O Funil

0
2208

Não!
Não vamos falar das leis de funil que grassam pelo País, como se fosse um surto de gripe.
Num nestes dias, um amigo dizia-nos que foi “atacado” pelo ambiente.
Defendeu-se como pôde.
Recebeu como resposta que Portugal tem das melhores leis do ambiente do mundo. E há que aplicá-las.
Para quê? É a pergunta que se impõe.
Para fechar o cerco às empresas que ainda resistem?
Ou para obrigar o pobre do cidadão a colocar os derradeiros cêntimos no tal funil?
Vá-se-lá saber.
O que sabemos é o que lemos no livro prefaciado pelo nosso amigo e Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho, sob o título “A Gestão do Programa de Ajustamento – 1000 dias, 450 medidas cumpridas”.
Numa das suas 152 páginas reza que “…graves desequilibrios, reflectidos num excesso de individamento das famílias e empresas…”.
E, mesmo assim, continuam a tentar sacar, por que sacar já não há nada para sacar.
Os sábios do regime andam a enganar o nosso Primeiro.
O nosso amigo Mário, num destes dias, dizia-nos onde é que está a falácia dos números animadores da macro economia.
Dizia ele que ela está na redução da economia paralela e na emigração dos nossos quadros, por que a economia doméstica de bens transaccionáveis está parada e, teimosamente, não arranca.
Sabemos que a força de inércia das medidas do Governo é muito grande e, concomitantemente, os seus resultados prolongam-se no tempo.
Mas para prever isso é que são sábios os nossos sábios, ou deveriam ser.
Imaginem um comboio a sair de uma estação.
Primeiro que ele atinja a velocidade de cruzeiro leva imenso tempo e, depois, para parar é o cabo dos trabalhos.
Um banco privado, o nosso banco, (coitadas das nossas acções que mal dão para pagar um café) que dá milhões de prejuizo, escreve em paragonas, em tudo que é sitio, que “500.000 Famílias já fizeram as contas e cortaram nas despesas”.
Não se podia ser mais claro.
Está no alinhamento do tal livrinho.
Só procuram grandes negócios, que não há.
Tudo o resto é para destruir.
Mas, uns e outros, esquecem-se que 80 % dos empregos são gerados pelas pequenas e médias empresas, mas continuam a destruí-las a cada dia que passa.
E esquecem-se que os cidadãos são a razão de existência do Estado e não o seu contrário.
Basta ler as notícias do apoio social galopante, que está a atingir foruns de caridade, as famílias que viram cortados os serviços básicos, energia eléctrica, água e gaz para perceber que algo está errado.
Não há dinheiro para pagar os medicamentos, nem as taxas moderadoras.
O Ministro Paulo Portas, na sua cruzada, bem prega que as coisas vão melhorar, que há milhões para investimento e criação de postos de trabalho.
Mas quem é que acredita nisso.
Por outro lado o nosso amigo Passos Coelho fala em aumentar os impostos.
Aqui já acreditamos.
Todos falam em dinamizar a economia, mas continuam a retirar dinheiro da economia doméstica para
colocar no funil.
A balança de pagamentos está a cair para o lado das importações.
Mas serão importações de equipamentos de produção ou de consumo?
Sabemos que o dinheiro não gira.
As pessoas, as que podem, têm o seu peculio no colchão, com medo.
Com medo que as obriguem a colocá-lo no funil, por que perderam a confiança no sistema.
Estamos entregues às leis do funil.

Rodrigues Marques

Partilhar
Artigo anteriorShakespeare segundo o TAP
Próximo artigoSeis meses