António Pires
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António Costa é um sortudo. É talvez das poucas pessoas que conheço que se continuar a não fazer nada e a não dizer nada, o poder cai-lhe no colo. E tem vindo a fazer muito bem. Com toda a propriedade! Do outro lado já fazem o suficiente, são governo e oposição num corpo só, tendo vindo a instalar-se uma certa acrasia ministerial, em que todos assumem as culpas, sem que ninguém se sinta culpado, em que todos apoiam uma verdade que, em pouco tempo, deixa de o ser.
O estado de citius da justiça é o que já se sabe e a ministra justifica e volta a justificar e lá continua, tendo, no campo dos media, sido uma sorte este surto do Ébola, por permitir tirar o ministério da justiça das parangonas e da abertura dos noticiários.
E o Costa calado.
Na educação, o ministro torneia a semântica das palavras e não tem a noção, nem do ridículo do mantêm-se/manter-se-ão, que no meio disto tudo ainda é de somenos importância, nem do que está a suceder verdadeiramente nas escolas, nem da óbvia falta de honestidade nas justificações para a embrulhada da colocação dos professores neste ano, nem da ausência de ideias para que a confusão não se repita.
E o Costa calado.
A ministra das finanças assegurou que os contribuintes não seriam penalizados com a situação do BES, que havia por aí uns dinheiros da troika que resolveriam isto tudo, sem que fossemos ainda mais e uma vez mais obrigados a arcar com as consequências da incompetência alheia. Mas afinal agora vem dizer que vamos ter de pagar.
E o Costa calado.
Pensando bem, eu na posição de António Costa não teria imaginação para criar maior caos nem fazer declarações ou análises mais autodestrutivas que aquelas que os ministros fazem per si. E ainda bem para ele. É que a própria oposição tenta sobreviver e restabelecer-se da evitável desordem que criou no seu seio e cujo desfecho foi o esperado. Depois de umas eleições primárias que mais pareciam as legislativas, com uma campanha a acompanhar o tom apoteótico que o PS tentou dar ao ato, como se dele dependêssemos todos, neste momento a a oposição não é oposição, é um híbrido, um líder que ainda não é e outro líder que vai deixar de ser.
Se sobre o assunto da organização interna do PS, Costa está calado, não sei, mas temo que sim. Parece-me ser mais um capítulo em que é outro, agora Ferro Rodrigues, a falar e a defender a união do partido, a pedir a antecipação das legislativas de 2015 e a justificar e blá blá blá. Mas não se venha com a história de que o PS ainda não fez o seu congresso para eleição do líder, já que, tanto quanto li e ouvi, o líder-que-quase-não-é líder-mas-que -queria-ser foi dar aulas e é Costa que vai a audições com o Presidente da República.
Parece-me que se queremos ver Costa, vamos ter de assistir ao programa em que é comentador, mas até neste já afirmou que não se comenta a si próprio, que é como quem diz ao PS! Sendo assim, se parece não falar do governo, nem comenta a oposição, vamos ter um programa … E o Costa calado!!