A primavera traz consigo dias mais compridos, calor e o despertar sazonal da natureza. Mas nem tudo são boas notícias. Com as flores e os rebentos das árvores vêm também os terríveis pólenes. Para quem sofre de alergia sabe que nem tudo é alegria com a chegada do tempo quente. Mas o que é a alergia? Como se diagnostica e como se trata?
A alergia é uma reação anormal do organismo ao entrar em contacto com certas substâncias do exterior – os alergénios. Os mais comuns são componentes do pó da casa (os ácaros), pelo de certos animais, pólenes de plantas e ainda alimentos ou fármacos. A reação alérgica é uma defesa exagerada de hipersensibilidade do sistema imunológico. O contacto com essas substâncias provoca a libertação imediata de substâncias químicas que inicia uma intensa inflamação e origina os sintomas da alergia – espirros, rinorreia (também chamado de corrimento nasal ou “pingo no nariz”), obstrução nasal, sintomas oculares (olhos vermelhos, lacrimejo e prurido ocular) e tosse normalmente seca, podendo às vezes ser acompanhados de pieira e sensação de falta de ar ou aperto no peito. Se a exposição ao alergénio é intensa e muito prolongada, a doença alérgica pode tornar-se crónica e persistente, apresentando-se como rinite alérgica, asma ou eczema atópico. Cerca de 20% da população mundial sofre de alergias e existe uma forte componente familiar, ou seja, é normal várias pessoas na mesma família sofrerem da mesma doença, mesmo que as manifestações sejam diferentes.
Em Portugal, os pólenes existem todo o ano, mas são mais frequentes de fevereiro a outubro e os picos mais elevados são os meses de maio a julho. O pólen das gramíneas, conhecido como “fenos”, é o principal responsável por alergias respiratórias, mas por vezes os culpados podem ser algumas espécies de árvores, ervas e arbustos. Para o comprovar e para saber o(s) pólen(es) envolvido(s), é necessário recorrer a um médico alergologista onde serão feitos testes cutâneos (testes por picada ou testes prick). Este exame consiste na aplicação de uma gota do alergénio suspeito sobre a pele do antebraço e aguardar se provoca reação. É a forma mais sensível e rápida de detetar alergia e podem ser avaliados de uma só vez vários alergénios.
O tratamento dos sintomas das alergias passa por realizar uma correta higiene nasal, spray nasal e/ou anti-histamínico nos períodos de agravamento da doença. Além disso, a terapêutica de base dos doentes asmáticos deve estar a ser cumprida como indicada pelo seu médico. A imunoterapia, também conhecida como vacinas para a alergia, é indicada quando as medidas adotadas não estão a ser suficientes para controlar a doença.
Não podemos parar a primavera, mas há estratégias para reduzir os sintomas das alergias, sendo a primeira e mais importante, evitar contacto com o alergénio. No caso dos pólenes, isto torna-se difícil, especialmente quando o bom tempo convida a aproveitar o ar livre. Consulte o Boletim Polínico (disponível no site da SPAIC – Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica) e evite atividades no exterior quando as concentrações de pólenes forem elevadas. Ao passear de carro mantenha as janelas fechadas e use filtros anti-pólenes para o ar condicionado. Por fim, fazer a medicação prescrita é a forma mais eficaz de combater os sintomas de alergia, para que a primavera não lhe tire a alegria.
Autoria:
Carolina Moreira, Rosário Raimundo
Médicas Internas de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, USF Marquês