O economista Luís Parreira é pombalense e está há cerca de oito anos em Bruxelas, onde trabalha como Assessor da Comunidade Europeia. Joana Benzinho, também natural de Pombal, é Assessora no Parlamento Europeu e presidente da ONG Afectos com Letras.
Ao POMBAL JORNAL, fazem ambos um relato daquilo a que assistiram e acompanharam sobre os trágicos acontecimentos ocorridos esta terça-feira, dia 22 de Março, naquele país.
Luís Parreira está há oito anos em Bruxelas
“Cheguei ao trabalho antes das 8 (hora de Bruxelas) e pouco depois das 8.30 recebo um alerta no telemóvel da aplicação da BBC a informar sobre as explosões no aeroporto de Bruxelas. Fiquei incrédulo porque nunca se espera que isto aconteça no sítio onde moramos.
Nessa altura começou o som incessante de sirenes que se manteve toda a manhã. Recebi alguns telefonemas de Portugal, em especial de pessoas que sabiam que eu ia hoje para Portugal. Tentei entrar em contacto com alguns amigos e aconselhei os que ainda estavam em casa a não virem para o emprego até a situação estar mais clara. Um colega português disse-me que a televisão portuguesa referia também uma explosão no metro.
Pelos sites de jornais belgas percebo que a estação de metro em causa é bastante próxima do meu local de trabalho embora eu não tenha escutado qualquer som da explosão. Pouco depois todos os funcionários receberam instruções para ficarem onde estivessem, fosse em casa ou no trabalho. Passei por isso o resto do dia no trabalho. E para além de informar familiares e amigos que já não ia a Portugal, tive alguns contactos com colegas portugueses que também tinham voos hoje ou amanhã para passar a Páscoa em Portugal e que estavam à procura de alternativas para os voos que tinham.
Quando saí do trabalho, dado que o metro e todos os outros transportes públicos estavam encerrados, caminhei até casa e por onde passei vi a repetição do cenário de Novembro/Dezembro do ano passado: militares e polícias nas ruas, lojas e restaurantes fechados, muito menos pessoas do que seria habitual àquela hora. Isto faz-me ter a certeza que se perdeu aquela sensação de viajar pela Europa sem preocupações especiais de segurança.
Acho que esta sensação de medo de não saber quando ou onde vai acontecer o próximo atentado vai durar muito tempo. Sinto que os próximos tempos vão ser especialmente difíceis para a comunidade muçulmana em Bruxelas. A desconfiança com que eram olhados por muitos e que foi agravada recentemente com a descoberta do facto do cérebro dos atentados de Paris ter estado em Bruxelas durante meses com a conivência de familiares e amigos tem agora este rude golpe. Infelizmente, isto contribuirá também para o extremar do discurso xenófobo e para o crescimento dos partidos que defendem esse discurso.”
Joana Benzinho é assessora no Parlamento Europeu
“Já estava na rua, a caminho do trabalho, quando soube dos rebentamentos no aeroporto. Passava a pé na zona da estação de metro de Maelbeek quando aqui se dá uma explosão e confesso que senti medo. O nervosismo e a desorientação das forças policiais eram evidentes e vim imediatamente para casa.
Neste momento a cidade está parada: metro, autocarros, comboios e aviões sem circular e nós instados a ficar em casa pelas autoridades belgas e pelo Parlamento Europeu, onde trabalho. Apenas se ouvem as sirenes dos carros da policia e das ambulâncias e os helicópteros a sobrevoar o quarteirão europeu, onde vivo e trabalho. Os telefones não funcionam e apenas conseguimos comunicar pela internet o que aumenta a ansiedade de familiares e amigos que tentam detectar os seus.
Em Bruxelas confesso que desde Novembro esperávamos um atentado, só não sabíamos quando… Depois de apanharem um dos cabecilhas do atentado de Paris na sexta feira passada aqui na cidade seria expectável uma reacção”.