Um dia recordaram-me que “o problema não é estarmos envolvidos, é não nos envolvermos”. Natural de Pombal e aqui residindo, foi nesta terra que iniciei a minha História de Vida, embora outros lugares físicos e tempos psicológicos sejam igualmente parte integrante destas páginas. Parafraseando Maria do Loreto Couceiro (2000, p. 165), “histórias de vida são uma prática que constituem um desafio e uma possibilidade de tomar a vida nas suas próprias mãos, uma «arte» singular de emergência de si, de fazer de si, de certo modo, uma «obra»”. E é isso que cada um vai fazendo, de acordo com as suas escolhas e os seus caminhos, com o seu carisma e a sua forma particular de pegar na caneta do tempo, numa permanente relação com o Saber e o Conhecimento.
Pombal é, há alguns anos, um dos municípios portugueses que integra a Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras e, (também) por isso, tem sido palco de eventos que visam envolver os seus habitantes e visitantes, consubstanciando as suas atividades nos princípios consagrados na respetiva Carta, ao rentabilizar os seus espaços e transformá-los em verdadeiros “laboratórios” de experiências vivas (e educadoras).
As Cidades Educadoras – como a “nossa” – são, assim, locais privilegiados de oportunidades ao dotarem o seu património de capital educativo, podendo exprimir-se em três conceções, de acordo com Jaume Trilla (1993): (1) cidade como meio educativo envolvente (aprender na cidade), segundo a qual o mapa educativo da cidade integra uma série de locais e de atividades que, de forma intencional ou casual, a provêm de formação, podendo constituir oportunidades educativas diversos espaços como bibliotecas, museus, teatros, exposições ou monumentos; (2) cidade como agente educativo (aprender da cidade), sugerindo que a cidade pode ter uma ação positiva (através da sua cultura e civismo) ou negativa (quando é geradora de agressividade e de exclusão, fazendo mergulhar em sentimentos de indiferença); (3) cidade como conteúdo educativo (aprender a cidade), perspetiva que legitima a aprendizagem informal de muitos aspetos quotidianos revestidos de utilidade (como, por exemplo, a capacidade de localização de edifícios e de estabelecimentos).
Há, portanto, uma enorme possibilidade de aprender fora dos limites do sistema educativo e da educação formal; efetivamente, a possibilidade de utilizar os recursos da cidade com fins educativos.
E é esta Cidade (recentemente elevada a Educadora) – na qual tenho crescido – que, entre outras preocupações, tem procurado: estimular a curiosidade; conceber a Educação, simultaneamente, como processo, meio e produto; proporcionar tempos e espaços formais e informais de partilha, de convívio e de aprofundamento de saberes; explorar, sob o ponto de vista educativo, o património e as tradições. E, nesta “Escola da Vida”, todos somos, concomitantemente, professores e alunos, educadores e educandos, formadores e formandos… porque, como nos “diz” o legado de Paulo Freire, um dos mais notáveis e emblemáticos pedagogos: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Por isso, aprendemos sempre”.
Acredito que uma Cidade Educadora veste a nobre Missão de contribuir para sarar as feridas com que o mundo tem sido friamente atingido, pois é um convite à superação da rotina e da solidão, favorecendo a criatividade e a participação e reconhecendo a Educação como um projeto coletivo.
E é (também) por tudo isto que desde aquele dia, quando me recordaram que “o problema não é estarmos envolvidos, é não nos envolvermos”, questiono-me: será que estamos realmente envolvidos e usufruímos do bem que a nossa Cidade (Educadora) coloca à nossa disposição?