N(A) ESCOLA DA VIDA | Caminho(s)

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Desde há doze anos há questões basilares que me acompanham e ajudam a ajudar os outros a construir um portefólio de aprendizagens e competências. São três as que servem como ponto de partida e nas quais assenta a reflexão de meses: “de onde venho?”, “onde estou?” e “para onde pretendo ir?”.


Levei essas questões na mochila, no meu silêncio e recato, quando fiz o Caminho. Dentro dela, ainda quatro quilos de mínimo indispensável. Um caderno. E uma caneta. Nem mais, nem menos. O suficiente. O mais importante surgiria e far-se-ia a cada passo, no (e durante o) próprio percurso.
Não se tinha tempo para adiar a aprendizagem, à semelhança do que António Ramos Rosa escreve em relação ao amor. E aprende-se, verdadeiramente, a amar o Caminho. Essa aprendizagem começa assim que se dá o primeiro passo e no final da primeira etapa já se tem uma noção do que é administrar a ansiedade, gerir as dores e lapidar a paciência. É, porém, um processo que se vai aperfeiçoando com o fluir dos quilómetros, dos sentares e dos sentires, dos rostos e olhares que se cruzam e das histórias que se ouvem, partilham e escrevem (não apenas no caderno, mas acima de tudo nas linhas da memória e no coração). Aos poucos compreende-se que cada dia é uma prova de superação que se desfruta a cada chegada e a cada repouso. E que em cada troço a magia acontece quando nos permitimos surpreender por recantos, pântanos, pontes, ribeiros, pedras, terra, alcatrão e espaços. Quase em sequência doem os pés, as costas, os joelhos e a anca. Mas a certa altura, é tudo tão ímpar e especial que esquecemos que temos dores… e seguimos.
No final de cada conjunto de cerca de três dezenas de quilómetros diários questionava-me: espacialmente, sabia de onde vinha, onde estava e para onde pretendia ir. Pelo meio, era crucial a mobilização de recursos: tempo, alimento, pausas, hidratação. Tudo isto também é o portefólio, embora este seja muito mais do que um repositório de respostas a episódios objetivos e tácteis. É um instrumento vivo e dinâmico que espelha as competências (percebidas pelo modo como se lida e inferidas através da observação) e a reflexão sobre o que se aprendeu. Ainda hoje, aquelas perguntas basilares continuam a acompanhar-me em vários caminhos e ajudam a tomar consciência de que vivemos rodeados de bens materiais e, por vezes, de frivolidades. Que o mais belo e essencial é, de facto, simples – tantas vezes. Que temos tanto a aprender com a natureza. Que os caminhos nos fazem quando os fazemos. Mesmo que, por vezes, alguns nos doam. E sim, tudo isto também é Educação de Adultos a partir do momento em que contribui para a conscientização e para a transformação, nem que seja apenas a transformação da forma como vemos, olhamos, observamos e sentimos o meio, o mundo e os outros em nosso redor. Os outros… com quem podemos todos os dias fortalecer laços e aprender tanto.

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Embora os documentos legais a identifiquem como natural de Pombal, foi em Coimbra que respirou autonomamente pela primeira vez. Assim, desde o penúltimo dia de dezembro de 1982 assumiu um compromisso com a vida: aprender a ser. Quase duas décadas depois regressou à cidade do Fado e do Mondego para dar continuidade à sua formação académica na área de Ciências da Educação. Aprofundaria aqui o significado de outro pilar: aprender a conhecer. Começou a aprender a fazer em 2007, quando a socialização profissional lhe abriu as portas no ramo da Educação e Formação de Adultos, no qual tem trabalhado e realizado investigação. Gosta de “sair por aí” e observar e fotografar todas as esquinas. Reserva ainda tempo para a escrita, sentindo-a como um elixir lhe permite (re)descobrir uma energia anímica e uma força motriz nos cantos mais inóspitos aos quais muitos olhares não associariam qualquer pulsar. É, neste campo, autora de obras literárias individuais e de vários textos e poemas publicados em coletâneas. E é assim que lê, sente e inala o mundo, num permanente aprender a viver com os outros.