Há 600 anos, o Bombeiro era a Pessoa que tinha por missão extinguir os incêndios (com bomba,
segundo a raiz do termo) e que, agora e por extensão, acorre a todos os acidentes que ponham em risco
as vidas humanas e os seus haveres, lê-se no livro “Bombeiros Portugueses, Seis Séculos de História”.
A sua divisa Vida por Vida foi, este ano, notícia triste.
A 12 de Agosto de 1950, o jornal “O Eco”, publicava “A Honra do Bombeiro”:
Rompe nos ares o brilho acobreado
Do fogo ingente e vil traiçoeiro;
Na noite escura a chama do braseiro
Faúlha o Céu de estrelas em brocado.
Correm fantasmas vivos – um, primeiro,
Julgando-se por zelo já atrasado;
– Outro, depois, que mais ensonorado
Só cuida na corrida ser ligeiro.
Há vozes de comando. Em cada posto,
Um homem valoroso oferece o rosto
Ao fogo ingente e vil traiçoeiro.
E na tremenda luta, a força ígnea
Vem renovar o viço desta insígnia:
Vida por Vida – a Honra do Bombeiro…
Ontem, como hoje, o Bombeiro é das pessoas mais bem preparadas para socorrer o seu semelhante, a
troco de uma mão vazia e da outra cheia de nada.
O seu amor à causa faz com que se esqueça que o Estado lhe retirou os poucos benefícios que tinha.
Mas corremos sérios riscos dos Voluntários abandonarem a causa, sem que o Estado tenha alternativa
para socorrer as populações.
Não é por acaso que, todos ao anos, nos estudos que são publicados, os Bombeiros são aqueles em que
os portugueses mais confiam.
Os Bombeiros sabem, que se não tiverem a sua segurança, física e psicológica, não conseguem socorrer
ninguém, mesmo pouco sabendo de leis.
Estamos a atravessar um período negro, onde a segurança dos meios de subsistência próprios e
familiares está posta em causa, obrigando muitos Bombeiros Voluntários a terem que emigrar a fim de
reporem a segurança familiar.
Mas a sua força anímica é imensurável.
Há notícias frequentes de agentes de autoridade que se suicidam com as suas armas de serviço.
Os Bombeiros lutam, com os seus machados, por uma causa nobre.
Talvez seja do vermelho das suas viaturas.
O vermelho, uma cor entre Deus e o diabo.
O sangue de uma ferida, um pedaço de terra manchado por óxido de ferro, o rubi a representar o que
está para além do que se vê numa coroa.
O vermelho é fisicamente associado ao fogo, quente, transformador, destruidor e salvador ao mesmo
tempo.
Na Bandeira Nacional o vermelho é o incentivo para a vitória.
O vermelho marca corpos, espaços, imaginários. Determina simbologias e organiza hierarquias de
poder. É a cor das cores.
No caso dos Bombeiros é a cor de alerta. O vermelho é utilizado nas suas viaturas de emergência. É a cor
ideal para sinalizar urgência, perigo. Não é universal, mas corresponde à cor da maior parte das viaturas
dos Bombeiros. Inegável é também a associação desta força de combate ao fogo com a própria cor das
chamas. É com vermelho que se apagam as chamas, quando se usam extintores.
E às populações basta ver um carro pintado de vermelho a aproximar-se durante o Verão para sentirem
algum alívio, escreve Christiniana Martins.
No dia 28 de Janeiro as noticias diziam que um incêndio destruiu parte da cobertura das instalações da
GNR de Sintra.
E lá foram os Bombeiros que, em vinte minutos, debelaram o incêndio.
No dia 19 de Janeiro, o Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Comandante Jaime Marta
Soares, disse ao Senhor Ministro Miguel Macedo, publicamente no 82º Aniversário dos Voluntários de
Azambuja, que as Associações de Bombeiros têm centenas de multas de trânsito para pagar, acusando
as autoridades de excesso de zelo, em vez de terem uma acção preventiva.
E mais disse que se as Associações as tiverem que pagar vão, inevitavelmente, fechar as portas
Terminou, dizendo que algumas autoridades têm uma acção repressiva, em vez de serem dissuasoras.
O Senhor Ministro respondeu-lhe que as forças de segurança actuam sempre no respeito pela lei.
Não colocamos isso em causa. Colocamos, sim, o seu zeloso cumprimento e as leis estarem desajustadas
da realidade.
Somos um dos que perdemos o medo, na crise académica de Coimbra, em 1968/69.
Mas não queremos perder o respeito.
As contra ordenações aplicadas pela Brigada de Trânsito dizem respeito à falta da indicação de 112
nas ambulâncias, de não terem autocolantes no seu interior de que não se pode fumar, de terem um
único tripulante quando transportam um único paciente, quando uma ambulância é conduzida por um
Bombeiro mais qualificado, entre muitos outros pormenores.
Cada multa é superior a mil euros.
Não conseguimos perceber por que é que não se mudam as leis já que corremos o risco dos Corpos de
Bombeiros não terem meios humanos para socorrer as populações, enquadrados nas leis, por medo de
serem multados.
E não conseguimos perceber por que é que a GNR faz comunicados, como o publicado no Diário de
Leiria de 24 de Janeiro de 2014, a páginas 3, vangloriando-se que aplicou 85 contra-ordenações.
Será que aquelas alminhas não percebem que, com o seu zelo, se estão a basear em leis desajustadas da
realidade?
Ou será que actuam pelo medo, ao invés de ser de uma forma pedagógica, já que nos recusamos a
acreditar que possam existir outras motivações.
E que motivações poderiam existir?
Falta de trânsito para fiscalizar, dado que a economia doméstica de bens transacionados está
moribunda?
Assim, é mais difícil o Bombeiro cumprir a sua Missão.
É preferível que a Brigada de Trânsito se desloque aos hangares dos Quartéis dos Bombeiros e, aí, faz o
seu trabalho.
Poupa-se tempo e dinheiro e não obrigam os sinistrados a esperar tempo precioso, enquanto estão a
fiscalizar as ambulâncias.
Tudo a bem do cidadão.