Num momento em que a cidade se está a engalanar para receber mais umas festas seculares do Bodo, o presidente da Câmara Municipal de Pombal fala das novidades e das expectativas para este ano. Diogo Mateus destaca a consolidação de mais um dia de festa (a terça-feira) e considera que “o Bodo é, antes de mais, uma festa de carácter religioso”, pelo que “não é, nem deva ser, um festival de Verão”. Um dos momentos altos acontecerá com a inauguração da Loja de Cidadão. Uma cerimónia presidida pelo secretário de Estado do Ambiente, João Ataíde.
Pombal Jornal (PJ) – Mais um Bodo. Quais as novidades para este ano?
Diogo Mateus (DM) – Este Bodo, eu diria que, de uma forma discreta, traz-nos algumas novidades que eu espero que perdurem. Introduziram-se algum tipo de alterações que começámos a experimentar há alguns anos e que nos parecem, verdadeiramente, que fazem sentido implementar. A primeira é termos mais um dia de espectáculo. Não terminamos com o espectáculo de segunda-feira, como tradicionalmente acontecia, e introduzimos o espectáculo de terça-feira…
PJ – Que já vinha a ser “testado” nos últimos anos…
DM – Nos últimos três anos fizemo-lo no Jardim do Cardal e, de facto, percebemos que para muita comunidade nossa que está fora do país pode ser interessante termos mais este dia. Sendo mais um dia de espectáculo, será também mais um dia de divertimentos e de exposição de actividades económicas, aproveitando as estruturas já instaladas. Depois, temos a possibilidade de encaixar no programa de sábado à noite o Rally Alitém, com uma prova especial de classificação urbana. Será um atractivo de um outro tipo de público que poderá vir à cidade e aproveitar a oferta que as festas lhe proporciona. Este ano, também, e estamos a incluir no calendário do Bodo embora já seja fora do Bodo, teremos a passagem da Volta a Portugal em Bicicleta, a 1 de Agosto, com uma meta volante no centro da cidade. Um factor adicional de entusiasmo que prolonga toda a semana de actividades com a componente desportiva.
PJ – Sendo um dos pontos altos a inauguração da Loja de Cidadão?
DM – Sem dúvida. Em 2014 tivemos a cerimónia protocolar com vista à instalação da Loja de Cidadão com o então ministro Poiares Maduro. Agora vamos ter o concretizar do projecto. Para além do próprio espaço, será instalado no mesmo edifício os serviços de Cultura e Turismo, libertando espaços para se começar a pensar já na ampliação do Museu Marquês de Pombal. O que faz todo o sentido se considerarmos que em 2020 comemoraremos os 250 anos da nomeação do Conde de Oeiras como Marquês de Pombal. Já pedi esse projecto para sabermos de que forma podemos ampliar toda a área expositiva do museu.
PJ – Mas a inauguração da Loja de Cidadão é um marco que ficará associado às Festas do Bodo…
DM – É, é! Eu diria que, mais do que possa constituir a mera reabilitação urbanística do espaço, do edifício em si, e da área envolvente, eu acho que acima de tudo é um passo decisivo para aquilo que é a revitalização do centro histórico da cidade. Isto, depois dos trabalhos de requalificação do espaço público, depois da criação de incentivos para a utilização de prédios particulares, sob o ponto de vista de redução ou isenção de taxas, licenças e impostos, e do fomento da utilização de lojas… Eu estimo em uns milhares de cidadãos que irão passar – para além daqueles que vão às Finanças – a ser utilizadores daqueles espaços e a terem de percorrer aquelas ruas. A Loja de Cidadão concentra um conjunto vastíssimo de serviços. A própria Câmara transferirá para lá o seu próprio espaço do cidadão, até porque não fazia muito sentido que na Loja de Cidadão o seu promotor principal não tivesse resposta a quem quisesse pagar a água, tratar de uma licença ou de outro assunto de foro municipal. Por outro lado, iremos aumentar a capacidade de estacionamento, após termos adquirido um imóvel para o efeito. Será uma nova solução para as pessoas que ali vão. Decisivamente, a Loja de Cidadão é, do ponto de vista da humanização, da presença de pessoas naquele espaço, um esforço grande que estas entidades todas darão para a revitalização do centro histórico.
