OPINIÃO | A importância de uma parentalidade ativa e cuidadora

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Cada vez mais o papel parental tem vindo a sofrer alterações que modificam os papéis sociais de género e estimulam a equidade no cuidado entre o homem e a mulher.
As sociedades ocidentalizadas, como é o caso de Portugal, têm vindo a contribuir para uma reformulação profunda da relação entre parceiros e as suas vivências familiares, graças à participação cada vez mais ativa das mulheres no mercado de trabalho e à sua escolarização, bem como na gestão da sua saúde sexual e reprodutiva. Desde a segunda metade do século passado, o surgimento de novos modelos de organização económica, também trouxeram alterações à vivência e papel social do homem estando este mais ativo nas suas funções parentais.
Dados apresentados pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (2017) referem maior participação do homem na parentalidade. Em 2005 apenas 0,4% dos homens partilhavam a licença parental de 120/150 dias, relativamente ao total de crianças nascidas, e em 2015 essa percentagem subia para os 27,5%, confirmando o aumento no investimento de ambos os pais na conciliação entre a vida pessoal, profissional e familiar.
A participação do pai em conjunto com a mãe nos cuidados com o recém-nascido melhora o relacionamento afetivo, aflora sentimentos de satisfação e incentiva a afinidade entre os filhos, devido à influência positiva sobre a mãe e ao sentimento de proteção do recém-nascido (Fazio et al., 2018).
Também a sua envolvência nos primeiros 1000 dias de vida do bebé, que correspondem ao período entre a conceção e os dois anos de vida da criança, constitui-se como uma vantagem única para o seu contínuo crescimento, bem como para o desenvolvimento da sua saúde futura, nomeadamente na prevenção de doenças crónicas não transmissíveis (APN, 2019).
Com o desenrolar da pandemia, homens e mulheres, viram-se privados de usufruírem em pleno do processo de gravidez e parto, acabando por interferir no adequado envolvimento dos pais/casal na área da parentalidade.
Com esta informação, é imperativo os profissionais de saúde atuarem no sentido de promover uma parentalidade ativa e cuidadora, de maior acessibilidade e proximidade, que envolva a tríade mãe-pai-bebé e promova a sua vinculação, contribuindo para um harmonioso desenvolvimento da criança, desde a sua conceção, com impacto na sua vida adulta.
Os Cursos de Preparação para o Parto e Parentalidade têm como objetivos “…desenvolver a confiança e promover competências na grávida/casal/família para a vivência da gravidez, parto e transição para a parentalidade, incentivando o desenvolvimento de capacidades interativas e precoces da relação mãe/pai/filho.” (Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco, 2015, p.63).
Em Pombal, o Curso de Preparação para o Parto, Nascimento e Parentalidade Positiva – “Barrigas com afeto”, surgiu de forma presencial em junho de 2018, promovido pela Unidade de Cuidados na Comunidade, com vista a dar resposta às necessidades das mulheres grávidas e casais. Devido ao contexto pandémico, houve a necessidade de adaptação das sessões para o modelo online A adesão tem sido muito elevada e o nível de satisfação por parte dos casais positivo.
Pretende-se proporcionar a mulheres e homens saberes e competências melhoradas, facilitadores da capacitação e desenvolvimento de competências, pelo acesso à informação, promoção e incentivo à sua participação ativa nos serviços de saúde, o que se revela crucial no que diz respeito à literacia em saúde. Com pais envolvidos nos cuidados, sendo-lhes fornecida adequada informação para que se sintam empoderados, terão ferramentas mais eficazes no exercício da parentalidade, o que se traduzirá em melhores cuidados para os seus bebés.

AUTORAS:

  • Maria João Dias Proa Gaspar
    Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia – Unidade de Cuidados na Comunidade Pombal
    (MJGaspar@arscentro.min-saude.pt)

 

  • Jessica Andrade da Mota 
    Aluna de Mestrado de Enfermagem em Saúde Materna e Obstetrícia – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Bibliografia
Associação Portuguesa de Nutrição (2019). Alimentação nos primeiros 1000 dias de vida: um presente para o futuro. Recuperado de https://www.apn.org.pt/documentos/ebooks/1000_DIAS_EBOOK-2706.pdf
DGS. (2015). Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco. Lisboa
CCIG (2017). Igualdade de Género em Portugal. Disponível em http://www.cig.gov.pt
Fazio, I. A., Silva, C.D., Acosta, D. F., et al (2018). Alimentação e aleitamento materno exclusivo do recém-nascido: representação social do pai. Revista Enfermagem, pp 1-8. Disponivel em https://doi.org/http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2018.26740.