“Bazuca” foi a terminologia adotada pela comunicação social, políticos e comentadores em geral para se referir aos milhões do Fundo da Recuperação da União Europeia.
Na verdade, a avaliar pela experiência nacional, o que estes milhões prometem ser é uma mina. Não no sentido bélico da palavra, mas porque serão certamente mais uma mina de ouro para os amigos do sistema.
Na verdade, a verdadeira bazuca já foi usada. Uma bazuca é uma arma que se aponta a determinado alvo e destrói tudo o que está à volta. Ou seja, corresponde na perfeição à forma como o Governo tem gerido a pandemia. Incapaz de definir e implantar uma estratégia de combate à pandemia, o Governo apostou em confinamentos gerais.
Resultado?
Destruiu a economia. As falências aumentaram no terceiro trimestre de 2020 em 40% relativamente ao ano anterior, colocando o país como o segundo da UE com maior aumento. Quase 60% dos restaurantes estão em situação de insolvência. Enquanto isso, Portugal é dos países a exigir mais perdas para se ter acesso aos apoios.
Destruiu a saúde, com menos 1,2 milhões de consultas e menos 126 mil cirurgias em 2020 relativamente a 2019, causando impactos na morbimortalidade cuja magnitude já começamos a vislumbrar, mas que demoraremos anos a tomar total consciência.
Destruiu a educação, com grave prejuízo para a aprendizagem, mas também para a socialização e desenvolvimento das crianças e jovens.
Destruiu o desporto, aplicando restrições a todo o tipo de prática desportiva (mesmo individual), com todas consequências que tal acarreta para a saúde e bem-estar.
Destruiu a saúde mental, aliando um período de isolamento forçado, ansiedade, medo e incerteza à incapacidade do sistema de saúde para dar resposta a quem dele necessita.
A arma escolhida foi manifestamente desproporcionada ao alvo a atingir, mas era a única que poderia ser utilizada por um governo com falta de pontaria. Um Governo que tomou medidas sem dados fiáveis relativamente aos locais de contágio. Um Governo que tomou medidas para agradar ao focus group, mesmo quando tal não encontrava sustento nos pareceres técnicos e científicos. Um Governo que nunca reforçou devidamente as equipas de rastreio epidemiológico. Um Governo que preferiu manter a primazia do Estado como prestador de cuidados de saúde do que dar prioridade à satisfação das necessidades das pessoas, com recurso a toda a capacidade instalada. Um Governo com uma comunicação errática, que não gera confiança e que prejudica a adesão das pessoas às medidas de prevenção. Um Governo que fez das vacinas (também elas compradas pela União Europeia) uma arma de propaganda, revelando uma completa incapacidade de planeamento, mesmo na fase previsivelmente mais fácil da vacinação. Um Governo que usou os Estados de Emergência (coniventemente aprovados pelo PSD) para implantação de medidas discricionárias de autoritarismo, sem qualquer ligação com a prevenção da propagação do vírus.
Em suma, um Governo absolutamente inábil no uso das armas (verdadeiramente excecionais) a que tem tido acesso e no qual nos preparamos para confiar milhões de euros, que poderiam ajudar os portugueses a recuperar dos efeitos devastadores da pandemia (e das medidas tomadas). O resultado só pode ser explosivo. Quem vier que limpe os destroços.
Nuno Filipe Agostinho Carrasqueira
Enfermeiro | Porta-voz da Iniciativa Liberal Pombal