O músico José Afonso inspirou a nova exposição de José Maria Bustorff, patente ao público na galeria do Teatro-Cine de Pombal, espaço onde o pintor expõe pela segunda vez. A inauguração decorreu na sexta-feira, dia 11 de Fevereiro, perante inúmeros convidados, muitos deles amigos do artista nascido na Alemanha mas que escolheu Pombal para viver a partir da década de 90.
“José Afonso, seus amigos e outras telas de intervenção” faz jus àquele que é o fio condutor da exposição: a arte como mensageiro inconformado perante um mundo que está longe de ser perfeito.
Partindo de José Afonso, com quem conviveu de perto e estabeleceu uma relação de grande amizade, Bustorff retrata, nesta exposição, não apenas a figura do músico e compositor, mas socorre-se das telas para dar expressão a muitas outras personalidades, umas mais conhecidas que outras, com origens nos quatro cantos do mundo, mas com um denominador comum: o papel importante que assumiram nas lutas e nas causas que abraçaram.
“Chamavam-lhe [ao Zeca Afonso] o meu sogro, porque eu andava com uma das filhas”, recorda, bem-disposto, no momento em que inicia a visita guiada à exposição. Nas paredes do Teatro-Cine, há 51 pinturas, repartidas por dois pisos, realizadas sobretudo nos últimos quatro anos, que espelham a personalidade irreverente, inquieta, mas sempre atenta do seu autor perante o universo que o rodeia. “Se não fui um músico de intervenção [como o amigo Zeca Afonso], posso ser um pintor de intervenção”, diz, por entre as explicações que vai dando sobre a escolha de alguns dos temas.
Nas telas expostas, Bustorff evidencia as lutas daqueles a quem designou como “heróis discretos”, mas também os mais mediáticos, como Che Guevara ou o jornalista Jamal Khashoggi (assassinado em 2018).
Mas a exposição é, também ela, uma viagem pela História e por realidades onde a crueldade e o sofrimento humano saltam à vista, como por exemplo nas sete telas que compõem “Mais um massacre”.
Numa exposição que tem como protagonista José Afonso, há também espaço para figuras das artes como Picasso (com quem o pintor se chegou a cruzar), Beethoven, Maria Bethânia ou Gilberto Gil, entre outros.
Há, de igual modo, um lugar especial para África, de onde José Maria Bustorff guarda memórias de uma década que cruza vários países daquele continente, onde chegou a dar aulas. No deserto, por exemplo, “abri muito a mente e aprendi muito sobre solidão”.
Não admira que aos 80 anos se assuma como “um rapaz do mundo” para, logo a seguir, lançar o repto: “e agora pergunta-me: como se sente?”. Ao que responde: “ como se tivesse 58” [risos].
Lamenta que os sucessivos Governos sejam liderados por pessoas com pouca sensibilidade para as artes, o que reflecte a falta de aposta na área da cultura, e que às crianças seja dada pouco liberdade para criar. “Não há crianças que não sejam criativas. Têm é de ser estimuladas”, diz, lembrando que foi esta liberdade que lhe foi dada em casa, ainda miúdo, que moldou o seu percurso, o que o leva a acreditar que foi um “privilegiado”.
A exposição pode ser visitada até 11 de Maio, de terça a sexta-feira, das 14h00 às 18h00.