A prova dos professores, pomposamente chamada prova de avaliação de competências e capacidades, pouco avalia, muito menos capacidades e menos ainda competências. Há umas semanas, a este propósito, escrevi para o blog “Ponto Laranja” (http://jsdpombal.blogspot.pt/) uma breve crónica que ilustrei com questões que saíram em provas destas, a fim de que se percebesse o ridículo a que se sujeitam os jovens candidatos a docentes.
Não resisto, e tenho de transcrever mais uma; acreditem, a prova está pejada de questões absurdas (do ponto de vista do objetivo da prova):
“A Ana, o João, a Patrícia e o Miguel vão jogar o «Jogo dos feijões». Cada jogador começa com o mesmo número de feijões. Durante o jogo, cada jogador pode perder ou ganhar feijões. O vencedor é aquele que, no final do jogo, tem mais feijões. No final do jogo, apurou-se o seguinte: – o João tem o maior número de feijões; – a Ana tem o dobro dos feijões do Miguel; – a Patrícia tem metade dos feijões do Miguel.
Qual foi o jogador que ficou em terceiro lugar neste jogo?” [seguem-se 4 hipóteses de resposta]
Após a divulgação dos resultados (da prova de dezembro último), há 3 aspetos que saliento:
Quase 900 docentes, entre os cerca de 2500 que se sujeitaram à prova, reprovaram (ora bem, são CANDIDATOS a docentes).
O ministro afirmou que “não faz sentido que um professor dê 20 erros ortográficos numa frase”. Obviamente que não!
O secretário geral da Fenprof considera a prova inútil e que os docentes que reprovam poderão não ser piores que aqueles que passaram. E nisto têm razão, melhores é que tenho a certeza que não são.
Continuo a afirmar que a prova, tal como está a ser elaborada, pouco avalia mas, infelizmente, permite obter sinais preocupantes da formação ministrada por instituições superiores. Os candidatos a professores licenciaram-se (agora até já é obrigatório o mestrado) e as instituições onde estudaram, reconhecidas pelo Ministério da Educação (Universidades ou Institutos Superiores), consideraram-nos aptos para a docência. Não têm estas também responsabilidades? Não devia o Ministérios averiguar o que se passa?
O Ministro fala que os docentes não podem dar erros ortográficos, mas se analisarmos os critérios de correção da prova, a questão de resposta extensa, a única em que é possível avaliar a correção da redação do candidato, vale apenas 20 %, sendo o restante conseguido nas respostas às questões como a exemplificada atrás. Ou seja, é possível que o Ministério considere apto um candidato que seja uma lástima no português escrito e dê 20 erros numa frase.
Os sindicatos ao invés de analisarem os resultados e, a bem da sua própria credibilidade, considerarem que não deviam admitir a sindicalização de candidatos a professores que não sabem escrever, por não terem a competência mínima (escrever!) para ensinar, põe-se com uma verborreia acéfala como se a questão da ortografia fosse um pormenor no mundo de quem ensina!
Que diabo, depois de tudo isto, não faria mais sentido arrumar com as questões comuns de escolha múltipla, do tipo quebra-cabeças, e substituí-las por questões de cada área científica específica (devidamente validade por docentes de reconhecido mérito e instituições de formação superior)? Isto sim, seria uma prova de avaliação de competência, pelo menos da científica.
Esta parte até está prevista, não se percebe bem é a razão porque ainda não saiu e a teimosia em manter-se a dita prova comum.
Saliente-se que sou a favor de uma prova para os docentes poderem exercer, à semelhança do que sucede em outras profissões, mas esta das capacidades e competências avaliadas à laia de passatempos, de forma alguma serve o propósito e está longe de dignificar a profissão.
António Pires
antoniojosecpires@gmail.com