PRIMEIRO ESTRANHA-SE, DEPOIS ENTRANHA-SE | A pandemia do medo

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Qual é o conceito de liberdade? Esta pode ser entendida de formas diferentes, evidentemente. A primeira coisa que vem à mente é, naturalmente, ser livre para fazer aquilo que quiser. Thomas Hobbes, filósofo inglês, define como liberdade como nada mais que a ausência de todos os impedimentos. Já John Locke, também filósofo inglês, acreditava que “Onde não há lei, não há Liberdade”.
Mas há um conceito de liberdade que vou desenvolver mais. Epicteto, filósofo grego estoico que viveu a maior parte da sua vida em Roma, como escravo, disse algo como “a liberdade é outra coisa senão poder viver como escolhemos? Nada mais. Digam-me então, vocês homens, vocês desejam viver em erro? Nós não. Ninguém que vive em erro é livre. Desejam viver com medo? Viver na tristeza? Viver em tensão? De modo algum. Ninguém que está num estado de medo, tristeza ou tensão está livre, mas quem está livre de tristezas, medos ou ansiedades, ao mesmo tempo está livre da servidão”. Segundo Epicteto, esta liberdade não chega à maioria das pessoas. Estas vivem 100% controladas pelos ambientes que estão, pelas circunstâncias ao seu redor, prisioneiras das suas próprias angústias.
De frisar que o medo, à semelhança da ansiedade, é um mecanismo de sobrevivência do nosso corpo. É o que precisamos para nos mantermos vivos. É involuntário e natural, e até a um certo ponto é saudável. Contudo existem medos, ansiedades, que acabam por nos aprisionar, principalmente em doses descomunais.
Falo, como exemplo, do momento que estamos a vivenciar atualmente. O Governo, com a ajuda da Comunicação Social, instaurou uma pandemia do medo. Somos constantemente bombardeados por mensagens alarmantes, como o grande aumento do número absoluto de casos positivos – que já seria espetável uma vez que foi uma altura que se testou mais, algo incentivado pelo Governo pelas várias medidas impostas – e como o ser humano fica tentado com grandes números, não dá importância aos outros números – ou a narrativa não dá tanto destaque a estes. Falo de óbitos, internados, UCI, que são bastante mais baixos, comparado com o ano anterior. Ou seja, não se justifica todo este alarmismo à volta.
Com todo este foco na pandemia, tudo o resto está a ser desprezado. Falo, por exemplo, do caso das crianças, que são o nosso futuro. Pelo terceiro ano consecutivo estão a ver a sua educação prejudicada, ora com um ensino à distância ineficiente com crianças sem meios para esse método de ensino, meios esses que foram tão prometidos pelo Governo e que não chegaram, ora pelo adiamento do regresso às aulas. À data que escrevo, a DGS não se compromete com a data de 10 de janeiro para o dito regresso, pois Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde, deixou em aberto a possibilidade de haver um novo adiamento, por causa do avanço da variante Ómicron. Variante essa que apesar de se propagar mais rapidamente é, aparentemente, menos perigosa que as variantes anteriores.
Já são vários os especialistas, e até o Presidente da República, que acreditam que estamos prestes a passar à fase de endemia. E que assim seja, pois se não morremos da doença, morremos da cura.

Cristiana Areia
Engenheira Química | Membro da Iniciativa Liberal Pombal

*Artigo de opinião publicado na edição impressa de 06 de Janeiro