Pelo título, o leitor poderá ser levado a pensar que o tópico deste artigo será o que podemos chamar de chavascal. Nada mais errado. Trata-se apenas de um artifício parvo para prender a atenção do leitor. Não vou falar de nenhuma longa-metragem do Alexandre Frota, nem tão pouco de algum outro filme retirado da mesma prateleira do Garganta Funda. Vou antes debruçar-me sobre aquela rapariga sueca que foi ralhar com os líderes mundiais na Cimeira da Acção Climática, convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. A única coisa algo sórdida deste episódio, tem a ver com o facto de, enquanto a jovem Greta Thunberg dava uma valente descompostura aos Senhores do Mundo, estes batiam palmas entusiasticamente (e porventura, hipocritamente), compondo um caricatural presépio sado-maso softcore. Imagino qual seria o tamanho do ralhete (e do aplauso) se a interlocutora fosse uma criança do Iémen (daquelas que não sabem o que é a paz, uma escola e muito menos um bife).
A intervenção de Greta Thunberg não deixou ninguém indiferente. Curiosamente, mais pela forma (imoderadamente teatralizada) do que pelo conteúdo. Obviamente que ver uma jovem de 16 anos (ainda por cima com aspecto de 12) a repreender gente adulta, causa alguma exacerbação. Por isso, assistimos a um sem número de referências injuriosas e sarcásticas em relação à rapariga (talvez esquecendo-se de que se trata apenas de uma adolescente). Esta aversão gerada contaminou, definitivamente, o seu propósito. Como por efeito de manada, não faltaram grunhos a sair da toca com os seus gracejos marialvas. A temática da defesa do ambiente presta-se muito a este tipo de considerações. Basta relembrar as reacções estuporadas de alguns membros da Assembleia Municipal de Pombal a propósito da intervenção da deputada do Bloco de Esquerda sobre os contratos para exploração de petróleo na nossa região. Mais triste do que isto, só o silêncio trocista dos outros deputados e a passividade cúmplice de quem deveria zelar pela dignidade do órgão. Há muito que penso que a nossa Assembleia Municipal seria capaz de agitar o génio de Gil Vicente (se fosse vivo) ao ponto de transformar sua a trilogia das barcas em tetralogia. Talvez adindo o Auto da Barca do Rilhafoles.
Confesso que também não sou um entusiasta da Greta Thunberg. Mas, no meu caso, pelo mais palerma dos motivos: a cara dela faz-me lembrar uma mistura do Chucky, o boneco diabólico e uma das meninas que aparecem no Exorcista (filmes que ainda, volta e meia, me assaltam os sonhos). TENHO MEDO! Se por um lado, quando se fala de alterações climáticas e da protecção do ambiente surgem logo considerandos deletérios de uns quantos símios negacionistas (alguns até são presidentes de países), também é verdade que esta temática também se presta a radicalismos da parte dos defensores da verdura (uns também fazem lembrar primatas). A discussão de um problema tão grave, tão urgente e tão global, não pode (DE TODO!) ter como ponto de partida clivagens tão profundas e radicais. Entendo a mensagem da Greta Thunberg como a voz de uma geração que sofrerá, inevitavelmente, as consequências das decisões que forem tomadas hoje. Louvo-lhe a coragem, a determinação e a oportunidade (não a cara, conforme já vos disse). Aos Senhores do Mundo cabe perceber que as alterações climáticas são um facto científico evidente; que o carvão foi a alavanca do progresso dos países mais desenvolvidos e, por isso, os outros (menos desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento) também se sentem no direito de o utilizar ou serem compensados pelo seu não uso; que a substituição transversal do conceito de fim-de-vida da Economia Linear por novos fluxos circulares de reutilização, reciclagem e redução (Economia Circular) é urgentíssima; que os actuais paradigmas de consumo e de mobilidade são insustentáveis; que a capacidade de carga do nosso planeta não suporta o nosso estilo de vida; que o Capitalismo é um anacronismo.
Um mundo que, a cada dia, nos tem dado provas de estar cada vez mais intolerante e centrado nas diferenças, terá a capacidade de resolver uma equação com tantas e tão complexas variáveis? Talvez como nunca, A HUMANIDADE TERÁ DE DEMONSTAR MATURIDADE! Será capaz? Se não for, o plano estará, cada vez mais, obtusa e irreversivelmente inclinado para o FIM! Ou isso, ou ainda pior: A GRETA VEM DAR TAU-TAU!
Aníbal Cardona
Consultor/Formador
*O autor deste artigo acha que o novo acordo ortográfico deveria ser reciclado.