vida nas suas próprias mãos e uma arte singular de fazer de si uma obra.
Sim, entretanto mudou a hora. Para o horário de verão. E mudou no primeiro dia de inverno da primavera. E não é mentira que ainda muito há a mudar para reduzir as taxas de analfabetismo (funcional, digital, …) e contribuir para que mais gente (e mais gentes) acreditem que “as histórias de vida permitem abrir para uma outra maneira de pensar a formação de adultos e a relação dos adultos ao saber e ao conhecimento” (Couceiro, 2000, p. 75), pois as pessoas não só fornecem matéria para o conhecimento como produzem conhecimento de si para si.
Sim, ainda há muitas linhas a escrever para cozer a Educação (e Formação de Adultos). É sempre hora de ir ali adiantar mais algumas…