Jorge Cordeiro
A palavra difícil de pronunciar e até de escrever, que dá título a esta crónica, é o nome da pequena vila polaca onde se situam os campos de concentração e de extermínio nazis, de Auschwitz-Birkenau.
Este verão, estive lá, e entendendo que o jornalista ou o cronista não devem por norma constituir notícia, ainda assim resolvi falar dessa visita a um local, que pelo passado e história que encerra, é mais do que uma simples visita. É uma peregrinação!
A própria vila, as pessoas (muito simpáticas e afáveis), o clima e a luminosidade, parecem encerrar uma tristeza intrínseca, difícil de expurgar como se tudo ali fosse obrigado a manter para todo o sempre e para todo o mundo, a memória de um dos mais horrendos episódios da história da humanidade.
Enquanto visitante (ou peregrino), preferia nunca ter estado nesta vila polaca de nome impronunciável para um latino, desde que isso significasse que o holocausto nunca tivesse existido. Mas infelizmente existiu, há poucas décadas, bem perto de nós!
Uma vez lá, nos pavilhões que amontoavam seres humanos como “coisas”, nos fornos crematórios, na cela do Padre Kolbe ou perante os pertences dos prisioneiros, perante tal impacto, perguntei-me em silêncio ou em partilha com os meus que me acompanhavam, como foi possível tal acontecer, de onde saíram as mentes terríveis que congeminaram aquilo, que nenhuma circunstância ou enquadramento histórico, político ou estratégico poderá desculpar.
Mas as perguntas salpicadas de raiva (não o escondo) e tristeza que naquele local coloquei em silêncio ou partilhei com os meus – e que são por certo as mesmas que qualquer juízo saudável fará – tem outro alcance que desperta os mesmos sentimentos e nos transporta para a realidade dos nossos dias.
Infelizmente os genocídios, o holocausto e a tortura não ficaram enterrados num qualquer Auschwitz.
Como é possível nos dias de hoje, seres humanos serem perseguidos, torturados, mortos, exterminados, por causa da sua condição, das suas convicções, porque tal serve os interesses de alguém, porque alguém se julga dono de superioridade face a um seu semelhante em nome de sabe-se lá, o quê, ou simplesmente: Porque sim!
Não preciso de mencionar exemplos, pois não?
Como é possível que a humanidade, a nossa civilização (ou civilizações), não tenham aprendido nada com o passado… um passado ainda tão fresco que Oświęcim, mantém e não consegue expurgar.