Foi interessante observar durante estes meses em que nos debatemos com o bicho (Coronavírus) que alguns dos que atacaram mais ferozmente o Estado Social, tenham agora exigido ao governo mais e mais apoios para a sociedade. Ficamos a saber que estes liberais, ao fim e ao cabo, desejam o Estado Social. Mas com uma curiosa funcionalidade: com botão de desligar. Quando desligam o botão defendem a privatização da Segurança Social, quando o ligam exigem mais apoios às empresas para proteger o emprego; quando o voltam a desligar querem uma saúde inteiramente privada, quando passam o botão para o “on” querem uma resposta imaculada do Serviço Nacional de Saúde. Terá sido por estes “novos socialistas” que nos saímos menos mal da embrulhada? Hummm!?!?
Se há coisa que esta crise tornou evidente foi a fragilidade da economia global. Mesmo os países mais robustos viram os seus alicerces tremelicar. Em qualquer dos casos, os mais bem-sucedidos tiveram uma “mão forte” do Estado a mitigar os estragos. Foi notório, durante este processo, que os Estados de inspiração social responderam melhor à pandemia do que os Estados de inspiração liberal. Mas evidentemente que num país pobre como o nosso, o esforço financeiro indispensável para acorrer aos efeitos do infame Corona deixou feridas difíceis de sarar no nosso escanzelado porquinho-mealheiro. E, para que desta trapalhada não saiamos ainda mais indigentes e desiguais: como já se tornou um hábito, mão estendida para a Europa! Desta vez (pelo menos), sem culpa formada. Ao que sei não há registo de que o Coronavírus tenha tido origem num “bacalhau com todos”.
A chanceler alemã Angela Merkl abriu a porta a esta pedincha (legítima) quando, com propriedade, afirmou que estamos perante a maior crise desde a II Guerra Mundial e que se exigem medidas excepcionais. No momento em que estou a escrever estas linhas, os líderes europeus digladiam-se para chegar a um acordo sobre a configuração do Plano de Recuperação Económico da Europa, pós COVID-19 (“a bazuca”). As principais resistências para que este plano seja na realidade “uma bazuca”, vêm daqueles que tradicionalmente são mais desconfiados em relação aos países do sul da Europa e que ainda não perceberam que a União Europeia, na sua génese, é um projecto solidário, e do seu vigor depende a sua capacidade de não passar de um mero espectador das tricas entre os Estados Unidos e a China para almejar a supremacia mundial. Também não percebem que é das crises mais profundas que emergem os grandes estadistas (os que são capazes de enfrentar os seu próprios eleitorados para defender os mais elementares princípios e valores). Neste braço-de-ferro desigual, destaca-se o primeiro-ministro holandês Mark Rutte. Para além de ter nome de gaja, esta criatura está ligeiramente esquecida de que a Holanda foi uma das principais sorvedoras dos milhões do Plano Marshall quando não lhe restava “pedra-sobre-pedra” depois da II Guerra Mundial, e que foi graças à solidariedade (agora olvidada) que se conseguiu reerguer. Rutte, apesar de lhe entrarem nos cofres os milhões dos impostos das putas e das ganzas (e do Pingo Doce), não resiste em verter o seu esgar reprovador e de superioridade moral para a malta que, segundo o seu compatriota e antigo presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, gasta tudo em álcool e mulheres. Para lançar mais uma pedrinhas na engrenagem do acordo, um hooligan que é primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán (e o seu aprendiz polaco), não quer que as ajudas do Plano de Recuperação Económico dependam do seu hábito (já muito arraigado) de atropelar as regras de um Estado de Direito e, consequentemente, dos valores europeus.
Como já li algures: “A melhor das reacções, se for tardia, é a pior das soluções”. APRESSEM-SE! Talvez esteja na hora de desligar os palermas que estão empenhados em ERGUER NOVOS MUROS NA EUROPA.
Aníbal Cardona
Consultor/Formador
*O autor deste artigo acha que quem concebeu o novo acordo ortográfico devia ter botão de desligar.