PJ – E poderá fomentar, também, a reabilitação do edificado?
DM – As políticas de reabilitação que o Município de Pombal implementou nos últimos cinco anos têm no Largo do Cardal um cartão de visita que é insuperável. Não há edifício nenhum que não tenha sido intervencionado e intervenções de fundo, beneficiando dos estatutos que o município criou e que podem fazer diferença neste tipo de investimentos. Acho que há cinco anos ninguém pensava que isto se faria tão depressa, considerando que são, talvez, mais de uma dezena de proprietários distintos. Julgo que essa medida resultou bem e espero que continue a desenvolver-se para outros locais. Aliás, foi por essa razão que a Câmara criou mais áreas de regeneração urbana, em Abiul, no Louriçal, na Guia, na Redinha, em Albergaria dos Doze e agora em Pombal com a ampliação para outras zonas, como o Seixo e o Emporão.
PJ – Regressando à programação das Festas do Bodo…
DM – …teremos uma exposição muito curiosa. Num ano que o cartoonista António foi particularmente falado, teremos uma mostra com 60 ou 70 conhecidíssimos cartoons que desenvolveu nos últimos 40 anos, retractando momentos da sociedade e da política nacional e internacional. Destaco, ainda, uma actividade que me parece que vai ser muito interessante, que é no teatro de rua fazermos a apresentação do que foi a praga dos gafanhotos em Pombal e o que isso tem a ver com as festas do Bodo. Levarmos aos mais novos, e aos mais velhos, essa representação simbólica ilustrativa do que foram esses tempos, ou pelo menos essa memória, e o que o Bodo tem a ver com isso. Um bocadinho a passagem do testemunho cultural.
PJ – Quanto ao cartaz de espectáculos. Continua a haver uma aposta na diversidade da oferta musical?
DM – Com certeza. José Cid é um artista consagrado. Todos os anos temos tido uma personalidade da música portuguesa consagradíssima, eu diria mesmo, intemporal. Depois temos a Blaya, nova geração absolutamente. Temos depois uma inovação, cantando português, mas um brasileiro a cantar nas festas do Bodo. Um brasileiro consagrado que é Gabriel, o pensador. Depois diferente, Carolina Deslandes, uma nova geração portuguesa, mas também apreciada pelos mais velhos. E o Toy para fechar, um artista mais popular com êxitos conhecidos de toda a gente. Uma belíssima oportunidade para acabar em festa. Claro que temos as bandas locais na quinta-feira que têm um palco com algumas dimensões para se poderem apresentar, para além de outras ofertas, com destaque para o tradicional festival de folclore.
PJ – Quanto ao investimento com as festas, um orçamento contido?
DM – O esforço que temos feito é garantir que a utilização dos espaços públicos, as concessões, as publicidades, os patrocínios… nos ajudem a ter uma factura menos alta. Este ano devemos ultrapassar um bocadinho os 300 mil euros de orçamento para estes dias todos de festa. Continuamos com os concertos todos com entradas gratuitas e estimo que o esforço municipal possa andar nos 50 ou 60 mil euros. Não me parece nada excessivo. Um euro anual de cada pombalense para fazer umas festas de seis dias parece-me um valor extremamente razoável.
PJ – E uma aposta para que o Bodo de Pombal seja uma referência na região?
DM – Essa expectativa existe sempre e ninguém consegue nunca tirar. Já há uns anos se fazia esta discussão que é, se esta, como todas as festas com estas características, tem uma identidade e se deve acompanhar os tempos, mas o tempo não deve destruir. Sabemos que o Bodo, antes de mais, é uma festa de carácter religioso. O Bodo não é, nem acho que deva ser um festival de Verão. As festas têm um público que é muito fiel e que faz questão de estar presente. Mais preocupados do que estar a tentar fazer uma inovação, eventualmente pervertendo-a, acho que a obrigação deverá ser muito mais fazer essa inovação garantindo a tradição. No fundo, há um formato e um conjunto de eventos que as pessoas esperam que aconteça: as procissões, as provas desportivas, o festival de folclore, os divertimentos, os espectáculos…