O presidente da Associação Comercial e de Serviços de Pombal (ACSP) considera que as medidas de apoio disponibilizadas pelo Governo para o sector empresarial “estão muito aquém das necessidades e não correspondem, de forma eficaz, às necessidades do pequeno comércio”.
Horácio Mota reconhece que “ninguém estava preparado para uma situação destas” e que a resolução do problema está no contributo de “todos”, mas lamenta que, mais uma vez, “o pequeno comércio” tenha sido prejudicado e, agora, “de uma forma irreversível”.
Ainda que não disponha de números concretos, mas fazendo jus “aos pedidos de informação que recebemos”, o dirigente estima que, entre as 530 empresas associadas da ACSP, 50 por cento delas, “no máximo”, já tenham recorrido ou vão recorrer ao lay-off simplificado. “Pode ser uma excelente medida para empresas que não encerraram completamente a sua actividade, ou seja, que podem dispensar alguns funcionários, mas que continuam a ter receitas”, o que permite “gerar dinheiro para pagar a parte do lay-off que lhe compete”.
A preocupação maior reside naquelas que estão sem qualquer actividade, como é o caso dos prontos-a-vestir, das sapatarias, das lojas de electrodomésticos ou dos hotéis, exemplifica Horácio Mota. Nestes casos, interroga o presidente da ACSP, sem receitas, como é que estes empresários “ainda têm de pagar parte do lay-off?”. Mais ainda: “vão recorrer a linhas de crédito para se endividarem ainda mais?”. A resposta é esclarecedora: “penso que não e nem aconselho. É como se estivessem a afogar-se e ainda lhes atirassem mais um peso para cima”. O responsável da associação comercial admite que que as linhas de crédito disponibilizadas “são óptimas”, mas “para empresas de outra natureza, que não encerraram a sua actividade”.
Horácio Mota defende que poderiam ter sido tomadas outras medidas pelo Governo, nomeadamente como “complementos” às actuais. No pequeno comércio, cujas actividades estão encerradas, “o Estado deveria assegurar o pagamento total do regime de lay-off” e não só. “Devia inclusive assegurar o lay-off, a 100 por cento, para os gerentes”, defende o presidente da ACSP, lembrando que “no comércio tradicional, a maior parte das vezes, o dono do negócio é o gerente e, muitas vezes, nem funcionários tem”.
Horácio Mota considera, igualmente, que os pequenos espaços comerciais “não deveriam ter encerrado” e que a medida deveria ter sido apenas aplicada aos “espaços maiores”, com áreas superiores a 250 metros quadrados, por exemplo. Perante o Estado de Emergência decretado, “cerca de 60 por cento dos associados suspenderam as suas actividades de comércio a retalho”, revela, mantendo-se apenas em funcionamento as permitidas por lei.
“Estes pequenos espaços, já antes da crise tinham poucos clientes. Com estas medidas de contingência, com o afastamento social, com o uso de máscaras obrigatório e outras protecções, poderiam ter continuado a laborar”. Se assim fosse, “a economia local não teria sofrido tanto como está a sofrer”, constata.
Perante este cenário, o dirigente associativo augura um futuro pouco risonho para os estabelecimentos comerciais e de serviços do concelho. “Penso que a maior parte daqueles que encerraram totalmente a sua actividade não voltará a abrir portas”, aponta, dando como exemplo as lojas de roupa, que “vão ficar com as colecções por vender”. E, neste caso, “vão-se endividar ainda mais?”, questiona. “ Julgo que não”. Para além destes, “muitos estabelecimentos que abriram recentemente também não voltarão a abrir portas, por falta de apoios”, evidencia aquele responsável. “É certo que não conseguimos prever o futuro, nem o tempo que esta pandemia vai durar”, mas o dirigente não tem dúvidas de que “quanto mais tempo durar, maior a probabilidade dos estabelecimentos encerrarem definitivamente”.
Com as lojas encerradas, muitas têm apostado nas vendas online, recorrendo sobretudo às redes sociais para promover os artigos em stock. Horácio Mota acredita que a actual situação pandémica trará “novos hábitos de consumo”, com o comércio electrónico a ter “uma evolução muito positiva”. Para o presidente da ACSP, “os estabelecimentos que reunirem condições após a pandemia, seguramente irão criar uma maior apetência” para este tipo de comércio.
Apoio aos associados
Apesar de ter encerrado o atendimento ao público, a associação comercial está a funcionar em regime de tele-trabalho, mas sem descurar o apoio aos lojistas, através de email, telefone e redes sociais. “A associação tem acompanhado esta situação com muita preocupação”, facultando “apoio e informação” constantes. Perante o elevado fluxo de informação, as solicitações têm sido crescentes. “Os comerciantes estão muito preocupados com a situação actual e com o futuro dos seus negócios”, sublinha Horácio Mota, adiantando que, ainda antes de ser decretado o Estado de Emergência, muitos deles já procuravam apoio, para saber que medidas adoptar. Depois disso, a procura aumentou ainda mais, não apenas para obter esclarecimentos acerca dos apoios, mas também perceber “se poderiam adaptar as suas actividades, de forma a conseguirem manter as portas abertas, fornecendo bens de primeira necessidade”, conta. Para além de dar responder às inúmeras dúvidas colocadas pelos associados, a ACSP criou uma base de dados online, onde disponibiliza os nomes dos estabelecimentos abertos nas freguesia e na cidade, os bens aí comercializados e as medidas de contingência adoptadas por cada um deles.
*Notícia publicada na edição impressa de 16 de Abril