António Pires
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“Eu sabia tanto de bancos como de calceteiro”
Nuno Godinho de Matos,
ex-administrador não executivo do BES
O caso BES não para de nos surpreender. Nuno Godinho de Matos, até agosto administrador do BES, admitiu que nunca falou nas reuniões do conselho de administração do BES, embora recebesse 2400 € líquidos pela presença em cada uma. Usou os termos “um pró-forma”, “um verbo de encher”, “um detalhe, um acessório na toilete de senhora” para descrever a sua participação nas reuniões que definiam o destino do mais recente Titanic lusitano. Acrescentou que, como ele, os demais administradores não executivos tinham idêntico comportamento vegetal.
Depois destas declarações, as manifestações de indignação à assunção de tal comportamento foram imediatas, argumentando-se que é esta atitude que descredibiliza as instituições, as afundam e afastam as pessoas. Cá por mim nem percebi bem este escarcéu, não me espantou saber dos “yes man”, isto na linha do “quem cala consente”, o inopinado foi mesmo a confissão pública da inépcia e da subserviência. Nuno Godinho de Matos afirmou aquilo que todos sabem ser o dia-a-dia de muitas honradas instituições por esta pátria fora, há gente que nada diz e há gente que não quer saber, há gente que nada sabe e assim se vive. Veja-se, por exemplo, o caso BPN, o Face Oculta e a recentíssima condenação da ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues. Um ponto em comum a todos é que os decisores afirmam nada terem sabido, que não faziam ideia, que ninguém lhes disse. Mas que anda esta gente a fazer? Ou não querem ouvir, ou não percebem nada do que fazem, ou rodeiam-se de quem não pensa e não fala.
Basta observar o país para percebermos a panóplia de “yes man” que abundam. E porquê?
A quem manda dá jeito, ter gente inteligente e com garra às vezes obriga a trabalhar, a cumprir, a substituir estratégias, a assumir erros. A quem obedece também, mantêm-se benefícios e não se arranjam preocupações, tudo vai correndo.
Nos antípodas do mal-amado Godinho Matos aparece Vítor Bento. Em agosto, numa entrevista, o agora presidente demissionário afirmava ter aceite o convite para a presidência do BES por o considerar um dever quase patriótico, e a gestão do Novo Banco, a fim de o tornar rentável, um desafio que levaria o seu tempo. Ao fim de 2 meses bate com a porta e será substituído por uma equipa “mais alinhada com o acionista”, palavras de Vítor Bento, que leio como mais uns “yes man”. Concluo que Vítor Bento e a sua equipa estariam então desalinhados com os acionistas, que é como quem diz, tinham convicções e ideias divergentes sobre o futuro do Novo Banco, falaram, ninguém os quis ouvir, saíram.
Esta situação assim é perigosa e não augura um bom desfecho, sendo a saída do promissor Vítor Bento uma nova machadada na credibilidade do banco que assomou do naufragado BES. Próximos episódios se aguardam.