Por estes dias, e a propósito do vigésimo aniversário da Expo 98, ouvi na TSF uma entrevista curiosa a uma das biólogas do Oceanário que estava ao serviço aquando da exposição. Nessa entrevista, disse que muitas pessoas que visitavam o Oceanário se lhe dirigiam a perguntar pelo aquário dos bebés. Com certeza que alguns se recordarão do anúncio televisivo de promoção da Expo 98, no qual uma trupe de bebés nadava alegremente naquilo que parecia o fundo dos oceanos. O anúncio estava muito bem conseguido tendo em conta a época em que foi feito e teve o condão de convencer muitos cidadãos de que haveria na realidade um aquário com bebés nadadores no oceanário. Na entrevista, a bióloga descreveu a cara de desilusão dos visitantes quando lhes transmitia que o mais próximo dos humanos que andava por lá a nadar eram duas lontras chamadas Amália e Eusébio. A expressão de desapontamento que a bióloga descreveu de forma tão prolixa não deveria ser muito diferente da das pessoas que pensavam que iriam visitar uma feira nacional e deram de caras com aquelo evento que se realizou entre 18 e 20 de Maio, ali para os lados da ETAP, sob o cognome de Feira Nacional da Floresta.
Não gosto de desfazer do trabalho dos outros. Com certeza que as pessoas que se empenharam na sua concretização deram o melhor que podiam e sabiam. A minha crítica consubstancia-se na forma ligeira de como mais uma oportunidade de afirmar e diferenciar a nossa cidade e o nosso concelho foi tratada. Aquando do lançamento da primeira edição do evento era vereador e recordo-me de elogiar a iniciativa e de referir o enorme potencial evento. Lembro-me de referir que se fosse conferida escala ao evento poder-se-iam abrir portas no nosso concelho para a centralização de estruturas de produção de conhecimento (centros tecnológicos) nesta área com tanto potencial, e ainda debilmente explorada no nosso país. Esta centralização criaria as condições necessárias ao aparecimento de um cluster de indústrias relacionadas com a fileira florestal. Pensei convictamente que, face à sucessão de tristes acontecimentos que catapultaram a temática da floresta para a agenda governativa e mediática, que o evento pudesse ganhar uma dimensão mais próxima do seu potencial (recorde-se que contou com o Alto Patrocínio do Sr. Presidente da República). Nada mais errado. Foi um evento triste, mal promovido, confinado (na cidade andavam todos a passear de carroça a comemorar o Festival Pombalino) e, notoriamente mal compreendido por quem tinha a obrigação de o olhar como uma oportunidade de diferenciação. E este era o ano “A” para a aproveitar. Não me repugnaria que a Feira Nacional da Floresta passasse a coincidir com as festas do Bodo como forma mais fácil de lhe conferir escala e atractividade. Recordo-me que, em tempos, as festas do Bodo abraçaram já a temática da agricultura (Agro-Bodo).
Para terminar, gostaria de deixar uma nota de solidariedade para com os responsáveis da Escola Superior Agrária de Coimbra que, apesar da sua história de 131 anos, tradição e notoriedade, ficaram apavorados quando o Sr. Presidente da Câmara anunciou, na sessão de abertura da feira, a intenção de criar em Pombal uma escola superior nas áreas da floresta e agro-indústrias. Não suportarão com certeza a concorrência. Talvez tivesse sido preferível que, aquando da intenção do Instituto Politécnico de Leiria em deslocalizar um dos seus cursos, que o Sr. Presidente demonstrasse a habilidade negocial necessária para o trazer para Pombal. Assim ficaríamos todos felizes. Quase tão felizes como os bebés nadadores do anúncio da Expo 98.
*O autor deste artigo acha que quem pensou o novo acordo ortográfico “não sabe nadar, YO!”.