O PERFUME DA SERPENTÁRIA | O Rei do Kuduro*

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FELICIDADE! Ah, a FELICIDADE… A própria “taxonomia” gramatical enfatiza o seu significado metafísico. Por se tratar de um sentimento, classificamo-la como um substantivo abstrato. Nem na sua etimologia, o conceito de FELICIDADE é consensual. Se para a maioria dos autores, a palavra tem origem no Latim felicitas, outros, porém, atribuem a sua origem à expressão, também do Latim, augurium, que significa augúrio e sorte. A FELICIDADE é, por ventura, um dos conceitos mais explorados pela filosofia, na demanda de lhe atribuir o verdadeiro e definitivo significado.
As correntes filosóficas clássicas procuram afastar a FELICIDADE do prazer, por este ser efémero. Defendem que a FELICIDADE é o BEM supremo, e ao qual estamos todos subordinados. Aristóteles advoga que a FELICIDADE se alcança através de uma vida virtuosa. Para ele, uma vida plena de FELICIDADE é aquela que é orientada para a inteligência e para o pensamento. Rousseau defende qua a FELICIDADE é, apenas e só, um estado de alma e que não depende de qualquer estímulo exterior. Para Hegel, só uma vida simples e resignada poderá conduzir à FELICIDADE.
Outras correntes filosóficas têm interpretações diferentes / contrárias. Kant afasta a ideia de que a FELICIDADE é um ideal de razão, desconectando-a da virtude. Nietzsche e Rimbaud negam a possibilidade de se alcançar FELICIDADE, sublinhando o fatalismo trágico do desejo de FELICIDADE. A evolução do conceito de FELICIDADE na contemporaneidade procura afastá-la da antonomásia de bem supremo, secundarizando-a em relação a valores superiores, como a justiça e a liberdade.
No entanto, mesmo os estudos filosóficos mais sofisticados, insistem em ignorar o trabalho de um ilustre filósofo do nosso tempo: HÉLDER, O REI DO KUDURO. Este distinto, escreveu e musicou um poema sobre a FELICIDADE, merecedor, simultaneamente, do Rolf Schock da filosofia, do Nobel da literatura e do Grammy da música – “FELICIDADE SE BEM”. Do alto da sua aparente simplicidade, Hélder “rasga a meio” os milhares de discorrências complicadas e pretensiosas vertidas ao longo dos tempos por uma data de filósofos chatos e ultrapassados. Hélder revela ao mundo e à Filosofia, a verdadeira essência da FELICIDADE. O refrão é particularmente elaborado e esmagador: “…todos nós queremos a FELICIDADE, todos nós sentimos a FELICIDADE. Eh pá! FELICIDADE, FELICIDADE, FELICIDADE, FELICIDADE…” Com este refrão, o autor procura descomplicar o conceito de FELICIDADE, deixando subjacente uma subtil crítica à visão Aristotélica do conceito, nomeadamente, quando o “velho jarreta grego” teve a “lata” de defender que, apresar da interioridade inerente à FELICIDADE, esta deverá “…estar liberta das amarras da necessidade…”. Com isto, Hélder apadroa uma prescrição filosófica marcante e verdadeiramente vanguardista: “está-se nas tintas” para o mundano.
O nosso hodierno Presidente, parece constituir-se como um fiel seguidor desta avançada tese filosófica, descoberta e defendida pelo douto Hélder. Para ele, a FELICIDADE alcança-se pela repetição alienada do conceito. Para si, a FELICIDADE nada tem a ver com parcos rendimentos e poder de compra, falta de emprego, perda de população, êxodo de jovens qualificados, falta de habitação, envelhecimento, insipiência cultural, desigualdade… Pelo contrário, a FELICIDADE almeja-se pela fiesta, pela normalização e institucionalização da “banha da cobra” e pelas excursões às feiras e à bola com os seus amestrados. Como nestas coisas o original é sempre preferível à cópia, poderia ser uma boa ideia o PSD, nas próximas eleições autárquicas, propor o nome de HÉLDER, O REI DO KUDURO, para Presidente da Câmara. DUVIDO QUE FICÁSSEMOS A PERDER.

Uma nota Final: Numa altura em que outro HOLOCAUSTO (é disso que se trata!!!) entra pelas nossas casas em directo, organizar a Convenção do Dia Internacional da Felicidade é de tão bom gosto, como usar meias brancas de raquetes, com sapatos pretos de verniz. Se me permite, Senhor Presidente, talvez tenha chegado a altura de discernir, de entre a quantiosa corriola que o obsequeia, quem são os verdadeiramente capazes de o aconselhar (entenda-se, frear) e os que são, apenas, meros lacaios.

Aníbal Cardona
Consultor/Formador

* O autor deste artigo acha que o Rei do Kuduro fez parte do grupo de intelectuais que conceberam o novo acordo ortográfico

**Artigo de opinião publicado na edição impressa de 7 de Abril